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O fim das sardinhas

O número de barcos permanece girando em torno de 170. Muito barco para pouco peixe.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h03 - Publicado em 30 set 2003, 22h00

Patrícia Cornils e Mariana Lacerda

Cidade de Itajaí, Santa Catarina, junho. Um dos maiores matadores de peixe do país, mestre Luiz, o Pão de Milho, desliga o telefone irritado. “O Brasil parou. Ninguém come mais sardinhas, ninguém vende mais sardinhas. Acabou!” Pão de Milho, cujo trabalho é capturar peixes, pode nem desconfiar, mas sua indignação é a ponta do iceberg de uma longa história de destruição, que levou ao colapso da pesca da sardinha no Brasil. Sim, colapso da sardinha. O peixe, que já foi sinônimo de abundância, nadando em cardumes imensos, barato de tão comum, desperdiçado de tão barato, está sumindo. Ano a ano os volumes de pesca caem, apesar da frota pesqueira continuar do mesmo tamanho. O ano em que mais se pescou sardinha no Brasil foi 1973, com uma produção de 228 mil toneladas. Uma festa. O recorde negativo foi o do ano passado: 18 mil toneladas, 13 vezes menos. Estamos no patamar abaixo de 100 mil toneladas desde 1987 (1997 foi a exceção, com 117 mil, mas o otimismo não chegou a 1998).

O número de barcos permanece girando em torno de 170. Muito barco para pouco peixe.

Ao contrário do que muita gente pensa, isso não significa que os peixes vão sumir do mapa para sempre, ainda não. Se não houver estoque para sustentar economicamente a atividade pesqueira, empresas e empregos acabam antes. Ou se adaptam. No caso das empresas, importando sardinha da África e da Venezuela – enquanto há sardinhas por lá. No caso dos pescadores, mudando de presa. As traineiras estão passando a pescar tainhas, corvinas, anchovas. E da mesma forma: sem planejamento. Até que vai chegar o dia em que essas populações vão começar a acabar também. Não tem peixe que agüente. Uma solução? O biólogo Paulo Schwinguel, da Universidade do Vale do Itajaí, que estuda o ciclo reprodutor das sardinhas desde 1998 e é testemunha da corrida dos peixes contra o tempo, só vê uma saída: interromper a pesca, completamente, por pelo menos um ano.

Próximas à base da cadeia alimentar, as Sardinelas brasiliensis são animais que se alimentam de plâncton. Peixes como a cavala e as pescadas, carnívoros, se alimentam de sardinha. Se parte considerável da sardinha some do mar, um importante elo do ecossistema marinho é quebrado. E segue-se o efeito dominó de quando se mexe grosseiramente na dança da natureza: sem a sardinha, peixes que freqüentam a costa para comê-la passam a rarear e não estarão disponíveis no ecossistema – nem para a atividade pesqueira. Enquanto isso, vamos comendo o que resta.

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