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O que fazer com a educação pública? 3 lições para São Paulo

Pesquisa da Fundação Lemann detecta ilhas de excelência na educação pública. O que essas histórias de sucesso podem ensinar para o estado de São Paulo, que vive uma crise profunda na educação?

Por Denis Russo Burgierman
Atualizado em 8 mar 2024, 15h36 - Publicado em 2 dez 2015, 18h45

Enquanto a educação pública de São Paulo, o Estado mais rico do País, passa por uma grande crise, algumas dezenas de escolas pelo país conseguem resultados excelentes, mesmo em regiões pobres e com condições difíceis. A Fundação Lemann, uma organização dedicada à educação, divulgou esta semana a pesquisa Excelência com Equidade, que lista 35 escolas pelo Brasil, que, mesmo com sérios problemas sócio-econômicos, conseguem níveis de aprendizado altíssimos. A lista tem algumas lições que podem inspirar São Paulo, onde há cerca de 200 escolas ocupadas por alunos, em protesto contra a reestruturação imposta pelo governo do Estado.

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Lição número 1: Mudar de escola é sempre difícil

Uma constatação bem clara da pesquisa da Lemann é que quase todas as melhores escolas públicas do Brasil são lugares onde os alunos passam muitos anos – elas oferecem todo o ensino fundamental e médio, ou ao menos o fundamental inteiro, do 1º ao 9º ano. Dessa maneira, conseguem criar um projeto pedagógico claro que vai das primeiras letras e números até a preparação para o mercado ou a faculdade. Além disso, os alunos não precisam ficar trocando de escola no meio do ciclo, o que muitas vezes é um trauma, ainda mais para um pré-adolescente que tem nos amigos uma referência muito forte. “Mudar de escola é sempre um desafio”, diz o especialista em políticas públicas Ernesto Martins Faria, coordenador-geral da pesquisa da Lemann.

Nesse sentido, a reorganização proposta pelo governo de São Paulo vai na contramão da excelência, já que a ideia é separar as escolas em três tipos: as que oferecem os primeiros anos do fundamental (do 1º ao 5º), os anos finais (do 6º ao 9º) e o ensino médio. “Não está necessariamente errado”, diz Ernesto. “Realmente isso otimiza recursos e faz sentido pensar escolas com infraestrutura mais adequada para cada fase do aprendizado. Mas isso só dará certo se houver um projeto muito claro para suavizar essas quebras – o Estado tem que ter um plano para que o projeto pedagógico não se perca a cada vez que os alunos mudarem de escola.” Nada indica que esse plano exista.

 

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Lição número 2: Escola tem que ser parte da comunidade

Outro padrão que apareceu claramente entre as escolas públicas que se destacam no Brasil mesmo em condições difíceis é que elas costumam ser referências muito fortes para a comunidade. Um caso extremo é o da Escola de Ensino Fundamental Miguel Antônio de Lemos, em Pedra Branca (CE), a 260 km de Fortaleza, sobre a qual a SUPER fez esta reportagem. A escola de Pedra Branca é uma referência tão forte para a cidade que toda a população sente-se incentivada a participar do ensino das crianças, oferecendo aulas ou mesmo serviços a baixo custo. O resultado é que o índice de evasão é zero e os funcionários da escola são profundamente envolvidos na vida de cada criança.

Novamente esse é um ponto de atenção para o Estado de São Paulo, que pretende fechar várias escolas tradicionais, com laços antigos com a comunidade à sua volta. “O ensino público precisa mesmo mudar, e a preservação desse vínculo da comunidade com a escola não pode ser um empecilho para a inovação”, diz Ernesto. “Mas fechar uma escola que é uma referência forte só pode acontecer depois de muita conversa com a comunidade.” Não foi o que aconteceu.

 

Lição número 3: O aluno é o protagonista, o Estado ajuda

Um dos grandes problemas da educação contemporânea – não só na rede pública e não só no Brasil – é a dificuldade de envolver os alunos, de fazer com que eles sintam que aquilo é importante para eles. Para fazer isso, só tem um jeito: levar muito a sério as opiniões deles, deixá-los inclusive moldar em algum nível o ensino que é oferecido. “Neste sentido, o maior problema dessa reorganização talvez não seja o que eles querem fazer, mas o como”, diz Ernesto. A reestruturação foi decidida de cima para baixo, sem envolver a comunidade na discussão, passando a sensação de uma intervenção de burocratas na vida da escola. Natural que isso provoque uma reação negativa.

Na lista das escolas excelentes, mesmo em regiões carentes, dois Estados se destacam muito: Minas Gerais e Ceará. De um total de 35 escolas, 12 são cearenses e 15 mineiras. Ernesto diz que uma característica importante da educação pública nesses dois Estados é que, em ambos, há uma proximidade muito grande entre a administração e as escolas. “Em boa parte do Brasil, a secretaria de educação apenas vai lá, aponta o dedo, diz que está tudo errado e vai embora. Em Minas e no Ceará é diferente.” Lá, as secretarias de educação têm clareza do projeto pedagógico e são reconhecidas pelas escolas, inclusive porque ajudam a lidar com os problemas locais, em vez de apenas cobrar.

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