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Tundra e Florestas Boreais

O destino das últimas árvores no topo da Terra

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h04 - Publicado em 30 set 2004, 22h00

O derradeiro estágio antes da última floresta do topo do mundo transformar-se em gelo é uma extensa área de gramíneas com um subsolo permanentemente congelado e liquens, musgos e arbustos mirrados. É o que ocorre na maior área florestal da Terra: a floresta boreal que, a grandes altitudes ou quando se aproxima do Pólo Norte (aumento da latitude) se transforma em tundra. Juntas, essas duas imensas áreas selvagens têm três vezes o tamanho de toda a Amazônia. É nesses biomas que encontramos resquícios finais de vida no planeta antes do gelo absoluto. Lá, moram os esquimós, os ursos polares, tigres siberianos, leões-marinhos e toda a fauna que imaginamos sobreviver sob a neve.

Nas regiões de transição é possível ver pedaços densos de árvores serpenteados por falhas no solo e uma mistura de fauna e flora. O mais interessante é perceber que, no nível do mar, as áreas baixas perto do Círculo Polar Ártico têm as mesmas características de topos de montanha altíssimos. É a confirmação, a olhos nus, do formato redondo da Terra. A tundra domina praticamente todo o topo da América do Norte, Europa e Ásia. A mata boreal já aparece no meio desses continentes pegando a área do Alasca, do Canadá, da Finlândia, da Suécia e da Rússia.

A transição entre as duas vegetações é bem perceptível no interior do Parque Nacional de Denali, no estado do Alasca (Estados Unidos). A entrada do parque fica numa planície imensa, em altitude baixa, onde predomina a floresta boreal. Conforme-se avança para dentro da floresta, ganhando em latitude, ou para cima nas montanhas, elevando a altitude, a tundra ártica ganha espaço. Pouco a pouco, a luz e o colorido das árvores coníferas e sua folhagem verde e amarela, propiciada pelos pinheiros e folhas outonais, são substituídas pelas gramíneas. As árvores simplesmente param de crescer – existe até um simbólico limite onde fica a suposta última árvore das matas boreais na região.

Enquanto na floresta boreal o clima é subártico, com uma camada de neve cobrindo a paisagem por cerca de seis meses por ano, nas regiões de tundra ártica o verão dura no máximo dez semanas e o inverno (congelante e escuro) pode durar nada menos que dez meses.

Com tanto frio, o povoamento nesses lugares nunca foi significativo. Muito do norte do Canadá continua habitado por povos indígenas até os dias de hoje, assim como a floresta boreal na Eurásia. Os takuts, por exemplo, sobreviveram em grande número e são o mais numeroso grupo étnico da Sibéria. Os que vivem nas regiões florestais mantêm-se seminômades criadores de renas. O Alasca é o reduto dos esquimós e sua cultura. Exímios caçadores de mamíferos marinhos na costa e de alces no interior, suas presas não forneciam apenas carne, mas roupas e utensílios. O contato com o homem europeu, no entanto, fez com que seus costumes fossem mudados, suas presas caçadas pelos forasteiros e doenças nunca antes registradas, como a tubercolose, proliferaram. Como conseqüência, a população de esquimós foi drasticamente reduzida.

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A lei do mais forte prevalece nesses ambientes rudes e gelados, e os animais mais facilmente associados a eles são mamíferos de grande porte – como os alces, o bisão americano (apenas nas florestas boreais) o lobo cinza, e os ursos polares e marrons.

Apesar da aparência cativante, um encontro com ursos é um dos maiores perigos nessas regiões. Quando importunadas, essas feras podem ser extremamente agressivas. É importante não surpreendê-los: assustados, as possibilidades de um ataque fatal aumentam consideravelmente. Recomenda-se falar alto, fazer barulho e até mesmo cantar ao caminhar em áreas habitadas por ursos. Aproximar-se deles, então, nem pensar: no Alasca há uma lei que determina em meio quilômetro a distância mínima de proximidade para esses animais.

O único bicho capaz de enfrentar o urso é o tigre siberiano, seu inimigo número 1. Competidores por natureza, ambos gostam de caçar as mesmas presas, e às vezes até a si mesmos – um combate de pesos pesados. Apesar de estarem presentes nos dois ambientes, os ursos polares têm na tundra ártica seu verdadeiro paraíso. Esses gigantes podem alcançar 2,5 metros de altura e 800 quilos. A população de ursos polares está entre 22 mil e 27 mil indivíduos, a maioria no Canadá.

Longe de terem a força dos ursos, as aves mostram sobrevivência admirável nessa atmosfera gelada. Uma simples andorinha é capaz de realizar a maior migração de um pássaro na Terra, viajando 20 mil quilômetros de pólo a pólo para fazer seus ninhos. Essas espécies raramente conviveram com o escuro da noite em suas vidas, pois chegam em ambos os pólos a tempo de aproveitar somente os dias intermináveis de verão.

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Área total – 25 049 500 km²

Área intacta – 85%

Área protegida – 9,3%

Conservação e ameaça

Regiões temperadas sempre tiveram seus hábitats mais modificados ao longo do tempo do que as tropicais. A floresta boreal e a tundra ártica, no entanto, parecem ser uma exceção à regra, principalmente pelo clima não muito convidativo à permanência dos homens. Ainda assim, faltam esforços para manter as áreas protegidas. Nos Estados Unidos, apenas os hábitats de tundra e matas boreais do Alasca permanecem relativamente intactos, com 194 mil quilômetros quadrados de área protegida. Um bom exemplo de como a proteção de terras por meio da lei pode salvar a vida selvagem é o lago Baikal, na Sibéria, com 1.620 metros de profundidade – o mais profundo do mundo. Lar de 1200 espécies endêmicas, incluindo a única foca de água doce do mundo, a Baikal, o lago teve a área que o circunda transformada em reserva natural em 1969, salvando-o da degradação. Historicamente, a caça de animais sempre foi, o maior problema da região, levando à extinção espécies incríveis, como a vaca-marinha de Steller, um dócil e indefeso animal que alcançava os 8 metros de comprimento, infelizmente, extinto no século 18. Hoje em dia, estão entre as grandes ameaças a exploração comercial de madeira e minerais e a instalação de fábricas. A longo prazo, porém, o aquecimento global será o grande inimigo da região: a floresta boreal pode expandir, diminuindo o espaço da tundra e acabando com ecossistemas de diversas espécies.

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