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O que é feminismo?

O movimento ganhou evidência nos últimos anos, mas não é novo. Conheça a trajetória, as lutas, os pontos de vista, e os dados que mostram sua importância

Por Gabriela Monteiro
Atualizado em 22 fev 2024, 10h04 - Publicado em 28 jun 2018, 17h35

UMA BREVE HISTÓRIA DO FEMINISMO

Na França revolucionária de 1791, a dramaturga Olympe de Gouges organizou, junto de outras mulheres, uma resposta à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, feita dois anos antes. A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã pedia direito ao voto e à propriedade e acesso às instituições políticas. De Gouges foi guilhotinada em 1793, sob o argumento de ter traído a natureza de seu sexo.

Nos séculos 18 e 19, as ideias sobre o direito ao voto ganharam força. Em 1897, a britânica Millicent Fawcett fundou a União Nacional pelo Sufrágio Feminino. A grande vitória veio em 1918, quando o voto feminino foi legalizado no Reino Unido. A vitória se deve, em boa parte, à participação ativa das mulheres na 1ª Guerra, ganhando mais respeito na sociedade. Um ano depois, os EUA seguiram o exemplo.

No Brasil, as mulheres só ganharam direito ao voto em 1932. Exatos cem anos depois da publicação do primeiro livro a tratar do assunto no pais:  Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens, da potiguar Nísia Floresta.

A partir da década de 1940, pautas como a legalização do aborto, o fim da violência sexual e o combate a papéis sociais impostos às mulheres, como ser mãe e dona de casa, entraram na agenda. A pílula anticoncepcional simbolizou o período, marcado pela maior pluralização dos discursos – não por acaso, nos anos 80, o feminismo negro, liderado por Angela Davis, ganhou força.

O feminismo contemporâneo começou na década de 1990. Alguns pontos se destacam, como o discurso pela propriedade do corpo e as questões de gênero. Assim, o discurso do “meu corpo, minhas regras” abriu precedentes para o “meu corpo biológico não dita minha escolha de gênero”. O corpo é a questão central, e o que fazer com ele é uma escolha individual.

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POR QUE SER FEMINISTA?

Os números sobre violência e disparidades no mercado de trabalho mostram por que todo mundo (e não só as mulheres) precisa do feminismo.

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OS DIFERENTES TIPOS 

A internet propiciou o surgimento de ambientes muito mais amplos para os debates e disseminação de ideias. Com isso, surgiram diferentes interesses e vertentes dentro do feminismo contemporâneo. Nenhum deles quer acabar ou anular o outro: são propostas de caminhos diferentes para atingir o bem comum, a igualdade. Veja quais são eles.

Interseccional
Tem o debate mais pluralizado, pois busca aliar demandas de diferentes minorias. Segundo a americana Kimberlé Crenshaw, pesquisadora de estudos de gênero e raça, é “a visão de que mulheres experimentam a opressão em configurações variadas e em diferentes graus de intensidade. Exemplos: raça, gênero, classe, capacidades físicas/mentais e etnia.”

Liberal
O nome deriva das intenções econômicas e sociais. As liberais acreditam que igualdade de gênero só se atinge por meio de reformas políticas, legais e econômicas. Incorporar os homens ao movimento não só é permitido como é incentivado.

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Negro
Surgiu na década de 1980 com o preceito de que a mulher negra é duplamente vítima, do machismo e do racismo. O movimento abarca pautas como a intolerância religiosa, o extermínio de jovens negras e negros e o academicismo feminista, que deixa o debate pouco acessível.

Radical
É o tipo mais complexo, cheio de diferentes correntes dentro de si. Conhecidas como radfem, elas se definem assim por se conectarem à raiz das questões (a palavra “radical” vem de “raiz”). Redistribuição de papéis socioeconômicos, exclusão de homens e transexuais do movimento e abolição da prostituição e da pornografia são algumas das lutas dessa vertente.

Socialista
O vilão a ser combatido é o capital, pois é ele que impede a igualdade de oportunidades. Para elas, o capitalismo alimenta uma situação econômica em que as mulheres dependem economicamente dos homens, sempre mais inseridos na lógica do mercado.

(Deborah Maxx/Mundo Estranho)

BE-A-BÁ FEMINISTA

O ambiente digital popularizou verbetes que ajudam na compreensão das causas. Mas você sabe o que eles significam?

Bropriating
Apropriação de algo por um homem (do inglês “bro”, irmão + “appropriating”, apropriação). Usado quando um homem se apropria de uma
ideia levantada por uma mulher.

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Empoderamento
Tomada de poder do indivíduo, o resgate de sua dignidade e o reconhecimento de sua importância. “Empoderar-se” é o ato de adquirir poder. Quando trazido para o âmbito feminista, é adquirir poder como mulher. O termo, um dos mais procurados no Google em 2016, foi criado pelo educador Paulo Freire, que se inspirou em empowerment (“fortalecimento”, em inglês).

Feminicídio
Crime de ódio contra mulheres e meninas em função do menosprezo à condição feminina. O termo jurídico, um agravante penal ao crime de homicídio, foi difundido pela escritora sul-africana Diana E.H. Russell (“femicide”, em inglês).

Gaslighting
Prática do homem que convence uma mulher de que ela não está com o domínio da razão (o famigerado “você está louca!”), algo comum em relacionamentos abusivos. O termo foi retirado do filme Gaslight (À Meia Luz, no Brasil), de 1944. Nele, um homem convence a esposa (Ingrid Bergman, que ganhou o Oscar pelo papel) de que ela está insana, para tomar sua fortuna.

Mansplaining
Prática de homens que se dedicam a explicar algo a mulheres de forma condescendente e sem serem solicitados. O termo, que vem de “man” + “explaining” (“explicando”), tem origem incerta. Alguns atribuem à escritora Rebecca Solnit, autora de Os Homens Explicam Tudo para Mim.

Manspreading
Do inglês “man” (“homem”) + “spreading” (“espalhando”), é o hábito de um homem que ocupa um espaço desproporcionalmente maior, com as pernas exageradamente abertas, em locais públicos, especialmente em meios de transporte. O termo surgiu em 2014 em um blog dos EUA. No mesmo ano, o metrô de Nova York passou a alertar os passageiros a fecharem as pernas.

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Manterrupting
Do inglês “man” + “interrupting” (“interrompendo”). Ou seja, homens que interrompem. É um comportamento comum em reuniões, quando uma mulher não consegue concluir um argumento. Surgiu no artigo “How Not to Be ‘Manterrupted’ in Meetings”, publicado na revista Time em 2015.

Patriarcado
Modelo sociopolítico em que o gênero masculino e a heterossexualidade exercem supremacia e poder sobre os demais.

Objetificação
Reduzir uma pessoa à condição de coisa. Na sociedade patriarcal, é usado para tratar a mulher como objeto sexual, limitando-a aos seus atributos físicos.

Sororidade
União entre as mulheres, em que prevalece a ideia de respeitar, ouvir e dar voz a todas, mesmo quando não há concordância. Trata-se de estreitar os elos femininos e fortalecer a empatia para dar força e organização ao movimento. É o preceito básico da luta, pois ele parte de um ambiente feminino e feminista. Ele serve também para combater a ideia de que mulheres são rivais. O termo vem do latim soror, que significa “irmã”. Nos EUA, sororities são organizações sociais em universidades compostas só de mulheres.

(Deborah Maxx/Mundo Estranho)

MAQUIAGEM Juliana Araújo
FOTOS Deborah Maxx
CONSULTORIA Ana Maria Colling, historiadora da USP, Maíra Liguori, presidente da ONG Think Olga, Patrícia Vanzolini, advogada criminalista, Renato Cancian, cientista social especializado em educação, e Thomaz Dagnese Giglio, advogado cível e empresarial
FONTES Livros Feminismo em Comum para Todas, Todes e Todos, de Marcia Tiburi, Sejamos Todas Feministas, de Chimamanda Ngozi, e Dicionário Crítico de Gênero, de Ana Maria Colling e Losandro Tedeschi; sites Arquivo N, BBC, Buzzfeed, Catho, CLAUDIA, EBC, Datafolha, FGV, Folha de S.Paulo, Fórum Econômico Mundial, HuffPost, Independent, Ipsos, The New York Times, OCDE e OIT

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