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Bate, bate, coração

No peito existe um músculo do tamanho de um punho capaz de bombear 300 milhões de litros de sangue ao longo da vida. Se ele não for bem tratado, pode parar de funcionar a qualquer momento sem nenhum aviso.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 31 mar 2006, 22h00

Tum, tum, tum, tum, tum. Durante os 70 anos que dura em média uma vida, o coração bate mais de 2,5 bilhões de vezes, a um ritmo médio de 70 pulsações por minuto, e bombeia 224 milhões de litros de sangue para o corpo de um homem e mais de 295 milhões para o de uma mulher (as mulheres têm esperança de vida maior). Dito de outro modo, nossa bomba vital movimenta o equivalente a 435 toneladas de sangue até que, enfim, pare de funcionar.

O coração faz circular o sangue, que realiza uma longa lista de atividades fisiológicas: fornece oxigênio e alimento a todos os órgãos e tecidos, elimina o gás carbônico produzido pela atividade celular, distribui calor, transporta hormônios e outros mensageiros químicos, serve de estrada por onde circulam as células de defesa do sistema imunológico e executa a ereção do pênis e o estímulo ao clitóris durante a excitação sexual. Cheia de tarefas, essa bomba vital surge como o músculo mais trabalhador e infatigável do corpo humano: ele gera uma quantidade de energia suficiente para mover um caminhão por 32 km. Mas, claro, ele não age sozinho. O cérebro detecta as condições a nosso redor, como a situação climática, os fatores de estresse e o nível de atividade física e regula o aparelho circulatório de forma a satisfazer as necessidades de nosso organismo sob tais circunstâncias.

Não é de estranhar que os cardiologistas considerem nosso coração uma obra-prima da natureza e o mais resistente engenho conhecido. Até hoje o homem não conseguiu fabricar uma máquina que funcione ininterruptamente durante mais de um século e com uma quantidade mínima de partes móveis, quase indestrutíveis. Se não traz nenhum defeito de fabricação nem sofre um grave acidente ou é maltratado, nosso coração pode palpitar durante tanto tempo quanto o de Elizabeth Bolden, a norte-americana que, com 114 anos, é considerada a pessoa mais velha do mundo, segundo o Guinness World Records.

Um terço das mortes

Bem, mas nosso coração de ferro também tem seu calcanhar-de-aquiles. Do contrário, não se explicaria que as doenças cardiovasculares sejam a primeira causa de morte no mundo ocidental. Em todo o mundo, 17 milhões de pessoas morrem em decorrência dessas doenças, que representam um terço da mortalidade total. No Brasil, elas também são responsáveis por mais de um terço da mortalidade total. A cada ano cerca de 350 mil pessoas perdem a vida por causa de doenças no aparelho circulatório, sendo que mais da metade (55%) são homens e o restante (45%) são mulheres.

Em geral, as doenças cardiovasculares evoluem de maneira silenciosa durante anos ou até mesmo décadas sem que o paciente perceba que tem uma bomba-relógio prestes a explodir. É assim que se manifestam as três doenças cardíacas mais freqüentes: a cardiopatia isquêmica, que consiste em uma redução ou privação do aporte sanguíneo ao miocárdio e evolui para uma angina de peito ou um infarto; a insuficiência cardíaca, que ocorre quando o coração perde a capacidade de bombear uma quantidade suficiente de sangue para todo o organismo; e o acidente vascular cerebral, que se manifesta por uma grave lesão obstrutiva ou ruptura nos vasos sanguíneos que irrigam a cabeça. No Brasil, a cada minuto morre uma pessoa vítima de doença cardiovascular. As estimativas dos especialistas são de um aumento de 150% na mortalidade por infarto cardíaco ou acidente vascular cerebral no país até 2025.

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Infelizmente, os corações lesados, assim como as veias e artérias destroçadas, não são fáceis de consertar. Às vezes os danos podem ser contidos com um tratamento medicamentoso, é possível acompanhar sua evolução ou possíveis complicações com as técnicas de imagens médicas e existe a possibilidade de eles serem remendados temporariamente com uma cirurgia, como a ponte de safena e a angioplastia. Quando a lesão não é tratável, há duas opções: o implante de um coração doado ou de um artificial. A primeira é limitada e a segunda está em fase experimental. Em países como o Brasil, essa última nunca foi realizada. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a cada ano são feitos em todo o mundo cerca de 4 mil transplantes de coração, um número insuficiente, levando-se em conta que são 50 mil pacientes à espera de um órgão salvador. No Brasil, o número de transplantes de coração é incerto, assim como a necessidade do número de doadores.

A esperança mais imediata está depositada na engenharia genética, que investiga a maneira de induzir a auto-regeneração do tecido necrótico, isto é, que foi morto durante o acidente cardiovascular, e estimular o crescimento de novos vasos sanguíneos nas regiões dos corações enfartados. Como? Por meio de uma injeção de células-tronco nas zonas lesionadas. Essas células são tomadas da medula óssea e do músculo esquelético do próprio paciente e poderiam até mesmo ser extraídas do coração.

Ainda que os experimentos clínicos com células-tronco sejam promissores, a auto-reparação cardíaca ainda está em fase inicial de estudos. Enquanto não chega, a melhor forma de manter o coração saudável é a prevenção. Um dos objetivos principais é evitar a aterosclerose, um processo inflamatório que se caracteriza pela acumulação progressiva de lipídios e elementos fibrosos nas grandes artérias. Se não for interrompido, a passagem do vaso se estreita perigosamente e, em situações extremas, pode resultar no desprendimento de um trombo (coágulo) que interrompe o fluxo do sangue. Se o entupimento afetar as artérias coronárias, aparece o fantasma da angina ou do infarto agudo do miocárdio. Quando acontece num vaso cerebral, há o risco de um acidente vascular cerebral. O geneticista Aldons J. Lusis, do Departamento de Medicina da Universidade da Califórnia em Los Angeles, EUA, estima que “a aterosclerose é a causa subjacente de metade de todas as mortes”.

Fatores de risco

Determinados fatores de risco favorecem a formação dessas placas de aterosclerose no interior das artérias e a aparição de complicações cardiovasculares. Alguns são imutáveis, como a hereditariedade, a idade e o sexo. Os cientistas sabem que certos indivíduos nascem com a propensão inata a desenvolver doenças do coração. “Dentro de alguns anos, se compreenderá o mapa do DNA humano de forma a identificar que fatores criam a propensão das pessoas às doenças cardiovasculares”, diz Raimundo Marques do Nascimento Neto, professor do Núcleo de Pesquisas Cardiovasculares da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e coordenador do Atlas – Corações do Brasil, o primeiro estudo a trazer um panorama dos fatores de risco cardiovascular na população brasileira. “Com um fio de cabelo será possível traçar o mapa genético de cada pessoa. Poderemos antecipar as mudanças no estilo de vida necessárias para evitar uma doença cardiovascular. O tratamento será personalizado e não massificado, como hoje”, afirma o médico.

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O simples fato de ser homem já é um fator de risco importante no caso de problemas cardíacos. Isso porque os hormônios masculinos, ou seja, os andrógenos, estimulam os genes que aceleram o depósito de colesterol nos vasos sanguíneos, segundo revela um estudo realizado na Austrália. A saúde cardíaca, no entanto, não depende apenas do acaso genético. Seu controle está em nossas mãos. “A adoção de um estilo de vida saudável é o que de fato tem a capacidade de evitar ou acelerar o aparecimento de doenças cardiovasculares”, afirma Nascimento Neto. Mas o que são hábitos saudáveis para o coração? Basicamente consiste em controlar certos fatores de risco associados ao problema cardíaco que se instalaram perigosamente na sociedade contemporânea. A hipertensão, a obesidade, o tabagismo, a falta de atividade física, o estresse contínuo, o excesso de colesterol e a diabetes são citados como os maiores inimigos do coração.

A boa notícia é que podemos prevenir as doenças do aparelho circulatório de uma maneira simples e radical. Numerosos estudos revelam que, para reduzir pela metade ou mais o risco de sofrer um infarto ou um acidente vascular cerebral, é importante deixar de fumar, realizar exercícios físicos regularmente e passar menos horas em frente à TV, diminuir o estresse diário, abandonar a má alimentação e a comida do tipo fast-food (rica em colesterol ruim) em favor de uma dieta repleta de verduras, frutas, cereais, legumes e peixes, checar regularmente a pressão sanguínea e, no caso dos diabéticos, controlar a doença. Um estudo publicado na revista The Lancet aponta que a adoção dessas medidas saudáveis diminui as complicações em nada menos do que 90%. Agora é com você. n

Adaptação Lia Hama

Os maiores inimigos

O que você pode fazerpara reduzir a possibilidadede doenças cardíacas

Certos fatores de risco cardiovascular, como a idade e a hereditariedade, são inerentes e impossíveis de modificar. Outros, no entanto, estão ligados ao estilo de vida e podemos alterá-los.

INVARIÁVEIS

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Idade

Quatro entre cinco pessoas que morrem por causa de uma complicação cardíaca são maiores de 65 anos. O risco de sofrer um acidente vascular cerebral se duplica a cada década depois dos 55 anos.

Sexo

Durante a juventude, o homem apresenta maior risco que a mulher de sofrer um infarto. Essa diferença se reduz quando a mulher entra na menopausa devido à queda de estrógenos e se iguala depois dos 65 anos.

Hereditariedade

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Filhos de pais com problemas cardiovasculares têm maior risco de sofrer esse tipo de doença do que o restante da população.

MODIFICÁVEIS

Tabagismo

Os fumantes têm o dobro de risco de ter um infarto, assim como de morrer durante um ataque cardíaco. A nicotina e o monóxido de carbono do tabaco prejudicam o sistema cardiovascular.

Álcool

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O abuso de bebidas alcoólicas aumenta a pressão arterial, o peso corporal e os níveis de triglicérides no sangue.

Drogas

Certas drogas intravenosas são nocivas ao coração. A cocaína, por exemplo, altera o ritmo cardíaco.

Colesterol

Um alto nível no sangue do chamado colesterol ruim, isto é, o que está associado às lipoproteínas de baixa densidade (LDL), favorece a aparição de complicações cardíacas.

Pressão arterial

A hipertensão arterial predispõe uma pessoa a sofrer uma doença do coração, um infarto ou um acidente cardiovascular.

Diabetes

Mais de 80% dos diabéticos morrem por complicações do sistema circulatório.

Obesidade

Ela aumenta a probabilidade de adquirir outros fatores de risco cardiovasculares, como a hipertensão, a hipercolesterolemia e a diabetes.

Sedentarismo

Quem não move as pernas não move o coração. O exercício físico afasta o fantasma do infarto.

Estresse

A incidência de infartos é maior em indivíduos impulsivos, violentos, ambiciosos e estressados.

Nossa bomba vital

O coração bombeia o sangue para que ele circule por todo o corpo, levando oxigênio e nutrientes necessários às células que sustentam as atividades orgânicas.

O coração humano é formado quase na sua totalidade pelo miocárdio, um músculo de cerca de 300 g cujo espaço central se encontra dividido em quatro cavidades separadas por válvulas e paredes finas. Essa divisão faz com que, na realidade, tenhamos duas bombas vitais: um coração direito, que envia sangue para os pulmões, e um coração esquerdo, que faz o mesmo até os órgãos periféricos. Por sua vez, cada um desses corações constitui uma bomba pulsante de duas cavidades, composta por uma aurícula e um ventrículo. A primeira funciona como uma minibomba, que ajuda a transportar o sangue para o interior do ventrículo e esse, por sua vez, se contrai vigorosamente para bombear o fluido vital em direção aos pulmões para realizar a troca gasosa ou em direção às células mais remotas do corpo. Perfeitamente sincronizadas, as quatro câmaras administram, com suas batidas, os cerca de 6 litros de sangue corporal através de uma vasta rede de artérias, arteríolas, veias e capilares que, se fosse colocada em linha reta, cobriri 80 mil km – o equivalente a mais de 185 vezes a distância entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

Teste

Avalie como está seu coração

O questionário abaixo, chamado de Teste de Framingham, permite aos médicos medir o risco que um paciente tem de sofrer de uma doença coronária nos próximos dez anos.

Atenção: o resultado que você obtiver é meramente orientativo. Só o médico pode fazer uma avaliação precisa.

1 – IDADE E SEXO

Qual sua idade?

MulherPontos

30 anos[ ] -12

31[ ] -11

32[ ] -9

33[ ] -8

34[ ] -6

35[ ] -5

36[ ] -4

37[ ] -3

38[ ] -2

39[ ] -1

40[ ] 0

41[ ] 1

42-43[ ] 2

44[ ] 3

45-46[ ] 4

47-48[ ] 5

49-50[ ] 6

51-52[ ] 7

53-55[ ] 8

56-60[ ] 9

61-67[ ] 10

68-74[ ] 11

HomemPontos

30 anos[ ] -2

31[ ] -1

32-33[ ] 0

34[ ] 1

35-36[ ] 2

37-38[ ] 3

39[ ] 4

40-41[ ] 5

42-43[ ] 6

44-45[ ] 7

46-47[ ] 8

48-49[ ] 9

50-51[ ] 10

52-54[ ] 11

55-56[ ] 12

57-59[ ] 13

60-61[ ] 14

62-64[ ] 15

65-67[ ] 16

68-70[ ] 17

71-73[ ] 18

74[ ] 19

2. SANGUE

Qual seu nível de HDL (lipoproteínas de alta densidade)?

Nível (mg/dl)Pontos

De 25 a 26[ ] 7

De 27 a 29[ ] 6

De 30 a 32[ ] 5

De 33 a 35[ ] 4

De 36 a 38[ ] 3

De 39 a 42[ ] 2

De 43 a 46[ ] 1

De 47 a 50[ ] 0

De 51 a 55[ ] -1

De 56 a 60[ ] -2

De 61 a 66[ ] -3

De 67 a 73[ ] -4

De 74 a 80[ ] -5

De 81 a 87[ ] -6

De 88 a 96[ ] -7

Qual seu nível de colesterol total?

Nível (mg/dl)Pontos

De 139 a 151[ ] -3

De 152 a 166[ ] -2

De 167 a 182[ ] -1

De 183 a 199[ ] 0

De 200 a 219[ ] 1

De 220 a 239[ ] 2

De 240 a 262[ ] 3

De 263 a 288[ ] 4

De 289 a 315[ ] 5

De 316 a 330[ ] 6

3. PRESSÃO ARTERIAL

Qual é normalmente sua pressão arterial sistólica (alta)?

Nível (mmHg)Pontos

De 98 a 104[ ] -2

De 105 a 112[ ] -1

De 113 a 120[ ] 0

De 121 a 129[ ] 1

De 130 a 139[ ] 2

De 140 a 149[ ] 3

De 150 a 160[ ] 4

De 161 a 172[ ] 5

De 173 a 185[ ] 6

4. TABAGISMO

Você fuma cigarro de forma habitual?

Sim[ ] 4

Não[ ] 0

5. DIABETES

Você é uma pessoa diabética?

Não[ ] 0

Sim (Homem)[ ] 3

Sim (Mulher)[ ] 6

6. TRANSTORNOS DO CORAÇÃO

Seu médico diagnosticou em você hipertrofia ventricular esquerda?

Não[ ] 0

Sim[ ] 9

Resultado

Some os pontos positivos em cada umas das seis questões e subtraia os pontos negativos. Confira abaixo, de acordo com seu sexo, o risco que você tem de sofrer uma complicação cardíaca nos próximos dez anos: muito baixo (branco), baixo (amarelo), moderado (azul), alto (verde), muito alto (vermelho). A partir do azul, é bom informar o resultado a seu médico.

Mulheres

• Entre 0 e 14

• Entre 15 e 16

• Entre 17 e 22

• Entre 23 e 24

• Mais de 25

Homens

• Entre 0 e 7

• Entre 8 e 10

• Entre 11 e 14

• Entre 15 e 16

• Mais de 17

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