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Festa de arromba: os efeitos do réveillon no corpo humano

O que acontece no seu organismo numa festa de réveillon

Por Lúcia Helena de Oliveira
Atualizado em 21 dez 2018, 15h28 - Publicado em 30 nov 1995, 22h00

Dezembro é mês de festejar e isso significa submeter a saúde a uma maratona. Quanto maior a animação, maior o desafio: cérebro, fígado, estômago, células defensoras, até coração trabalham cada vez mais freneticamente, enquanto o festeiro se diverte.

O folião nem desconfia que o maior agito não está ao seu redor e sim dentro dele próprio. Veja aqui o que acontece em um réveillon e tenha boas festas, quer dizer, aguente firme!

21h30 – Pronto para fugir

A campainha da casa do anfitrião é um alarme para o cérebro do convidado, que dispara mensageiros químicos rumo a duas glândulas acima dos rins, as supra-renais. Ao receber o aviso, elas despejam os hormônios do estresse: a adrenalina, que acelera o coração, e os glicocorticóides, que retiram nutrientes das células. Tudo para mandar mais sangue e combustível aos músculos, deixando o corpo preparado para dar no pé, caso encontre uma surpresa desagradável do outro lado da porta. É um mecanismo de defesa inevitável.

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21h40 – Água na boca

Os olhos captam a imagem perturbadora de uma bandeja de salgados. A boca, então, fica cheia de saliva, que é 99,5% água, para transformar o petisco numa papa fácil de ser engolida. O líquido contém ainda enzimas para quebrar as moléculas de amido, presentes na massa de uma empadinha, por exemplo.

Mas esses preparativos podem ser em vão, se a oferta do garçom é recusada. “A digestão é acionada só de se ver comida, mesmo quando não estamos com fome”, explica o fisiologista Francisco Gacek, professor da Universidade de São Paulo.

21h45 – Primeiros goles

No estômago, a bebida alcoólica estimula a secreção do suco gástrico, quebrador de proteínas. Por isso, ela ajuda na digestão. Mas se a barriga está vazia o suco gástrico ataca o próprio estômago, provocando uma azia. E a pessoa fica tonta depressa, pois o álcool logo vai parar no sangue.

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Circulando, as moléculas alcoólicas confundem os neurônios do cérebro, antes de serem destruídas lentamente pelo fígado. Se o convidado come tira-gostos gordurosos, aguenta mais tempo sem sentir tontura, porque a gordura retarda a absorção do álcool.

21h50 – Bate-papo

No cérebro, a circulação sanguínea fica mais intensa na área do hipocampo e na superfície escura chamada córtex. Isso porque é preciso resgatar a memória de filmes, livros, situações curiosas, viagens, enfim, tudo o que possa servir de assunto para alimentar uma conversa. Existem recordações gravadas em todo canto cerebral, mas a gente só tem consciência delas quando alcançam o córtex. Já o hipocampo participa da gravação de novos arquivos, como a lembrança do rosto de quem participa da discussão.

22h00 – Depois da piada

Será que a brincadeira agradou? Segundo o psicólogo Ailton Amélio da Silva, da Universidade de São Paulo, na gargalhada legítima os cantos da boca sobem, empurrando as pálpebras inferiores para cima. “Os músculos em torno dos olhos também se contraem, deixando-os semi-fechados.”

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Já na risada falsa, a boca se estica para as laterais da face, sem apertar os olhos, que continuam arregalados. Só o riso verdadeiro, porém, faz as células cerebrais reagirem com uma descarga de endorfinas, calmantes naturais.

22h30 – Sinais de paquera

Os olhos flagram alguém atraente e, sempre que é surpreendido, o coração bate mais forte. O corpo, então, bota para rodar o seu programa de charme, que é diferente conforme o sexo. “As mulheres tocam bastante os cabelos e mostram as palmas da mão enquanto falam. Já os homens estufam o peito”, diz Ailton Amélio da Silva, que observou quase 200 casais nessa situação. Olhos nos olhos são outro sintoma do casal paquerador. As pupilas se dilatam, obedecendo involuntariamente as ordens do cérebro seduzido.

23h00 – Efeitos da gula

De novo, o olhar aciona a digestão, agora diante da ceia. O estômago começa a se movimentar. A chegada de comida acelera o rebolado estomacal, que serve para misturar tudo com o suco gástrico. Mas ao se exagerar no prato o estômago lotado fica com as paredes tão esticadas, que mal podem se mexer. Resultado: peso na barriga. O alívio demora, porque não é fácil para o intestino quebrar as gorduras, comuns nos cardápios de fim-de-ano. Assim, ele fecha a sua entrada e só passa um pouco de comida por vez.

Meia-noite – Feliz ano novo…

Todos cantam e começam a falar alto. O som captado pelos ouvidos deve ser decifrado na região temporal do cérebro. Esse não quer nem saber se toda a barulheira é sinal de alegria. O sistema nervoso gosta que falem baixinho. Volumes altos são interpretados como sirenes de alerta. Outra vez caem no sangue os hormônios do estresse. Os batimentos cardíacos aumentam e o pulmão passa a trabalhar mais rápido para fornecer oxigênio. O desgaste só tem fim quando a poluição sonora termina.

2h00 – Nariz confuso

O ar está saturado de moléculas odoríferas desprendidas de pessoas e objetos. Elas são analisadas por 25 milhões de células no fundo do nariz, que enviam sinais elétricos ao bulbo olfativo no cérebro. Mas, cansadas, as células mandam mensagens confusas e, por isso, nessas alturas só se decifram cheiros fortes, como o do cigarro. A fumaça desse, aliás, carrega moléculas de nicotina para o sangue de todos os presentes, por meio da respiração. Aumenta a trabalheira do fígado incumbido de liquidá-las.

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2h30 – Faxina interna

Enquanto dura a folia, as células defensoras do sistema imunológico não têm sossego. É assim sempre que se enfrenta uma pequena multidão: o corpo entra em contato com micróbios alheios e partículas de poeira que os sapatos levantam do chão.

Calma, raramente alguém começa o ano doente, porque as defesas são recrutadas para fazer uma limpeza mal um agente estranho entra nos pulmões, na boca ou numa brecha da pele. A célula macrófago é a que mais trabalha, engolindo e derretendo os invasores.

4h00 – Fim de festa

Por mais que se tente vencer o sono, o sistema nervoso cansado fala mais alto, espalhando sinais de fadiga no corpo. Os ombros ficam caídos e as pálpebras, idem. A voz perde a força. A memória não registra os acontecimentos direito. O estômago continua quase paralisado. O fígado não consegue ter folga, principalmente por causa do álcool e das gorduras. Os músculos estão tombados. O sistema imunológico, à beira do esgotamento. O corpo termina em frangalhos, mas quem festejou sai delirantemente feliz.

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