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Sob pressão: hipertensão

Descobertas recentes abrem perspectivas de cura para a hipertensão, um mal que atinge 12 milhões de brasileiros e triplica as chances de uma pessoa ter infarto.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h39 - Publicado em 30 nov 1994, 22h00

Ivonete D. Lucírio, Lúcia Helena de Oliveira

Todos os dias, trafegam pelas artérias cerca de cinco litros de sangue. Dentro de vasos saudáveis, o passeio é confortável. Mas não para os hipertensos, aqueles que sofrem de pressão alta. Seu sangue viaja apertado, como automóveis num túnel congestionado. A circunferência interna das artérias, chamada luz, diminui e deixa menos espaço para os passageiros que, então, começam a pressionar as paredes. Muitas vezes a pessoa nem sabe que tem o problema e os sintomas, como dor de cabeça, falta de ar e distúrbios na visão, só surgem quando o estado já é grave.

Calcula-se que, no Brasil, há aproximadamente 12 milhões de pacientes hipertensos. Desses, só 2 milhões estão em tratamento. Nos Estados Unidos, existem cerca de 50 milhões de pessoas com pressão alta. A Medicina quer saber o que os vasos dos hipertensos têm de diferente em relação aos de quem é saudável, com pressão ao redor de 12 por 8. Uma descoberta recente é que a hipertensão pode ser comparada a um envelhecimento precoce. As lesões que ela causa nos vasos são muito parecidas com as que ocorrem na velhice. Tanto em hipertensos de qualquer idade quanto nos idosos, é grande a incidência da arterosclerose — um terrível endurecimento das artérias. Isso mostra que a hipertensão pode ser uma doença com raízes mais profundas, que têm a ver com o próprio desenvolvimento do organismo.

A pressão sangüínea aumenta quando a artéria se contrai. É verdade. Mas não é tudo. Agora já se sabe que as paredes dos vasos dos hipertensos são 20% mais grossas do que o normal e chegam até a dobrar de espessura. Como isso acontece ainda é um mistério. O fato é que, numa das três camadas da parede do vaso — a média — , as células se distribuem de um jeito diferente. E isso está animando alguns pesquisadores. “Será que as alterações são reversíveis?”, pergunta-se Ernesto Schiffrin, chefe de uma equipe no Instituto de Pesquisas de Montreal, no Canadá.

“Se conseguirmos uma droga que corrija as alterações, teremos a cura de um problema até agora sem solução”, afirma Schiffrin. Hoje, existem três remédios para hipertensão: beta-bloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio e diuréticos, que ajudam a eliminar sal. Mas há um problema: se a pessoa deixar de tomá-los, o aperto nas artérias reaparece.

Pior: essas drogas evitam infartos e derrames cerebrais, males comuns nos hipertensos. Porém, não são eficientes contra a isquemia — quando os minúsculos vasos do coração ficam deformados. O órgão recebe menos sangue e não funciona direito.

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“Até agora, só um remédio parece reverter as lesões dos pequenos vasos”, conta Schiffrin. “É o cilazapril, novidade usada com cautela pelos médicos.” Ele reduz a quantidade de uma substância no organismo — a angiotensina II — que contrai os vasos e aumenta sua espessura.

Ninguém morre de hipertensão, mas de problemas decorrentes dela. Os que não tomam precauções correm um risco seis vezes maior de derrame ou edema cerebral, tem quatro vezes mais probabilidade de sofrer de insuficiência cardíaca e o triplo de chance de um infarto.

O jeito é ficar de olho nas artérias e examiná-las continuamente para saber se o tratamento, por meio de drogas, está conseguindo interromper o estrago que a doença causa. Um avanço foi verificar que o ultra-som pode ser usado para avaliar a condição dos vasos. “A técnica é antiga, mas só agora está sendo usada com essa finalidade”, conta o radiologista Sérgio Ajzen, da Escola Paulista de Medicina. Ele mesmo fez o teste. Ficou feliz: suas artérias estão normais.

Antes, só havia duas maneiras de observar as seqüelas deixadas pela pressão alta. Uma delas é a autópsia, mas esta só serve para conhecer melhor a doença, pois é realizada com a pessoa morta. Outra é a biópsia, quando se retira uma amostra de qualquer parte do corpo, imaginando que a situação dos vasos é parecida em todo o organismo. Esse exame é usado para avaliar artérias de pequeno calibre.

A valorização desses exames começou a partir da década de 50 (apesar de a hipertensão já ser citada em um tratado de Medicina chinês, escrito por volta de 2400 antes de Cristo). Explica-se: nos anos 50, as companias de seguro dos Estados Unidos descobriram que os hipertensos tem uma propensão maior para problemas cardio-vasculares.

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Vários fatores podem levar uma pessoa a sofrer de pressão alta. Uma das mais importantes é o excesso de insulina no organismo, como tenta mostrar o estudo da professora Cláudia L. Forjaz, da Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo. “A função básica da insulina é levar a glicose para dentro das células”, diz ela. “Algumas pessoas precisam de uma dose maior da substância para realizar essa função.” Nesse caso, o sistema nervoso simpático (que controla os vasos sangüíneos) passa a trabalhar mais. A professora quer descobrir como o aumento da atividade nervosa estimulado pela insulina provoca a contração dos vasos.

O estresse e o nervosismo também podem fazer o corpo liberar hormônios — substâncias que regulam o funcionamento do organismo — que contraem os vasos. Mas, passado o momento crítico, essas substâncias vão embora e tudo volta ao normal. “Certas pessoas ficam tão tensas quando vão ao médico que apresentam pressão elevada no consultório”, explica o nefrologista Artur Beltrame Ribeiro, da Escola Paulista de Medicina. Há três anos, chegou ao Brasil um aparelho que pode resolver esse problema. É o MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial) que faz medições durante 24 horas. “Com ele, observamos como a pressão varia de acordo com a atividade que o paciente realiza durante o dia”, diz Beltrame. “E fica claro que os momentos de estresse elevam a pressão tanto em hipertensos quanto em pessoas normais”

Para saber mais:

Salve o coração

(SUPER ano 1, número 1)

Boas novas para o coração (SUPER número 5, ano 5)

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Quem é o hipertenso

A tendência à hipertensão é maior em homens do que em mulheres. Aos trinta anos de idade, para cada nove deles,

há apenas uma delas com o problema. Com a idade, a incidência feminina vai aumentando. Talvez isso aconteça porque elas passem a produzir menos progesterona, um hormônio protetor. Aos 70 anos, há mais mulheres hipertensas, mesmo porque parte dos pacientes masculinos já morreu.

As outras vítimas

Além do sexo e idade, há outros fatores que tornam uma pessoa mais sujeita à hipertensão. Negros, por exemplo, têm até duas vezes mais chance de ter pressão alta do que brancos. Filhos de hipertensos são mais vulneráveis do que filhos de quem tem saúde normal: a probabilidade de desenvolverem o problema, ao longo da vida, chega a ser de 80 por cento.

Para aliviar a pressão

Se ela não está muito acima do normal, os remédios podem até ser dispensados. Basta seguir a receita abaixo

Diminuir o sal

Algumas pessoas tem dificuldade em eliminar o sal pela urina. O sódio, um dos seus principais componentes, fica então circulando pela corrente sangüínea.

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Para manter o equilíbrio, o sangue acaba retendo água e assim aumenta seu volume. Conseqüência: sobe a pressão nas paredes das artérias. O sal também provoca contração, principalmente

nos vasos mais finos. Além disso, ainda atrai água para as paredes, aumentando o seu espessamento.

Beber menos álcool

Cerca de 100 gramas de álcool por dia, o que equivale a duas doses de uisque ou 660 mililitros de cerveja, provocam aumento na pressão. Ainda não se conseguiu explicar porque isso acontece.

Cortar o cigarro

Os componentes do cigarro provocam formação de uma depressão na parede da artéria onde se depositam partículas do sangue chamadas plaquetas. Com o acúmulo delas, a região inflama e aparece uma espécie de calosidade que obstrui parte da artéria.

Controlar a gordura

Quando uma pessoa se torna obesa, passa a produzir glicose em maior quantidade. Conseqüentemente, o organismo passa a fabricar também mais insulina, substância que faz contrair as artérias.

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Fazer exercícios

Atividades leves, como caminhada, natação e bicicleta ajudam a diminuir o estresse, a tendência à obesidade. Também fortalecem a musculatura do coração. O ideal é realizar o exercício três vezes por semana.

Aparelho mede a força do sangue

Usado tradicionalmente, o esfigonomanômetro funciona de modo simples. O braço é envolvido por uma faixa elástica e oca: o manguito . Bombeado , ele se enche de ar e comprime a artéria. Como o sangue pára de passar, a pressão do manguito é máxima e a da artéria é zero. Então, aos poucos, deixa-se sair o ar, o que reduz a pressão do manguito. Ele faz menos força sobre a artéria até o sangue voltar a fluir. O médico sabe disso porque ouve os batimentos do coração na artéria por meio do estetoscópio encostado no braço. Nesse momento, a pressão arterial é igual à do manguito. E esta é assinalada o tempo todo pelo marcador . O valor da pressão é dada por dois números. O primeiro é maior e mede a pressão no momento em que o coração bombeia o sangue, a chamada sístole. O segundo mede a pressão no instante em que o coração está relaxado, a diástole. O problema do esfignomanômetro é que ele mede a pressão em momentos específicos: o ideal é poder acompanhar sua variação ao longo do dia.

24 horas por dia

O MAPA facilita a vida do médico e do hipertenso

Realizando medições a cada quinze minutos durante 24 horas ou mais. Um manguito , semelhante ao do aparelho convencional, é preso ao braço do paciente. Cada medição é gravada por um aparelho que fica acoplado à cintura. As informações são depois passadas para um computador, que cria gráficos e aponta os horários em que a pressão esteve mais alta.

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