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Tigres são criados para virar comida no Laos

Uma zona "duty-free" comandada por investidores chineses serve carne de tigre a turistas. Há mais animais em cativeiros ilegais do que soltos na natureza.

Por Redação
7 jun 2017, 16h33

Uma zona econômica livre de 31 km2 no Laos, próxima à fronteira com a Tailândia, contém uma fazenda dedicada à criação de tigres ameaçados de extinção para alimentação de turistas e produção de souvernirs. Esse território sem lei, cedido pela ditadura do país a um grupo de capitalistas de Hong Kong em 2007, foi tema de uma reportagem do jornal norte-americano New York Times publicada agora, em 6 de junho.

O Kings Romans Group, sob vista grossa do governo comunista de partido único, também é responsável por um cassino, uma rede de hotéis, ringues para brigas de touros e galos e um centro de compras com produtos de origem chinesa livres de impostos, todos concentrados na pequena faixa não-regulamentada.

O local, disfarçado de zoológico decadente, é só um de vários pontos conhecidos de criação de mamíferos de grande porte em risco de extinção no Sudeste Asiático. Grupos dedicados à proteção dos animais calculam que só no Laos, dentro e fora da área que está sob jurisdição dos investidores chineses, vivam mais de 700 tigres em cativeiro – indefesos e estressados, com garras e dentes cortados. Eles às vezes são usados para atrair visitantes, mas em geral serão mortos para a produção de carne, jóias e remédios típicos da medicina popular.

Turistas vão à região para fazer o que não é permitido em nenhum outro lugar do mundo. O New York Times apurou que pratos de carne de tigre são servidos como iguarias locais de US$ 45,00, e são acompanhados de uma bebida chamada “vinho de tigre” – uma espécie de infusão feita com ervas, grãos e ossos do animal, que sai por US$ 20,00 a dose. O local não é monopólio do Kings Romans Group, mas concentra também outros empreendimentos, quase todos comandados por chineses.

 

Hoje, a zona duty-free está praticamente deserta: pouquíssimos turistas frequentam o lugar, alguns com os filhos, e muitas lojas estão abandonadas e fechadas com tábuas. Mesmo assim, vários locais exibem colares e pulseiras de dentes e garras de tigre, além de acessórios feitos com pele e marfim de elefante e chifres de rinoceronte.

Na China em si, cerca de 200 falsos santuários e zoológicos ilegais concentram outros 5 ou 6 mil tigres criados para fins comerciais. Na Ásia, a população total de felinos voltados à pecuária – mais de 7 mil, no cálculo otimista – é maior que a de animais soltos na natureza. No mundo todo, pouco menos de 4 mil tigres vivem em seu habitat natural, contra os cerca de 100 mil que prosperavam no começo do século passado. Eles são divididos em seis variedades, que têm diferenças sutis entre si. O governo chinês planeja a construção de um parque nacional para salvar uma das subespécies em maior risco de extinção, o tigre siberiano, que habita a fronteira com a Rússia.

Segundo a lista de espécies ameaçadas da IUCN, as florestas do Laos abrigam cerca de 17 exemplares do tigre-da-indochina (Panthera tigris ssp. corbetti), a variedade mais comum na vizinhança do Vietnã. No mundo todo há apenas 352 felinos dessa subespécie em condições naturais, 200 deles na Tailândia. 

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O país de vocação turística, vizinho do Laos, mantém uma população de cerca de 1400 tigres em cativeiro. Em 2016, as carcaças de quarenta filhotes congelados foram encontradas escondidas nas instalações de uma das atrações mais controversas da região: um santuário budista que expõe tigres aos visitantes – e, segundo fontes entrevistadas pelo jornal americano, vende os animais por mais de US$ 50 mil no mercado negro quando eles crescem e se tornam violentos demais para a vida atrás das grades.

É impossível estimar com precisão, mas o tráfico internacional de animais selvagens pode estar entre os maiores do mundo – comparável ao de armas e seres humanos. É importante ressaltar que a criação ilegal desses animais não colabora com sua preservação. Eles não estão adaptados à vida na natureza, e não impedem a caça dos poucos exemplares que sobrevivem com dificuldade nas matas nativas.

Outros países da região já investigaram em detalhe as fazendas ilegais de seus territórios (que também criam ursos, em certos casos) mas não podem apreender os animais: mantê-los em instalações governamentais é muito caro, sacrificá-los não é viável do ponto de vista ético e eles não poderiam ser soltos – debilitados, sequer conseguiriam encontrar comida.

 

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