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Bactérias do espaço

Cientistas procuram no espaço os ingredientes da vida, como os aminoácidos. Enquanto isso, na Terra, descobrem-se micróbios capazes de sobreviver em ambientes tão inóspitos quanto os de outros planetas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h38 - Publicado em 30 abr 1997, 22h00

Vanessa de Sá

Contam-se aos bilhões as galáxias no Universo, cada uma delas formada por milhões de estrelas. É possível imaginar que, em toda a imensidão do Cosmo, a Terra é o único lugar onde há seres vivos? Claro que não. O problema todo é encontrá-los. Afinal, onde é que estão os alienígenas?

O carbono e o hidrogênio, elementos essenciais para o aparecimento de qualquer forma biológica, existem em relativa abundância nas diversas galáxias. Mas isso ainda não resolve o mistério. O que os cientistas estão procurando, em outros planetas, são os compostos orgânicos que serviram de base para a formação das espécies que conhecemos. Esses compostos são os aminoácidos e os nucleotídeos, os ingredientes básicos das moléculas de DNA e RNA. Os radiotelescópios vasculham a Via Láctea em busca de algum lugar parecido com a Terra em sua origem, há 4,5 bilhões de anos. Na realidade, estamos procurando no espaço a resposta à mesma pergunta que, há séculos, a humanidade vem fazendo a si mesma: como, exatamente, a Terra virou a casa de seres vivos?

O jardim botânico do Cosmo

A atual procura por sinais de aliens no Cosmo se dá em duas frentes. Numa ponta, os caçadores de mensagens de ETs estão no encalço de um possível resultado final da evolução: seres inteligentes, capazes de se comunicar com outras civilizações e, quem sabe, até de jogar uma partida de xadrez. Na outra ponta, os cientistas buscam no espaço os ingredientes que permitiram a essa mesma evolução selecionar os mais “aptos”, moléculas com a capacidade de carregar informações e passá-las adiante. Vivas, portanto. O problema é que só conhecemos um tipo de evolução – a do planeta Terra – e um tipo de Biologia, que tem como alicerces os compostos orgânicos que formam o DNA e o RNA. Não sabemos se pode haver formas biológicas em bases diferentes.

A maioria dos cientistas acha que elas só podem se constituir a partir dos mesmos elementos que existiam na Terra nos primórdios de sua formação: carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e água em estado líquido. Cientistas dissidentes apostam na existência de formas alternativas. As especulações abrangem desde seres que utilizam como solvente a amônia, em lugar da água, até criaturas fantásticas capazes de se reproduzir em ambientes de puro magnetismo (os plamobos) ou radiação (os radiobos). O Universo não deve ser encarado como um deserto, esparsamente povoado por plantas idênticas que só podem ser encontradas em nichos raros e especializados, escreveram os biólogos Robert Shapiro e Gerald Feinberg. “Preferimos vê-lo como um jardim botânico com incontáveis espécies de plantas, cada qual no seu próprio canteiro”.

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Aminoácidos em tubos

Por enquanto, essas teorias são coisa de cientistas que gostam de sonhar acordados. Na prática, o que se procura é saber se haveria, em algum ponto da Via Láctea, condições parecidas com as de nosso planeta há 3,8 bilhões de anos, data dos mais antigos registros fósseis. Já sabemos que todas as substâncias que existem na Terra são herança das grandes explosões que geraram o Universo. Também sabemos que o carbono e o nitrogênio existem em relativa abundância nas galáxias.

O que ignoramos é como, de fato, aconteceu o milagre do surgimento das espécies a partir dessa receita. Um americano, Stanley Miller, chegou a simular as condições da Terra primitiva dentro de seu laboratório na Universidade de Chicago em 1953. Ele montou um “oceano primitivo”, semelhante ao que, segundo se supõe, surgiu na Terra quando a nuvem de vapor existente ao redor do planeta se condensou. Bombardeou esse “caldo” com descargas elétricas que imitavam os relâmpagos. Depois de alguns dias, constatou-se a presença de aminoácidos na água usada no experimento. Era a prova de que um dos ingredientes básicos para os seres vivos poderia se formar sem a participação direta de um deles. Mas Miller parou aí. Fora isso, ele não conseguiu mais nada. Sequer uma bactéria, um microbiozinho chinfrim que fosse. A fabricação de seres vivos em laboratório continua, até hoje, como um dos grandes desafios da ciência moderna.

A terra como era

As pistas dos aliens podem estar aqui mesmo.

Na busca de seres vivos em outros planetas, o ponto de referência é a evolução na própria Terra, dos primeiros microorganismos, há 3,5 bilhões de anos, quando o cenário era dominado por erupções vulcânicas e descargas elétricas, até os primeiros hominídeos, a cerca de 2 milhões de anos atrás.

Micróbios radicais

Habitantes das geleiras e vulcões podem ajudar na busca dos micro-ETs.

O estudo dos planetas do Sistema Solar mostrou que eles são, na maioria, inóspitos. Pesquisadores passaram, então, a estudar, na Terra, ecossistemas parecidos com os ambientes extraterrestres, para saber se eles possibilitariam a existência de vida. Um número surpreendentemente grande de bactérias foi descoberto em lugares que se acreditava estéreis, como crateras de vulcões e as geleiras da Antártida.

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Uma dessas bactérias, o Methanocococcus jannaschii, que vive em temperaturas de cerca de 185 graus, foi encontrada em vulcões submersos, no fundo do mar. Ao contrário da maioria, o Methanococcus vive exclusivamente de gás carbônico, hidrogênio e nitrogênio. O oxigênio o mata. Microorganismos também já foram encontrados no subsolo siberiano e em depósitos de sal. Outras bactérias são capazes de suportar doses de radiação em torno de 2 milhões de rad (450 rad são suficientes para matar um homem).

Somos todos alienígenas?

Teóricos da panspermia acreditam que os terráqueos são originários do espaço.

Os primeiros micróbios surgiram aqui mesmo ou foram importados do espaço? A experiência de Miller convenceu os cientistas de que as condições da Terra são favoráveis à formação de compostos orgânicos. Entretanto, estudos feitos em crateras da Lua mostram que, bilhões de anos atrás, a Terra era alvo constante de meteoritos. A análise de alguns desses meteoritos revelou a presença de aminoácidos. Os cientistas passaram a especular, então, que os ingredientes da vida podem não ter se formado aqui, mas ter chegado à Terra a bordo de meteoritos.

A mais radical dessas especulações é anterior à descoberta de compostos orgânicos nos meteoritos. Em 1908, o quíomico sueco Svante Arrhenius propôs que os próprios seres vivos teriam vindo do espaço, a bordo de metoritos ou de cometas. Sua teoria, que proponha que esporos de bactérias teriam chegado à Terra semeando o planeta de vida, ficou conhecida como panspermia.

A teoria foi ampliada mais tarde pelo astrônomo britânico Fred Hoyle e por seu colega Chandra Wickramasingue. Ambos lançaram uma tese que mistura a panspermia com a teoria da evolução, de Charles Darwin (1809-1882). Para eles, não foram apenas os micróbios que chegaram do espaço, mas também o programa genético necessário à evolução.

De acordo com a teoria da evolução, os organismos mais aptos são selecionados ao longo do tempo. Com a descoberta da molécula de DNA, ficou claro: o combustÌvel para a seleção natural são as mutações que acontecem no interior dos genes. Hoyle e Wickramasingue acreditam que genes alienígenas, oriundos dos espaço, tiveram um papel importante na seleção natural.

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