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Conheça o laboratório secreto do Pentágono

Eles inventaram a internet e o GPS. Hoje desenvolvem robôs cirurgiões, sistemas de controle da mente e a cura da obesidade. Saiba o que está acontecendo na Darpa – a divisão de alta tecnologia do Exército americano. Um lugar onde o impossível não existe.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 14 Maio 2012, 22h00

Camilla Costa e Bruno Garattoni

Se você pudesse inventar qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, o que você inventaria? Uma máquina capaz de ler os pensamentos das outras pessoas? Um avião ultrarrápido, capaz de atravessar o mundo em uma hora? Ou simplesmente uma fórmula para poder comer à vontade sem engordar? Parece incrível, mas existe um laboratório tentando criar todas essas coisas, e outras tecnologias igualmente mirabolantes: a Darpa (Agência de Defesa para Projetos de Pesquisa Avançados), divisão de estudos científicos do Pentágono. Sua missão é transformar qualquer sonho tecnológico, por mais ousado que seja, em realidade. “Os nossos projetos começam quase impossíveis, depois passam a ser improváveis, e acabam se tornando inevitáveis”, disse a ex-diretora da agência, Regina Dugan, durante o evento de palestras TED. Ela anunciou que está deixando a agência para ir trabalhar numa empresa com fama igualmente inovadora: o Google.

A história da Darpa começa em 1957, quando a antiga União Soviética lançou o satélite Sputnik. O governo dos EUA ficou preocupado, porque seu próprio programa de satélites, que estava sendo tocado pelo Exército e pela Marinha, estava bem atrasado em relação aos russos. A primeira tentativa de lançamento foi um fracasso total. Isso levou os americanos a uma conclusão: era preciso criar uma agência independente, que concentrasse toda a pesquisa tecnológica militar e tivesse o máximo possível de autonomia. Nascia a Darpa – que naquela época não tinha o “D” de defesa e se chamava apenas Arpa. Mas já foi um nascimento conturbado. O presidente Dwight Eisenhower, convencido de que o programa espacial deveria estar separado das pesquisas militares, criou a Nasa – e tirou da Arpa projetos que ela tinha fundado, como os foguetes que levaram o homem à Lua entre 1968 e 1972, e o NAVSAT, programa que permitia navegar usando computadores para triangular sinais de satélite – que mais tarde deu origem ao GPS.

Esvaziada pela criação da Nasa, a Arpa virou um depósito de projetos que ninguém queria. Como um imenso computador de 250 toneladas, construído para um antigo projeto da força aérea. O diretor da agência na época, Joseph Licklider, teve a ideia de usar essa máquina em pesquisas sobre informática. E isso mudou tudo.

Em 1968, a Arpa apresentou 4 invenções bombásticas de uma só vez: o primeiro editor de texto, o primeiro mouse, o primeiro videochat e o primeiro sistema de hipertexto (os links que hoje estão presentes nas páginas da internet). Também havia uma quinta, que passou meio despercebida – uma tal “rede experimental de computadores”, que foi batizada de Arpanet e interligava as máquinas da agência. Essa rede viria a se tornar, alguns anos depois, a internet. E assim a agência desprezada, com projetos que ninguém queria, tinha criado a maior invenção do século 20. “A proposta é evitar que novidades tecnológicas possam dar vantagem a outros países”, diz Anthony Tether, diretor da Darpa de 2001 a 2009. “E nós descobrimos que a melhor maneira de
fazer isso é criá-las nós mesmos.”

Metade dos projetos desenvolvidos pela agência é totalmente confidencial. A outra metade é apenas semi-confidencial – e absolutamente impressionante. Várias vezes as coisas dão errado, mas a capacidade de sonhar alto e mostrar resultados (a maioria dos projetos tem de evoluir para um protótipo em no máximo 4 anos) transformou a Darpa num dos principais centros de pesquisa do mundo. A agência tenta inventar novidades que possam, a curto ou a médio prazo, servir às forças armadas americanas. Mas, na prática, suas invenções acabam tendo um impacto muito maior e transformando a rotina de todo mundo. Sem as tecnologias desenvolvidas para a guerra, a vida em tempos de paz não seria a mesma.

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Beija-flor espião

Qual é a ideia: Criar um pássaro-robô que possa filmar e fotografar uma área sem ser detectado pelo inimigo.
O que estão fazendo: A Darpa já possui um protótipo do bichinho, que é muito parecido com um beija-flor de verdade e reproduz perfeitamente os movimentos de um: voa, fica parado no ar, mergulha e sai em disparada.
CHANCE DE DAR CERTO: 4,5/5

Carro Transformer

Qual é a ideia: Um jipe militar que possa se transformar em helicóptero e sair voando em poucos segundos.
O que estão fazendo:
As empresas americanas AAI e Lockheed Martin, parceiras da Darpa, já apresentaram ideias factíveis para o veículo e estão produzindo protótipos que serão testados ainda este ano. O jipe voador poderá driblar os dispositivos explosivos improvisados (IEDs), bombas caseiras que os insurgentes do Iraque e do Afeganistão têm o hábito de enterrar nas estradas onde passam veículos dos EUA – e que são responsáveis por 63% de todas as mortes de soldados americanos na região.
Segundo a Darpa, ele deverá ser capaz de carregar 450 quilos, incluindo armas leves e pelo menos 4 soldados, e ser fácil de pilotar. Especialistas em defesa têm questionado o projeto. Eles dizem que, mesmo que ande e voe bem, o jipe voador será alvo fácil para os insurgentes – que simplesmente passarão a usar outro tipo de arma, o lançador de granadas (RPG).
CHANCE DE DAR CERTO: 3/5

Avião Hipersônico

Qual é a ideia: Uma aeronave capaz de atravessar o planeta em 1 hora.
O que estão fazendo: O protótipo já existe, e se chama Falcon HTV-2. Trata-se de um avião não-tripulado que atinge Mach 20, ou seja, 20 vezes a velocidade do som (aproximadamente 25 mil km/h), o suficiente para ir de são paulo a Nova York em menos de 20 minutos. Para atingir essa velocidade, o HTV-2 utiliza um novo tipo de motor e um conceito aerodinâmico diferente: as asas são integradas à própria fuselagem, o que diminui a resistência do ar. O avião foi testado duas vezes em 2011. Em ambas, saiu do controle após alguns minutos de voo. E a Darpa decidiu abandonar o projeto – que agora deverá ser repassado à Aeronáutica dos EUA.
CHANCE DE DAR CERTO: 2/5

Isca para relâmpagos

Qual é a ideia: Evitar que tropas americanas sejam atingidas por raios.
O que estão fazendo: Em parceria com universidades americanas, a Darpa está desenvolvendo um sistema de foguetes antirrelâmpago. Eles são lançados do chão e funcionam da seguinte maneira. Primeiro, o soldado aponta o lançador de foguetes para uma nuvem de tempestade, visivelmente carregada. Os foguetes, que são conectados ao solo por fios de cobre, sobem e ficam pairando abaixo das nuvens – onde funcionam como para-raios, atraindo e descarregando os relâmpagos.
CHANCE DE DAR CERTO: 2,5/5

Capacete de controle cerebral

Qual é a ideia: Ler – e influenciar – a mente dos soldados durante o combate.
O que estão fazendo: Já existem aparelhos de estimulação magnética que interferem nos sinais elétricos do cérebro e são capazes de provocar efeitos simples, como fazer a pessoa sentir medo. A Darpa quer levar isso um passo além, e criar um capacete que possa ler os pensamentos dos soldados (algo já demonstrado, de forma primitiva, em laboratório) e interferir neles. A agência está desenvolvendo um protótipo que estimula
certas regiões do cérebro, deixando o soldado mais alerta e com menos estresse.
CHANCE DE DAR CERTO: 3/5

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Avatar da vida real

Qual é a ideia: Robôs guerreiros que são controlados por seres humanos – e tomam o lugar deles no campo de
batalha. Mais ou menos como no filme Avatar.
O que estão fazendo: A Darpa já testou com sucesso o Petman, um robô bípede que tem 1,80 metro de altura e consegue correr, agachar e fazer flexões. Ele poderá carregar equipamentos e até portar armas, mas por enquanto desempenha uma tarefa mais prosaica: serve como manequim para testes de trajes militares. É muito provável que robôs cheguem às guerras. Mas os primeiros serão quadrúpedes como o Alpha Dog, o robô-cachorro da Darpa, que consegue transportar cerca de 180 quilos de suprimentos. A Chita, outro robô de quatro patas em desenvolvimento pela agência, acaba de bater um recorde de velocidade – conseguiu correr a 29 km/h. Ela foi criada para transportar soldados na garupa.
CHANCE DE DAR CERTO: 4/5

Base militar nuclear

Qual é a ideia: Instalar pequenos reatores nucleares nas bases militares americanas, para que elas se tornem
autossuficientes em energia.
O que estão fazendo: A agência está estudando alguns modelos de minireator, que seria alimentado por urânio
enriquecido a 2% – muito menos potente do que seria necessário para fazer uma bomba atômica. Isso evitaria que terroristas e exércitos inimigos tentassem invadir as bases dos EUA para roubar o combustível.
CHANCE DE DAR CERTO: 3/5

O robô cirurgião

Qual é a ideia: Dispensar a presença de médicos humanos no front.
O que estão fazendo: O robô médico deverá ser capaz de realizar 4 tarefas para tratar soldados feridos. Primeira: injetar contraste em uma veia e fazer uma tomografia rápida. Segunda: encontrar as costelas do paciente, espetar uma agulha no meio delas e reinflar o pulmão (caso tenha sido perfurado por estilhaços). Terceira: inserir um tubo na boca ou por fora da traqueia para ajudar na respiração do soldado. Quarta: estancar hemorragias. São coisas extremamente complexas para um robô – tanto que a conclusão do projeto só está prevista para 2025.
CHANCE DE DAR CERTO: 3,5/5

Interior da Terra em 3D

Qual é a ideia: Enxergar tudo o que existe no subsolo – inclusive bunkers que possam esconder inimigos dos EUA.
O que estão fazendo: No começo dos anos 60, a Darpa inventou tecnologias que levaram à descoberta das placas tectônicas. Agora, ela quer combinar vários tipos de sensor para gerar mapas 3D do subsolo, revelando tudo o que existe a até 5 km de profundidade. Além de encontrar bunkers, o sistema poderá tornar mais fácil prever terremotos, erupções vulcânicas e tsunamis. A nova tecnologia tem estreia prevista para 2015.
CHANCE DE DAR CERTO: 4/5

Cura da Obesidade

Qual é a ideia: Evitar que os soldados americanos fiquem gordos (sim, até eles sofrem com esse problema).
O que estão fazendo: Estudando o tecido adiposo marrom, um tipo de gordura que queima calorias (segundo um estudo da universidade de Quebec, até 250 calorias a cada 3 horas). O tecido adiposo marrom já existe naturalmente no corpo humano, mas em quantidade muito baixa (e suas células só ficam mais ativas em ambientes frios, quando trabalham para aquecer o corpo). A ideia dos militares é criar a gordura marrom em laboratório e implantá-la nos soldados, via injeções na barriga.
CHANCE DE DAR CERTO: 2,5/5

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Visão eletrônica

Qual é a ideia: Permitir que o soldado possa consultar informações úteis, como mapas, sem desviar o olhar do combate.
O que estão fazendo: Desenvolvendo uma lente de contato que sobrepõe uma imagem ao olho. No centro da lente, há uma microtela circular que fica bem em cima da pupila. Funciona, mas a resolução ainda é muito baixa.
CHANCE DE DAR CERTO: 4/5

Detector de gases

Qual é a ideia: Monitorar o ar das cidades americanas para detectar possíveis ataques com armas químicas ou biológicas.
O que estão fazendo: A agência já possui um sistema que é capaz de detectar a presença de substâncias tóxicas mesmo em concentrações baixíssimas, a partir de 20 ppt (partes por trilhão).
CHANCE DE DAR CERTO: 4/5

O NOME DIS
A Darpa costuma dar nomes curiosos a seus projetos, em que as palavras são abre viadas para formar siglas chamativas – e engraçadinhas.

1. NACHOS
Acrônimo de “Nanoscale laser systems”: um tipo de máquina que emite um feixe de laser muito pequeno.

2. VADER
Sem parentesco com o Darth, o “Vehicle and Dismount Exploitation Radar” é um sistema que permite localizar veículos no campo de batalha.

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3. CRASH
O projeto “Clean-slate Design of resilient, Adaptive, Secure Hosts” tenta criar computadores que sejam capazes de se recuperar sozinhos após um ataque de hackers.

4. BATMAN E ROBIN
Compreender melhor como o cérebro toma decisões. É isso o que quer o projeto “Biochronicity and Temporal Mechanisms Arising in Nature” e “Robustness of Biologically-Inspired Networks” .

Para saber mais
How DARPA Is Remaking Our World
Michael Belfiore, Harper, 2010.

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