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Era da informação: Tudo ao mesmo tempo agora

Como a tecnologia interativa vai modificar o cotidiano das pessoas.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h46 - Publicado em 31 ago 1994, 22h00

Wagner Barreira

Prepare-se para cair na estrada digital. Nela, você poderá navegar em múltiplas direções.

Uma revolução está em andamento bem diante dos seus olhos. É como se você tivesse andado de bonde a vida toda e descobrisse de repente que pode dirigir um carro e sair dos trilhos da mesmice. Não tem mais que ir ao ponto para tomar a condução, pode guiar sozinho e entrar em cada ruazinha que encontrar, a qualquer hora. O que os jornais chamam de Era da Informação nada mais é que o atestado de óbito da cultura de massa — um estilo de vida que surgiu com Gutenberg, no século XV, e foi a tônica da Revolução Industrial. Até hoje você foi obrigado a assistir ao mesmo filme que o vizinho, ler o mesmo jornal que outros 200 mil assinantes, comer o mesmo molho de tomate industrializado e usar uma calça jeans do mesmo modelo do seu amigo de trabalho. Esse tempo está chegando ao fim.

No lugar da massificação em que uma matriz serve igualmente a todo mundo, surge agora a personalização. Exemplo: uma companhia japonesa é capaz de produzir 11 milhões de modelos de bicicleta, de acordo com o gosto do freguês — que recebe a encomenda em 24 horas. A bike pessoal leva em conta idade, peso, altura e estilo de vida do comprador, e custa só 10% a mais que um modelo comum. Imagine essa tendência em tudo que o cerca. Vai ser assim. “A tecnologia da informação criou uma economia totalmente nova”, diz Walter B. Wriston, o principal executivo do Citicorp. “Ela é tão diferente da economia industrial quanto a economia industrial foi diferente da agrícola.” Desceremos do bonde e passaremos ao que o professor William Miller, da Universidade de Stanford, chama de “economia da escolha”, na qual o consumo é pautado pela história de vida do cliente e o produto tem alta qualidade e sabor individualizado.

A riqueza vai mudar de mãos. Os dois maiores negócios do planeta, hoje, são as indústrias do petróleo e a automobilística. Daqui a dez anos será a indústria da informação e do conhecimento. Quem vai permitir isso é a digitalização. Tudo — imagens em movimento, sons e textos — pode ser transformado em dígitos binários, em infinitas combinações de 0 e 1. Com a ajuda de fibras ópticas e satélites, esses dígitos binários, ou bits, podem ser transportados para qualquer lado. Esse caminho foi batizado de super-rodovia da informação.

Quando os automóveis foram inventados, uma série de fenômenos novos mudou os hábitos dos seres humanos. Surgiram estradas asfaltadas e os subúrbios. A velocidade da vida cotidiana se acelerou. Houve coisas boas e ruins. Também ganhamos mais poluição e passamos a depender do petróleo. Com a Era da Informação não vai ser diferente. Os críticos falam em isolamento nas casas e no fim da vida comunitária. Os otimistas contra-atacam. Para eles, redes como a Internet, que une 20 milhões de pessoas ao redor do mundo em conversas pelo computador doméstico, não significam isolamento. Os computadores também são mais democráticos. Qualquer pessoa, com um programa relativamente barato, pode fazer seu jornal e difundir suas idéias, seja através de disquetes, de modem ou de papel impresso. Para o bem ou para o mal, o mundo está menor.

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O que você fez com seus velhos discos de vinil? Pois vai acontecer coisa parecida com os CDs, as fitas de vídeo, cartuchos de videogame e até com livros. Grandes bancos de dados serão capazes de fornecer, a qualquer hora, tudo aquilo que você precisar, por pouco dinheiro. É o que os especialistas chamam de “fim dos meios físicos”. O futuro é virtual e caminha a velocidade da luz por fibras ópticas. Que estão cada vez mais baratas. Custavam 7 dólares por metro em 1977. Hoje, saem por 10 centavos de dólar.

A porta de entrada da super-rodovia vai ser um híbrido de computador, telefone e televisor. No lugar de teclado, comandos de voz ou toques na tela. Fala-se hoje que será possível estudar, fazer compras e trabalhar sem sair de casa. Mas não é só isso. Com a digitalização, as noções de compra, estudo ou trabalho vão mudar. Você vai escolher o tamanho, a cor e o modelo da sua nova camisa, e ela será diferente de qualquer outra.

No campo da educação e da informação, o mundo vai ficar de ponta cabeça. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Stanford, as pessoas são capazes de guardar 10% do que lêem, 30% do que lêem e ouvem e 70% do que lêem, ouvem e interagem -— ou seja, será mais fácil aprender. Uma lição de casa sobre o Egito Antigo poderá ser feita com material de acervo do Museu do Cairo. Outra, sobre História da Arte, com a ajuda do banco de dados do Museu do Louvre.

O computador pessoal é o melhor exemplo de máquina personalizada. Nele é impossível ser passivo (ele não faz nada sem o comando do dono). Também é difícil encontrar um computador com os mesmos programas e utilizações idêntico a um outro. Ele é uma máquina íntima. “O computador é um espelho, um novo caminho para se refletir sobre si mesmo”, ensina Sherry Turkle, professora de Sociologia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. A capacidade de interagir, criando seu próprio jornal, definindo suas lições e abrindo caminho em bancos de dados de todo o mundo vai mudar a face do que chamamos hoje de conhecimento. Fronteiras entre países, línguas diferentes, culturas hostis — tudo isso perderá a razão de ser.

Há quem afirme que a super-rodovia vai aumentar o fosso entre ricos (e informados) e pobres (e ignorantes). É possível, mas improvável. Os preços de computadores e fibras ópticas não param de cair. Quando o aparelho de televisão foi lançado, em 1947, equivalia a 5,3 semanas de trabalho de um americano médio. Oito anos depois representava apenas 1,8. Com os computadores não é diferente. Um PC 386 compatível com IBM custa hoje a metade do que valia há pouco mais de um ano. Os computadores são cada vez mais poderosos, têm mais recursos — e custam menos. Há mais gente no mundo alfabetizada em linguagem de programação de computadores do que em línguas escandinavas, por exemplo.

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O grande desafio para o futuro é justamente encontrar a linguagem da super-rodovia de informação. O resultado de imagens em movimento, sons e textos é muito maior que a soma das partes. A multimídia interativa, que hoje se pode ver em CD-ROMs, ainda usa muitos recursos criados com a invenção do livro. Fala-se em número de páginas e índices, por exemplo, como se ainda lêssemos papel impresso. Quando o carro foi inventado, era chamado de carruagem sem cavalos. Nesse período de transição cultural e tecnológica, você tem dois caminhos. Pode, por exemplo, escrever uma carta mas também pode me encontrar em outro lugar, virtual, na Internet.

Para saber mais:

Artes de computador

(SUPER número 7, ano 2)

Telas em lingua de gente (SUPER número 3, ano 6)

A inteligência do chip

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(SUPER número 3, ano 8)

Internet

(SUPER número 4, ano 9)

Assim caminhou a humanidade

Quem assentou a base da super-rodovia da informação

1 Johannes Gutenber

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O alemão adaptou a invenção chinesa da tipografia para o Ocidente no século XV. O livro garantiu a circulação de conhecimento pela Europa, deu forma às línguas nacionais a ajudou a propagar o Protestantismo

2 Charles Babbage

Em 1822, o matemático inglês concebeu a Máquina Analítica, um equipamento capaz de realizar operações mais rápido que a mente humana e que é considerado o avô do computador.

3 Alexander Graham Bell

O americano cria o primeiro sistema interativo ao inventar o telefone em 1876, permitindo a comunicação imediata entre duas pessoas. Bell buscava um substituto para o telégrafo

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4 Konrad Zuse

O engenheiro alemão desenvolveu, no final da década de 30, a linguagem binária (binary digit, ou bit, em inglês), a matriz da programação dos computadores, baseada em respostas do tipo “sim” e “não”

5 Bill Gates

O americano, dono da Microsoft, a maior empresa de software do mundo, desenvolveu o sistema operacional mais popular do mundo, o MS-DOS, em 1981.

6 Steven Jobs e Stephen Wozniac Em uma garagem

os dois americanos criaram o Apple II, que é lançado em março de 1977 e se torna o primeiro computador pessoal a se popularizar.

Fibras ópticas

Têm a capacidade de transportar grandes quantidades de dados por longas distâncias

Jogos

No lugar de cartuchos, será possível buscar o jogo numa central e disputar campeonatos com vizinhos ou desconhecidos. A qualidade gráfica será muito maior do que a de hoje .

Livros

O papel não vai acabar, mas os computadores oferecerão recursos adicionais. Ao ler Shakespeare, o usuário poderá ouvir diferentes atores dizendo “to be or not to be”

Banco de dados

Arquivos com grandes quantidades de informação. Irão guardar os conteúdos que circularão pela super-rodovia

Aprendizado

Livros infantis interativos e aulas on-line vão ajudar a educação. Para os adultos, fóruns de discussão eletrônica aumentarão a base do conhecimento. A comunicação com especialistas permitirá a troca instantânea de informação.

On-line

As informações on line podem ser recebidas no mesmo instante em que forem geradas pelos computadores.

Trabalho

O home office já é realidade. Com um modem ou videoconferência se pode participar de reuniões ou receber arquivos, aprovar campanhas e falar com clientes e fornecedores

Home office

O escritório dentro da casa. Com a ajuda de computadores e imagens de vídeo, pode-se controlar processos de trabalho.

Videoconferência

Forma de comunicação digital que permite a várias pessoas conversarem simultaneamente por cabos ópticos.

Televisão

A tela vai oferecer mais de 500 canais, graças à compressão digital . Um programa controlará as opções do usuário para que ele não se perca em meio a tanta oferta

Compressão digital

Converte sinais de TV ao formato digital e comprime vários canais em apenas um.

Linguagem digital

Sons, imagens e textos reduzidos à fórmula de dígitos binários, o que garante que serão acessíveis a qualquer computador.

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