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O homem cria um novo mundo

O progresso tecnológico sempre se limitou ao uso das substâncias oferecidas pela natureza. Mas os cientistas estão criando produtos artificiais que vão revolucionar a economia e a organização social

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 30 jun 1991, 22h00

Tom Forester

Em 1987 houve um happening nos Estados Unidos que emocionou os membros da comunidade científica pelo mundo afora. A Sociedade Americana de Física, realizando seu encontro anual no Hotel Hilton, de Nova York, planejara incluir somente um pequeno seminário sobre uma área da ciência relativamente pouco divulgada – a busca da supercondutividade, ou de materiais que conduzem eletricidade sem oferecer resistência. Tamanho foi o interesse que não somente a reunião se transferiu para o vasto salão de baile do hotel, como, na hora em que as portas foram abertas, ouvia-se o clamor de 5 000 pessoas desejando entrar de qualquer maneira. Os agitados cientistas tinham vindo ouvir novas sobre fantásticos sucessos na descoberta de novos materiais, que se tornam supercondutores a temperaturas muito mais altas do que qualquer coisa encontrada antes.

Em 1911, o cientista holandês Heike Kamerlingh Onnes observou, pela primeira vez, que alguns metais, como o mercúrio, tornavam-se supercondutores quando congelados pero do zero absoluto, ou 273 graus Celsius negativos- ou zero grau na Escala Kelvin, preferida pelos cientistas. Esse é o ponto em que os átomos cessam seu movimento. Mas temperaturas assim baixas só podem ser obtidas com generosa aplicação do muito caro hélio líquido, que permite o uso de supercondutores em algumas aplicações muito especiais. Numa série de façanhas a partir do final de 1985, os cientistas descobriram novos materiais que se tornavam supercondutores a temperaturas muito mais elevadas. Primeiramente, pesquisadores do laboratório IBM em Zurique, na Suíça, chefiados por Karl Alex Müller e Johannes Georg Bednorz, descobriram um óxido de cobre que se tornava supercondutor a 35 graus Kelvin. Pesquisadores do mundo inteiro começaram em 1986 a realizar experiências semelhantes com diferentes óxidos cerâmicos baseados numa grande variedade de materiais e elementos de terra rara. Em 1987, uma equipe chefiada por Paul Chu, na Universidade de Houston, no Texas, usou um elemento de terra rara, o ítrio, num composto que se tornou supercondutor a 98 graus Kelvin, uma temperatura já superior àquela em que o nitrogênio, muito mais barato que o hélio líquido, pode ser usado para o congelamento. Romper a barreira do hélio para o nitrogênio foi sensacional – e esse feito assegurou para Chu um lugar nos livros de história da ciência. Um colega, comparou: “Chu correu a milha de sete minutos em supercondutividade”.

Imediatamente, nos Estados Unidos, no Japão, na União Soviética, na Índia e até na China equipes de cientistas informaram ter encontrado óxidos cerâmicos que perderam a resistência à eletricidade praticamente à temperatura ambiente. Pesquisadores da IBM anunciaram os primeiros aparelhos de interferência do quantum superconduzido, ou SQUIDs, utilizando os novos materiais supercondutores na forma de finas películas. E na Inglaterra desenvolveu-se um fio de cerâmica supercondutor aparentemente forte e flexível o bastante para conduzir uma corrente elétrica.
Alguns cientistas já estão falando de uma Terceira Idade Eletrônica, baseada nos supercondutores (as anteriores estavam baseadas na válvula eletrônica e nos transitores), e até mesmo na criação de um Vale do Óxido para suplantar o Vale do Silício, na Califórnia, de onde brotam os modernos chips. Transmitir eletricidade sem perda obviamente economizará milhões de dólares, revolucionará a indústria, libertada de uma série de equipamentos agora dispensáveis, e tornará mais eficiente as usinas de força. Graças ao efeito Messner – um fenômeno pelo qual um supercondutor anula qualquer campo magnético que dele se aproxime – ,os novos materiais possibilitarão a construção econômica de trens de levitação,capazes de revolucionar o transporte de superfície. Tem-se comparado a sua chegada ao advento dos transitores, em 1950, mas Jack Kilby, co-inventor dos circuitos integrados, acha isso uma subestimação: “Isto é muito mais abrangente. Poderá causar impacto em quase tudo”.

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*Tom Forester é conferencista na Universidade Griffith da Austrália, e autor de High-Tech Society Copyright Massachusetts Institute of Technology,1988.


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