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Perguntas sem resposta: algumas coisas vão continuar não fazendo sentido

A ciência não pára de montar o quebra-cabeça cósmico, mas há questões que ela simplesmente não está equipada para responder direito

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 31 Maio 2008, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

A cena é do romance O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, e já virou um clássico (sobreviveu até à adaptação cinematográfica meio capenga do livro). Uma civilização alienígena avançadíssima constrói um supercomputador, o Deep Thought, exclusivamente para responder “a pergunta definitiva, sobre a vida, o Universo e tudo o mais”. O Deep Thought leva 7,5 milhões de anos fazendo as contas para soltar a resposta: 42. Não faz o menor sentido, certo? Pois talvez não deva fazer mesmo.

Adams só queria arrancar umas boas risadas do seu público, mas a resposta do Deep Thought é um ótimo lembrete de que a ciência é imbatível para resolver algumas questões, mas simplesmente não funciona para responder outras. Na verdade, não foi projetada para respondê-las. É como querer esculpir um bloco de mármore usando um cortador de grama. E não é muito difícil entender o porquê disso.

Falseabilidade

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Quase todos os filósofos da ciência concordam que toda idéia verdadeiramente científica precisa ser falseável. A palavra pode soar estranha, mas ela se refere ao fato de que os cientistas precisam ser capazes de provar ou desprovar empiricamente – com fatos e evidências diretas – as hipóteses que propõem. Se algo não pode, por definição, ser derrubado com dados concretos, não vale como ciência. É por isso que o chamado criacionismo – a idéia de que uma intervenção direta de Deus criou o Universo e os seres vivos em 6 dias – foi testado e fragorosamente reprovado como hipótese científica. Por outro lado, se alguém propuser que a evolução do Universo e das espécies aconteceu tal como retratado por astrônomos e biólogos, mas que esse processo foi guiado por Deus, o máximo que um cientista contrário à idéia poderá dizer é que a proposta lhe parece pouco provável. Tal tese não pode ser tratada como ciência, mas também não pode ser desprovada.

No fundo, isso vale para todas as questões que envolvem o propósito ou o significado das coisas, ou como elas devem ser. Um bioantropólogo é capaz de contar, em linhas gerais, como a humanidade surgiu, mas não tem absolutamente nada a dizer sobre a “função” do homem no esquema cósmico. Um climatologista tem alguma idéia sobre qual será o futuro da Terra caso a gente continue a queimar combustíveis fósseis, mas contas envolvendo gás carbônico nunca vão dizer o que devemos fazer com nosso próprio planeta nas próximas décadas. Os fatos podem tornar nossas decisões mais realistas, mas não tomá-las por nós. Quem disser o contrário está sendo ingênuo – ou, pior ainda, desonesto.

Assim, ao menos do ponto de vista racional, muita coisa vai continuar não fazendo sentido no mundo – o que talvez seja uma coisa boa, no fim das contas. Sem respostas prontas, caberá ao nosso senso de justiça, compaixão e propósito resolver as questões que tocam mais de perto a nossa vida.

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