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Satélites: As novas estrelas da comunicação

Como deverá ser o futuro das telecomunicações no mundo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 30 abr 1995, 22h00

Heitor Shimizu

Você está num barco no meio do Oceano Pacífico. Ou a pé no Saara, com areia por todos os lados. Não importa. Dentro de pouco tempo, ninguém mais vai ficar isolado da civilização. Porque todo mundo estará ao alcance de um celular ou de um micro, esteja onde estiver. As maiores empresas de comunicação do mundo prometem: dentro de dois anos, começarão a circundar o planeta mais de 1 000 novos satélites, transmitindo sinais de telefone, fax, TV e ligando computadores. Hoje, estão em órbita apenas 150.

Os satélites de comunicação, atualmente, estacionam muito longe da Terra — a 35 860 quilômetros de altitude, cerca de um décimo da distância à Lua. A nova geração, em vez disso, ficará abaixo de 10 000 quilômetros de altitude. A aproximação vai alterar a tecnologia das comunicações. Para melhor.

A vantagem principal é que a informação vai e volta com muito mais rapidez. E isso é decisivo para a transmissão entre computadores. Para subir 35 860 quilômetros e descer de novo até o chão, os dados levam quase meio segundo. Quando a distância cai para 1 000 quilômetros, a viagem fica 36 vezes mais rápida.

Só que a velocidade tem um preço: de longe, os satélites conseguem “ver” áreas muito maiores da Terra. Por isso, para compensar um campo de visão mais estreito, o tráfego ficará mais intenso. A nova geração terá de ser muito mais numerosa, para cobrir todo o planeta.

As gigantes mundiais do setor de comunicação estão investindo na novidade. Os dois maiores projetos são o Teledesic, de Bill Gates, e o Iridium, da americana Motorola. A Motorola garante que seu cronograma está avançado. E que os primeiros satélites estarão no espaço antes que 1997 chegue ao fim.

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Calcula-se que o homem já mandou para o espaço cerca de 10 000 naves, desde a primeira, o velho Sputnik russo. Seu lançamento, em outubro de 1957, está prestes a completar 38 anos. Hoje, estão na ativa cerca de 300 satélites, que podem ser divididos em duas metades.

A primeira reúne quatro tipos principais de aparelhos: os meteorológicos, os militares, os astronômicos e os de sensoriamento. A outra metade reúne os satélites de comunicação, quase todos situados a 35 860 quilômetros de altitude. Aí, eles seguem a rotação da Terra, ou seja, ficam parados com relação a um ponto qualquer.

Essa posição havia sido prevista pelo escritor inglês de ficção científica Arthur Clarke (autor de 2001: Uma Odisséia no Espaço), num artigo para a revista Wireless World, em 1945. Clarke era operador de radar das forças armadas inglesas. E percebeu que era importante para a comunicação os satélites estarem sempre sobre uma mesma região, ou país.

Menos de vinte países, hoje, possuem satélites. A maioria pertence aos americanos, russos e ao consórcio internacional Intelsat (134 países membros, entre os quais o Brasil). O Brasil já lançou cinco naves. Quatro são Brasilsats, de comunicação. O quinto é o SCD-1, o único já construído no país. Serve para coleta de dados meteorológicos.

No início de outubro de 1957, Fernando de Mendonça e Júlio Alberto Coutinho, estudantes do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em São José dos Campos, São Paulo, estavam entusiasmados. Iam participar de um espetacular projeto da marinha americana, o Vanguard, cujo objetivo era pôr em órbita o primeiro satélite construído pelo homem.

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Fernando tinha 22 anos (quatorze anos depois, ele se tornaria o primeiro diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, também em São José dos Campos). Ele e Júlio estavam empenhados em construir um receptor para receber sinais do primeiro satélite a entrar em órbita. Que eles, como o resto do mundo achavam que seria americano.

Mas, então, veio a surpresa: no dia 4 de outubro, passando na frente dos americanos, a União Soviética pôs em órbita o Sputnik, o primeiro satélite artificial. Era uma simples esfera de alumínio, de 58 centímetros de diâmetro e 84 quilos, voando a 900 quilômetros de altitude. Suas mensagens não iam além de um contínuo bip-bip. Os estudantes brasileiros conseguiram ouvi-lo, depois de gastarem uma semana adaptando o seu equipamento. Quanto ao Vanguard, acabou sendo abandonado.

Com toda a simplicidade, o Sputnik espantou o mundo. Provou que o homem podia voar no espaço. E com tecnologia russa, o que parecia ainda mais inesperado. Só não se admiraram homens como Sergei Korolev, genial e visionário cientista que desde o começo dos anos 50 defendia a viabilidade do programa espacial soviético. Para ele e sua equipe, que trabalhava numa base no meio da Sibéria, o grande feito era conseqüência lógica dos esforços de vários outros pioneiros, como Konstantin Tsiolkovsky. Seja como for, o precursor dos Intelsats, Iridiums e Shuttles mergulhou a União Soviética e os Estados Unidos numa aventura emocionante e arriscada. A corrida espacial, prolongando-se pelas décadas seguintes, não teve vencedores. Mas a humanidade, com certeza, saiu ganhando.

Imagine uma constelação de 60 satélites voando em formação precisa, como uma rede, sobre todo o planeta. Isso é o que algumas empresas vão começar a fazer, nos próximos anos. Imagine, agora, uma rede de quase 1 000 satélites. Esse é o plano delirante da empresa americana Teledesic Corporation, fundada no ano passado. Em seu sistema, grupos de 44 satélites cada um, flutuariam em 21 órbitas diferentes. Num total de 924 aparelhos.

Essa esquadrilha está ainda longe da realidade. Mas se chegar a levantar vôo, construirá a maior de todas as supervias de informações. Maior até que a Internet. Ela deve transmitir voz, dados, imagens e ligar computadores entre si. Custo: 9 bilhões de dólares. Início previsto das operações: 2001. “O sistema vai fazer seus concorrentes parecerem modestos”, diz Paul Verhoef, da Comissão Européia de Comunicação por Satélites.

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A Teledesic surgiu de uma idéia do engenheiro americano Edward Tuck, um dos principais fornecedores de equipamentos para os satélites Navstar. A ele se juntou Craig O. McCaw, dono da McCaw Cellular, maior empresa de telefonia celular nos Estados Unidos. Como precisava de mais dinheiro (e, principalmente, publicidade), McCaw convidou para o negócio o amigo Bill Gates, dono da Microsoft, maior fabricante mundial de sofware. Unidos, os nomes de Gates, McCaw e Tuck talvez acabem instalando as superconstelações entre as estrelas.

Para saber mais:

Computador via Embratel

(SUPER número 6, ano 6)

O perigo de batidas no céu

A multiplicação dos satélites cria problemas inevitáveis de trânsito. Mas será que existe o risco de trombadas no céu? Paul Verhoef, diretor da Comissão Européia de Comunicação por Satélites disse, em entrevista à SUPER, que não. “É praticamente impossível que um satélite bata em outro”, afirmou. As órbitas são muitas, e há espaço para todo mundo. Mesmo na órbita mais alta, de 35 860 quilômetros, na qual há hoje maior quantidade de naves, a situação parece tranqüila. O limite suportável é de cinqüenta vezes o número atual. Acima do limite, possíveis fragmentos de um satélite podem arrancar pedaços de outros aparelhos. É possível pensar numa espécie de “efeito dominó cósmico”. Mas a grande preocupação é com as faixa de freqüências (as transmissões são feitas por microondas, parecidas com ondas de rádio). Para Verhoef, vai ser difícil arrumar freqüências para todo mundo. E evitar que as transmissões de um sistema iinterfiram nas dos outros.

As órbitas de cada projeção

O projeto Inmarsat P é do consórcio Inmarsat, que opera comunicação móvel para aviões e navios. Seus satélites estarão mais alto que os concorrentes de órbita baixa (aquelas que estão até 2000 quilômetros de distância). Menos naves serão necessárias para cobrir o planeta. Empresas: KDD (Japão), Deustsche Telecom (Alemanha),British Telecom (Inglaterra), Comsat (EUA) e Embratel (Brasil). Custo: US$ 2,6 bilhões de dólares.

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As mensagens captadas por um satélite passam para os outros, até chegar ao destinatário. É uma inovação do Iridium e do Teledesic. O Iridium também funcionará numa faixa de freqüência exclusiva. Empresas envolvidas: Motorola (Estados Unidos), DDI, Sony, Mitsubishi (Japão). Custo: 3,4 bilhões de dólares.

Além das órbitas circulares, terá duas altamente elípticas (entre 520 e 7 800 quilômetros). Em órbitas elípticas, uma particularidade desse sistema, os satélites permanecem mais tempo sobre uma mesma região. A idéia é que o Ellipso dê prioridade ao hemisfério norte. Principais empresas envolvidas: Fairchild Space, IBM, MCHI e Westinghouse (Estados Unidos) e Israeli Aircraft (Israel). Custo: não divulgado.

Pretende cobrir grande parte da América Latina, África, Sudeste Asiático e Oceania. O ECCO reúne dois projetos. O ECO-8, Sistema Equatorial de Comunicação, foi proposto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Telebrás. O outro projeto, chamado Constellation, foi iniciativa das empresas Bell Atlantic, Texas Instruments e Martin Marietta (Estados Unidos). Custo: 400 milhões de dólares.

No Globalstar, os satélites vão estar diretamente conectados a “cabines telefônicas” no solo. Movidas a energia solar, elas podem ser instaladas até no deserto do Saara. Projetado pela americana Loral Qualcomm Satellite, é apoiado por companhias de telefonia como a Alcatel (França), Hyundai (Coréia) e Vodafone (Inglaterra). Custo: US$ 1,8 bilhões.

Os sonhos da Terra e do céu

O grande pioneiro da exploração espacial foi o cientista russo Konstantin Tsiolkovsky (1857-1935). De família pobre, surdo, o autodidata Tsiolkovsky estudou Química, Física, Matemática e Astronomia. Em 1895, publicou o livro Sonhos da Terra e do Céu, onde estabeleceu os princípios da astronáutica. Mostrou como as leis da mecânica clássica podiam funcionar na ausência da gravidade. Propôs modelos de foguetes, adivinhando muitas das suas características futuras, como sistemas de navegação e combustíveis.

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Foi o primeiro a descrever a possibilidade de o homem construir e colocar em órbita um satélite artificial: “Seu movimento seria como o da Lua”, escreveu. “Mas a posição do satélite poderia ser determinada arbitrariamente ao redor do nosso planeta, longe apenas o suficiente para estar fora da atmosfera”. Outro grande pioneiro, o americano Robert Hutchings Goddard (1882-1945), recebeu o nome de “pai dos foguetes”. Desconhecendo o trabalho de Tsiolkovsky, Goddard foi o primeiro a lançar um foguete movido a combustível líquido, em 16 de março de 1926. Ele vôou 56 metros, a 103 quilômetros por hora, durante 2,5 segundos. O terceiro pioneiro da astronáutica foi o alemão Hermann Oberth (1894-1989), cujo trabalho com foguetes deu forma ao primeiro dos grandes foguetes, o V-2 — criado pelo também alemão Wernher von Braun —, usado durante a Segunda Guerra Mundial.

Inventando o caminho

Uma característica do Teledesic é o sistema de “corrente”. Funciona assim: quando um canadense quer falar com um nigeriano, ele fala diretamente com o satélite mais próximo. Este, por sua vez, passa a mensagem à nave vizinha, dentro da constelação, e assim por diante. O Iridium também vai adotar esse sistema, mas somente para chamadas telefônicas, onde a quantidade de informação não é muito grande. O Teledesic quer lidar com grandes volumes de dados, como vídeo e multimídia, para fazer a comunicação entre computadores. Para Russell Daggatt, presidente da Teledesic, o sistema será “a estrada de acesso para a supervia de comunicações” de áreas rurais e de países que não possuem sistemas de transmissão por cabos de fibras óticas.

Guerra nas estrelas

Os satélites usam tecnologia do projeto Guerra nas Estrelas, do ex-presidente americano Ronald Reagan. Nesse projeto, hoje abandonado, 1 000 satélites em órbita baixa poderiam abater mísseis inimigos com lasers de alta potência. O número de aparelhos, suas órbitas e também o fato de se comunicarem uns com os outros foram aproveitados pelo Teledesic.

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