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Computador via Embratel

Junto às vozes e imagens, os satélites de comunicação transmitem conversas entre computadores, que agilizam a Justiça, descobrem cheques sem fundos e acompanham caminhoneiros pela estrada.

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Atualizado em 31 out 2016, 18h31 - Publicado em 31 Maio 1992, 22h00

Por Mônica Priolli e Marcelo Affini

Boiando a 36 000 quilômetros da Terra, os satélites de comunicação só costumam ser lembrados por quem fala ao telefone em ligações internacionais ou durante Copas do Mundo e Olimpíadas, quando se assiste da poltrona a jogos que estão sendo realizados em outros cantos do planeta. Mas eles não transportam apenas vozes e imagens humanas — esses satélites são também o caminho pelo qual transitam as conversas entre computadores espalhados pelo Brasil inteiro. O céu está cada dia mais coalhado de sinais digitais: entre os serviços oferecidos pela Empresa Brasileira de Telecomunicações, a Embratel, a comunicação de dados é o que mais fatura e, por isso mesmo, mais investimentos recebe.

Informações que antes circulavam por telefone, telex ou carta trafegam agora com muito mais rapidez entre um computador e outro. Se numa das pontas dessa linha estiver um equipamento portátil de transmissão e recepção, a conversa pode acontecer no meio de uma floresta, no mar ou no deserto. “Existe uma grande demanda por comunicação de dados no mercado”, explica o engenheiro Nelson Cabral, chefe da Divisão Comercial da Embratel. “Quando uma indústria cresce e descentraliza suas instalações, as filiais espalhadas por outras cidades precisam se comunicar com a matriz para que tudo funcione a contento” afirma. Para interligar empresas cujos braços se estendem a vários pontos distantes, a Embratel conta com a Renpac, ou Rede de Pacotes, uma série de computadores instalados nas principais cidades brasileiras, ligados entre si por satélite ou por via terrestre.

Essa rede permite conectar o computador de uma empresa, indústria ou instituição a qualquer outro, em qualquer lugar do Brasil ou do mundo. É o que se faz hoje na Justiça Federal, que tornou a vida dos advogados mais fácil desde que entrou na Renpac, há um ano. Como exemplifica o engenheiro Cabral, a vida na Justiça ficou mais fácil: “Se um advogado está trabalhando em uma cidade distante, na Amazônia, e em determinado momento precisa saber sobre o andamento de um processo em São Paulo, basta ligar o microcomputador, posicionar a antena parabólica portátil e acessar o computador da Justiça Federal”. explica Edson Rocha, diretor da secretaria de informática do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. “Em. instantes ele tem a informação que precisa.” Antes da utilização da Renpac, o advogado teria de se conformar com os custos e o cansaço de vários dias de viagem. A informatização da Justiça é uma mão na roda também para quem mora longe dos grandes centros. “Os advogados do interior de São Paulo já utilizam a Renpac para obter diretamente informações em suas cidades”, diz Rocha.

Tanto na Renpac como em qualquer outra rede é a conectividade que permite a vários computadores falar entre si ou com outros equipamentos, como telefone e telex. Essa ligação começa quando o sinal digital do computador passa por um modem, que o transforma em sinal analógico. Daí ele tem dois caminhos: ou segue por linhas telefônicas comuns ou vai pelo ar. Para voar, o sinal analógico sai da antena parabólica a bordo de ondas eletromagnéticas, neste caso na freqüência de microondas. Da antena o sinal segue para o satélite, e dali desce para outra antena parabólica na Terra, para ser convertido novamente em sinal digital e ser entendido por outro computador — tudo isso em frações de segundo.

Caso o destinatário da mensagem esteja ali na esquina, basta enviar os sinais por cabos telefônicos. Em lugar dos fios de cobre comuns, porém, já existem no Brasil algumas redes de fibras ópticas para interligar computadores. Dentro delas não viajam impulsos elétricos, mas pulsos de raios laser, o que permite ao sinal digital do computador entrar direto na linha, sem necessidade de transformação analógica. “Em São Paulo há uma rede de fibras ópticas, e nós estamos fazendo a ligação com o Rio de Janeiro por baixo do canteiro da Via Dutra”, informa Nelson Cabral. Até 1996, Florianópolis estará ligada a Fortaleza também por cabos de fibra óptica. Fortaleza será ligada aos Estados Unidos, pelo cabo submarino AMERICAS, e daí se pode falar com todo o planeta. Em breve, todas as capitais brasileiras estarão interligadas, o que vai reduzir significativamente o custo da transmissão.

Entre as várias tarefas da Renpac está a de recolher dados dos radares meteorológicos em todo o Brasil, que são depositados no computador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos (SP) para que sejam elaborados os mapas da previsão do tempo. É a Renpac também que possibilita ao Serviço de Proteção ao Crédito colocar à disposição de lojistas e empresários informações sobre o crédito de pessoas físicas e jurídicas. “Se um comerciante de qualquer lugar do Brasil quer saber se o cheque que está recebendo não foi furtado ou extraviado, ou se o seu emitente não passou cheques sem fundos antes, basta acessar o computador da Associação Comercial de São Paulo, que fornece os dados do cliente em 2 segundos”, conta Nelson Castilho, gerente de informática da Associação Comercial de São Paulo. Qualquer pessoa que tiver seus cheques roubados ou extraviados pode ligar para a Associação, colocar a informação no banco de dados e impedir que os gatunos usem seu dinheiro. A ligação é de computador a computador, sem telefone, os dados são recebidos e emitidos via Renpac.

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Aberta essa possibilidade, é claro que alguns computadores vão querer ficar conversando o dia todo sem parar. Para eles, a Embratel tem um serviço sob medida que comporta alto tráfego de informações. “São computadores como o do Bradesco, que se falam constantemente em alta velocidade”, lembra Mário Luís Alves, gerente comercial da Embratel. “Nesse caso, não há intermediação da Renpac. A ligação passa então a ser direta e dedicada, ou seja, em linha aberta o tempo todo.” Quando feita por satélite, a ligação dedicada é chamada Datasat; 600 agências do Bradesco falam com a matriz por esse canal. A ligação terrestre, utilizada pelas outras 1100 agências, é feita por um equipamento chamado Transdata. “Qualquer pessoa que tenha um microcomputador e um modem pode acompanhar a movimentação de sua conta em casa”, afirma Paulo Augusto Porto, diretor técnico de telecomunicações do Bradesco. Mais de 2000 empresas clientes do banco também falam direto com ele por computador. Mesmo quem não tem uma linha telefônica por perto como um fazendeiro do Pantanal Mato-grossense, pode gerenciar seus negócios sem sair de lá, desde que possua um Standard C.

Ultima palavra em transmissão de dados e textos, o Standard C é um equipamento portátil, que cabe numa maleta de viagem, com uma antena de 20 centímetros de diâmetro e uma unidade eletrônica de 20 centímetros de largura, 8 centímetros de altura e 30 centímetros de comprimento. Por meio do satélite — neste caso o Inmarsat, satélite marítimo internacional —, o Standard C permite a intercomunicação de quaisquer partes do mundo. E pode ser instalado ainda em uma unidade móvel, como um caminhão, navio, ônibus ou trem, permitindo a troca de informações com a base ou com outras unidades móveis.

Nas transportadoras, o Standard C será fonte extra de lucro. A Mercedes-Benz do Brasil já oferece caminhões com um opcional bem mais útil que um toca-fitas: um microcomputador desenvolvido especialmente para caminhoneiros e uma antena. Assim, se o motorista está levando uma carga para determinada cidade, e no meio do caminho a transportadora resolve mudar o destino da entrega, não é preciso esperar que o caminhoneiro encontre um telefone pela estrada para entrar em contato com o escritório. “Basta acionar o Standard C e passar a alteração de rota pelo micro imediatamente”, conta João de Matos, gerente de processamento de dados da Mercedes-Benz. Caso alguém pergunte “por que não usar um radioamador?”, os técnicos da empresa lembram que sinais de rádios às vezes somem quando entre as duas partes comunicantes está uma montanha ou coisa parecida. Como os dados do Standard C voam via satélite, não há lugar no Brasil que o sinal não alcance, o que torna o sistema 100% confiável.

Existe ainda uma outra anteninha que pode ser acoplada ao Standard C e fornecer a latitude, longitude e altitude do caminhão. “Para o caso de roubo, problemas mecânicos ou perda de rota, é um equipamento utilíssimo”, diz Nelson Cabral, da Embratel. Essa antena não aponta para os satélites de comunicação, mas para os GPS — Global Positioning System, ou sistema de posicionamento global —, uma rede de quase vinte satélites em órbita baixa, a cerca de 20 000 quilômetros da Terra, idealizada para localizar alvos em uso militar e há pouco tempo liberada para uso civil. Na Guerra do Golfo, cada unidade do Exército americano tinha uma anteninha dessa no capacete de algum soldado (ela tem o tamanho de um picolé). Os comandantes sabiam então a localização exata das tropas e dos tanques no meio do deserto com margem de erro de 1 metro. O engenheiro Cabral diz que a tecnologia que permite essa precisão não foi liberada para uso comercial, e hoje o serviço é oferecido para localização de pontos com margem de erro de 100 metros. “Tudo bem, o objetivo é saber onde está o caminhão, não acertar um míssel nele”, brinca.

O Standard C faz também um serviço de monitoragem a distância, ou telemetria, através de uma conexão que transmite informações por sensores. Ligados a uma turbina de hidrelétrica, é possível medir e obter dados como temperatura, rotação e volume de água sem ter que ir até a usina, como faz a Companhia Energética de São Paulo. Enquanto o Standard C transmite apenas dados e texto, a Embratel possui também o Standard A, equipamento que transmite dados, texto e voz. “É o que permite ligações telefônicas para passageiros de um navio em alto-mar” lembra Cabral. Contando com as facilidades da comunicação, não seria de espantar se esses mesmos passageiros estivessem muito bem informados sobre as últimas notícias, mesmo viajando há meses. Há pouco mais de um ano, os navios da Linea C, então num projeto inédito no mundo, começaram a levar a bordo informações quentes via Embratel. “Era época de eleição presidencial e de muitos boatos entre os passageiros dos navios”, lembra Sérgio Di Sevo, diretor administrativo da Linea C. “Resolvemos então instalar o Jornal do Dia para que os passageiros tivessem as informações precisas, mesmo em alto-mar.” O jornal chega a bordo através de um terminal do Correio Eletrônico STM 400.

“O STM 400 funciona exatamente como uma caixa postal”, resume Mário Luís Alves. “De um terminal de computador vem uma mensagem para alguém, que é guardada pelo STM 400. Dali a algum tempo, essa pessoa acessa sua caixa postal e lê a mensagem deixada.” Dentro desse esquema de correio eletrônico, o STM 400 funciona como um eficiente banco de informações. Indústrias automobilísticas colocam suas listas de preços e estoques na caixa postal. Dessa forma, as agências e revendedores em todo o Brasil podem manter esses dados sempre atualizados.

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Outras empresas utilizam o STM 400 sem ter necessariamente um micro na ponta do revendedor. Em vez do computador, é utilizado um coletor de dados, um aparelhinho de bolso que recolhe informações e faz pedidos. “Imagine um vendedor que trabalhe na região do interior da Bahia”, supõe Mário Alves. “Ele visita fazendas, recolhe pedidos e encomendas e os armazena no coletor de dados. No fim do dia, ele não precisa retornar à sede da empresa já que, de casa, ele conecta o coletor no telefone e despacha os pedidos para o STM 400. Aí é só a empresa abrir a caixa postal e recolher o serviço. “Alves acrescenta que pelo coletor é possível fazer ainda consultas sobre estoque, prazos de entrega ou crédito do comprador

Toda essa integração exige cada vez mais a necessidade da criação de padrões de comunicação. É aí que entra o E.D.I. — Eletronic Data Interchange, ou a troca eletrônica de documentos comerciais entre computadores segundo uma linguagem comum. “É uma comunicação de documentos padronizados totalmente eletrônica, sem papel”, explica Nelson Cabral. O E.D.I. começa a funcionar quando um vendedor faz um pedido. O computador recebe os dados, emite uma nota fiscal padrão com o nome do cliente. Ao mesmo tempo, o computador manda as informações para o computador da transportadora, dá baixa no estoque da empresa e envia o aviso de depósito para o computador do banco. Uma das principais vantagens do E.D.I. é que as empresas podem trabalhar com estoques mínimos, pois cada peça vendida pode ser imediatamente reposta, otimizando informações e custos. “O objetivo final do E.D.I. é reduzir os custos da produção”, analisa Cabral. “Conseqüentemente, caem os preços para o comprador.”

Para saber mais:

O beco tem saída

(SUPER número 2, ano 11)

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