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A Sociedade da Informação

De onde viemos já sabemos - mas para onde vamos mesmo?

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 28 fev 2001, 22h00

Não há como esgotar um assunto tão vasto e tão cheio de minúcias como o que está sendo abordado aqui. É muito interessante notar que, embora as histórias do computador e da Internet sejam muito recentes e estejam bem documentadas, ainda assim existem conflitos de interpretação de fatos. Será que exageramos a importância de alguns dos envolvidos e esquecemos de mencionar pessoas ou empresas que foram tão importantes quanto? Ou até mais? É possível. O poeta Fernando Pessoa escreveu, naquele estilo mais português, impossível dele: “O universo não é idéia minha. A minha idéia do universo é que é idéia minha”. Da mesma forma, este relato é apenas a idéia que os autores fazem do vasto universo dos computadores e da Internet. Nunca é demais relembrar outra frase, também atribuída a Pessoa: “Metade de mim delira, metade de mim pondera”. Ao rever qualquer história, ou quaisquer histórias, somos sempre como Pessoa, caixas ambulantes de ponderação e delírio. Cabe a quem lê recriar a sua versão da história e, novamente, do seu jeito, ser Pessoa.

Por isso, quando se entra no lado mais metafísico do assunto, aquele em que cada um tem a sua própria idéia e faz seu próprio julgamento, as certezas pessoais aumentam. As perguntas abaixo são muito ouvidas hoje, e as respostas espelham o ponto de vista e a experiência dos autores desta obra. Não são verdades universais, mas apenas tópicos para jogar mais lenha na fogueira virtual…

Já ouvi dizer que a Internet foi o meio de comunicação que mais rapidamente se expandiu no mundo, mas também ouvi falar que muito pouca gente tem acesso a ela. Qual das duas informações é a correta?

As duas. A primeira delas provavelmente você viu na estatística abaixo, que volta e meia é reproduzida em jornais e revistas:

Quantos anos cada mídia levou para conquistar 50 milhões de usuários

Telefone

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70

Rádio

38

Televisão

13

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Internet

5

Acontece que esses dados só fazem sentido se forem acrescidos de outros, que colocam um pouco mais em perspectiva o que realmente aconteceu:

Sistema

década do lançamento

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atingiu 50 milhões

…quando a população

…com um sistema

comercial no mundo

de usuários no ano…

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mundial era de…

para cada…

Telefone

1900

1970

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3,8 bilhões

76 pessoas

Rádio

1930

1968

3,7 bilhões

74 pessoas

Televisão

1950

1964

3,2 bilhões

64 pessoas

Internet

1990

1995

5,8 bilhões

116 pessoas

Portanto, a Internet se espalhou em menos tempo, mas ao atingir a marca dos 50 milhões de usuários estava bem menos presente nos lares do que qualquer um dos outros sistemas. É claro que hoje ainda há no mundo muito mais telefones e bem mais aparelhos de rádio e tevê do que internautas surfando. E isso não vai mudar num futuro próximo, até porque telefones, rádios e tevês são (e serão), por algum tempo ainda, muito mais baratos que um computador. Leve em conta também a possibilidade da convergência, ou seja, de, num futuro breve, utilizarmos um aparelho só, que será ao mesmo tempo telefone, TV e micro. No começo do século 21, contam-se no mundo 7 bilhões de humanos e cerca de 600 milhões de internautas. Cerca de 50% da população mundial ainda não tem telefones, que já estão por aí há muito tempo.

Jamais, em qualquer circunstância, uma tecnologia, mesmo o arado ou a foice, foi disponível para todos os humanos. Imaginar um mundo linear, inteiramente plano e pleno em suas necessidades é uma das mais insistentes utopias humanas. Jamais veremos toda uma humanidade conectada, letrada, com os mesmos padrões de comportamento e de conhecimento. Nem a palavra escrita, que já tem 5 mil anos, nem o livro, seu mais perfeito hardware, foram capazes desta proeza. Independente de fatores como a distribuição de renda e os níveis de escolaridade, os internautas continuarão a ser parte do mundo, como os letrados. É nessas horas que o termo vanguarda e o conceito de inovação distinguem uns de outros, e uma parte do todo se destaca, mesmo não sendo maioria ou regra dominante.

Tudo o que eu preciso saber está na Internet?

Muitas vezes, a gente não se dá conta de que a herança cultural ocidental se espalhou por via oral. Muito mais do que escrever, os sumérios, egípcios, gregos e romanos falavam. O melhor exemplo disso é a Bíblia: quatro autores relatam os mesmos fatos do Novo Testamento – e existem diferenças marcantes entre os relatos. A explicação é simples: os textos foram escritos quase um século depois que os fatos ocorreram e não havia nenhuma fonte escrita onde pesquisar. Tudo se baseou na tradição oral, que já havia sofrido todo tipo de influência após 100 anos.

Sócrates, o principal personagem de seu tempo e um dos filósofos mais citados de toda a história, jamais escreveu uma única linha. Só bateu papo. Nós acreditamos que os gladiadores diziam ao imperador “Os que vão morrer vos saúdam”, porque alguém, que estava na arquibancada do Coliseu, ouviu, contou para alguém, que contou para alguém, que contou para um escriba, que achou importante deixar registradas aquelas palavras. Foi a partir desses esforços isolados que surgiu uma espécie de consciência histórica, a de trazer o passado oral para o presente alfabetizado. Aos poucos o livro, como instituição, cativou a imaginação geral com tanta intensidade que passou a ser aceito como instrumento vital para os civilizados contemporâneos.

O que a Internet possibilita é a abertura da maior biblioteca do mundo, dentro da casa de cada pessoa. Muito da sabedoria – e do lixo – que a humanidade produziu está ali, na telinha, ao alcance de um simples enter. Acreditar piamente em tudo o que circula pela Internet é um engano tão grande quanto preferir ignorar a relevância do conhecimento que ela pode proporcionar. No fim, tudo se resume ao que era há 2000 anos: ouvir com atenção, falar com convicção e, principalmente, saber tirar as próprias conclusões. A Internet não é um fim, mas apenas um meio, o mais completo colocado à disposição da humanidade até hoje, para que a raça humana continue a desenvolver o maior presente que a natureza lhe deu: saber pensar.

É possível gostar ao mesmo tempo de música, matemática e Internet?

Muitos pais, preocupados porque seus filhos não desgrudam do teclado, acham que não. E isso é apenas uma atualização histórica: Nossos avós diziam que nossos pais precisavam parar de ler histórias em quadrinhos (os gibis). Já nossos pais nos aconselhavam a assistir menos televisão. Para muitos pais de hoje, a Internet faz o mesmo que a tevê de ontem e o gibi de anteontem: deseduca.

Na verdade, existe uma relação quase simbiótica entre a musicalidade (a música, uma arte), a transformação de seres e coisas em números (a matemática, uma técnica) e a expressão da palavra falada em letras e símbolos (a escrita, um processo). As três coisas são apenas formas diferentes de ordenar o pensamento e transformá-lo em linguagens acessíveis, compreendidas por todas as pessoas. A Internet não é uma ciência, nem uma técnica, nem um processo. É apenas uma janela por onde as gerações atuais podem enxergar o mundo e aprender. Uma versão bem mais atualizada e muito mais rápida que os quadrinhos e a tevê. Com a vantagem de permitir uma multiplicidade de escolha que nunca sequer passou pela cabeça de nossos avôs…

Existem o tempo real e o tempo virtual?

O pensador grego Heráclito disse, há 3 mil anos: “É na mudança que as coisas repousam”. E olha que naquela época as mudanças eram tremendamente lentas, se olharmos para elas com a ótica acelerada de nossos tempos. Imagine que alguém lhe peça para preparar um material sobre atualidade tecnológica para ser apresentado daqui a apenas seis meses. Voc�� se atreveria a escrevê-lo hoje?

A economia virtual repousa sobre as mudanças. É possível preparar uma agenda em tempo real (aquele em que uma semana vai de segunda a domingo e todos os dias têm 24 horas), mas ela pouco terá a ver com o tempo virtual (aquele em que tudo está em constante mutação e as sábias decisões de hoje cedo já não parecem mais tão sábias na hora do almoço, porque nesse meio tempo alguém apertou um botão na Malásia e provocou um efeito dominó no mundo inteiro). Embora isso pareça contraditório, fica a impressão de que o único tempo que existe de verdade é o virtual. Porque é nele – como pregava Heráclito – que as mudanças ocorrem. O tempo real é aquele em que tentamos fazer as mudanças se encaixarem na nossa agenda.

Haverá trabalho no futuro ou seremos todos consultores?

Uma vida de 60 anos equivale a 525 mil horas vividas. Alguém que trabalhe 8 horas diárias durante 30 anos terá trabalhado 80 mil horas durante toda a sua carreira profissional. Ou seja, apenas 15% das horas vividas, embora a maioria possa (e vá) afirmar que o trabalho consumiu 67% de sua existência.

O sono, as necessidades básicas e os cuidados com o organismo consomem outras 219 mil horas, 40% do total vivido. Restam, portanto, 226 mil horas para que cada um decida o que fazer com elas. Quase a metade da vida.

Admitindo que o mundo de hoje não é o melhor dos mundos, ele é, ainda assim, o melhor dos mundos que existiram até hoje. Nenhum saudosismo pode levar alguém a querer voltar a épocas onde havia escravidão, feudalismo, pestes, guerras, trevas culturais e, principalmente, uma expectativa de vida de 30 anos, em média.

Há exatos 100 anos um trabalhador francês dava um expediente de 14 horas diárias. A partir de 2001, está trabalhando apenas a metade, 7 horas. Nessa progressão (sim, é uma clara progressão, e nada indica que ela vá parar onde estamos hoje), chegaremos em breve a jornadas diárias de 5 horas. Ou 4. E não mais a cinco dias de expediente por semana, mas quatro, ou três. Quando isso ocorrer, um mundo completamente diferente substituirá o atual, e pouca gente consegue imaginar como ele será, até por falta de experiência anterior. É que, pela primeira vez, desde que o macaco desceu da árvore, há centenas de milhares de anos, o trabalho deixará de ser o centro de nossas vidas…

Você já deve ter ouvido alguém dizer: Eu trabalho 14 horas por dia, sete dias por semana. Acredite: isso não é bem dedicação extrema, é muito mais marketing pessoal. Ou então você entrou no túnel do tempo e deu de cara com um francês em 1901. Os hipertrabalhadores, se existem mesmo, são exceções. Porque ainda estão plugados na noção de que tempo físico é igual a produtividade. Eles terão mais dificuldade para se adaptar à sociedade da alta tecnologia, que libertará a raça humana da escravidão fabril e a deixará disponível para a educação permanente. Ou para mais lazer. Ou para não fazer nada.

Essa nova comunidade, a chamada Sociedade da Informação, está sendo criada agora. Ela se caracteriza por coisas como a abstração, a virtualidade, a conectividade e a qualidade do trabalho. E, como regra básica para que ela exista, as noções de tempo e de espaço que nortearam a humanidade nos últimos milênios terão que ser desmontadas e reestruturadas em uma nova ordem.

É claro que ainda não sabemos se melhorar a qualidade do trabalho vai significar mais ou menos trabalho, não do ponto de vista do tempo, mas da intensidade intelectual. Também não está claro se mais horas livres irão significar mais ócio ou mais negócio. Sabe-se apenas que o Homo faber vai se transformar em uma nova espécie, que pode ser o Homo ludens ou o Homo conectadus. Mas isso ainda não é bem conosco. Ainda. Nós talvez nem venhamos a ser os inquilinos desse novo mundo. Somos, por enquanto, os pedreiros que o estão construindo…

Vou ter de estudar pelo resto da vida?

Na era industrial, as organizações igreja, estado, exército, empresa funcionavam segundo suas próprias lógicas, que eram estanques e isolacionistas (ou, em outras palavras, cada uma achava que não tinha que dar satisfação de seus atos às demais). Então, quem ia para um seminário estudava apenas o suficiente para o desempenho da carreira clerical, sem se preocupar em entender a estrutura funcional do exército. Quem ia para uma empresa não estava preocupado em aprender as idiossincrasias do estado e vice-versa. O estudo era, portanto, direcionado a uma única atividade.

Na era pós-industrial, assistimos ao fenômeno oposto: à mescla das diversas lógicas organizacionais. Já era então preciso estudar um pouco mais para entender o suficiente sobre o funcionamento de outros setores. Foi uma época que rendeu frutos positivos e negativos: o estado montando e administrando empresas e a iniciativa privada buscando parcerias em setores antes ligados à igreja e ao exército.

Na era da nova tecnologia, os limites entre setores e as barreiras físicas estão sendo pulverizados. Ao mesmo tempo, desabam as catedrais cartoriais da sabedoria. Até bem pouco tempo atrás, um curso de engenharia demorava décadas para ficar obsoleto. Com as constantes mudanças da era da nova tecnologia, a base de aprendizado do engenheiro se expandiu para além das plantas e dos logaritmos: independente de sua especialização, é preciso que ele entenda, por exemplo, de sistemas de comunicação virtual. Caso contrário, sua educação ficará datada e ele terá de defender com unhas e dentes as únicas técnicas que conhece.

Assim, em qualquer setor, quatro anos de formação universitária básica já não são suficientes para preencher as necessidades do futuro próximo. E isso é simples de entender: há 80 anos, acontecia uma mudança tecnológica significativa a cada dez anos. E os cursos universitários já duravam quatro anos. Hoje em dia, ocorre uma mudança por ano, e os cursos continuam sendo de quatro anos. Proporcionalmente às necessidades, os cursos ficaram longos demais. Logo, é preciso complementá-los, constantemente.

É isso que na era da nova tecnologia se chama de formação permanente. O aprendizado à distância, sem sair de casa, deverá preencher uma boa parte daquele tempo livre que será gerado pela redução da jornada de trabalho. O documento que hoje chamamos de currículo será então parecido com qualquer coisa, menos com o que é hoje. Causaria espanto a gente pensar que os currículos serão atualizados por hora?

As empresas serão feitas para durar ou terão prazo de validade?

A Revolução Digital mudou o modo de cobrar impostos, de gerir negócios, de empregar recursos, de ensinar e de trabalhar. Criou profissões novas e aposentou outras, por absoluta obsolescência. Desordenou setores econômicos inteiros e redesenhou os arraigados parâmetros de produtividade das empresas. Ninguém, há meros 20 anos, imaginava que a sua empresa, forte e sólida, poderia ser vendida naquela mesma tarde.

Noções como autoridade, poder e subserviência vão sendo substituídas por autonomia, integração e autodesenvolvimento. Mas tem empresa que não é assim? Tem, de monte. Mas elas não controlarão o próprio destino. Há 4 mil anos, já havia povos vivendo na idade do bronze, enquanto outros seguiam satisfeitos com a pedra polida. Quem conquistou quem, nem é preciso consultar as enciclopédias para saber.

No ambiente moderno, os funcionários sabem os procedimentos e estratégias da empresa. Os temidos chefões dos anos 60 (aqueles que carimbavam confidencial em sua correspondência e administravam através da sonegação de informações) são hoje expostos ao ridículo. Eles ainda sobrevivem aqui e ali e defenderão até a morte seu direito medieval de gerenciar. Mas os novos administradores, mesmo que venham a ser vítimas temporárias de sistemas arcaicos, têm a obrigação de se preparar para o mundo que virá e não para o que está em extinção.

Portanto, as empresas podem – como sempre puderam – durar para sempre, desde que se renovem. O que mudou foi a velocidade da renovação.

Qual a influência da Internet nisso tudo?

Toda. O fenômeno atual tem como base o uso intensivo e ilimitado da comunicação interativa entre pessoas e entre empresas. A internet vem produzindo riqueza, promovendo o crescimento econômico e gerando novos empregos. E enterrando velhos princípios aplicados à economia, como a curva de Philips e as teorias de Thomas Malthus. Melhor ainda, a Internet cria desenvolvimento acelerado com inflação baixa. Para nós, brasileiros, acostumados que fomos a ter que escolher entre crescer com inflação ou conter a espiral inflacionária através da recessão, a nova onda soa como música aos nossos ouvidos.

Basta a gente voltar meros cinco ou seis anos no tempo. Quem se lembra, aí por 1995, da primeira discussão na empresa sobre abrir ou não um site na Internet? E, quando a decisão era abrir, a tarefa era confiada à área de marketing, que desenhava o site como um minioutdoor numa telinha de micro. Não era para vender nem para interagir com clientes e fornecedores, mas apenas para informar. Ou, pior ainda, só para ter um site, já que o concorrente tinha um. Quem, estando naquela mesa de reuniões, imaginaria que menos de mil dias depois muitas empresas estariam usando a Internet como seu canal privilegiado de contato com o mundo externo.

As universidades já não têm mais como objetivo preparar empregados competentes, mas empreendedores articulados, que depois poderão decidir se vão usar os conhecimentos adquiridos a serviço de uma empresa ou para abrir o seu próprio negócio. Uma recente pesquisa feita com universitários paulistanos mostra que já chegamos ao ponto de inflexão dessa curva: mais de 60% deles gostariam de trabalhar por conta própria depois de formados, mas menos de 10% arriscarão essa alternativa num primeiro momento. Olhando pelo lado positivo, a pesquisa revela que a cabeça da moçada já está feita – e que agora é só uma questão de tempo.

O que valerá mais no século 21?

Na era digital, a moeda forte de troca é a informação, acessível e universal. Independente da natureza da informação, a tecnologia necessária para transportá-la, editá-la ou armazená-la será a mesma e estará disponível em todo o mundo.

Com isso, haverá grandes bancos de dados interligados em redes nacionais e internacionais, associados a serviços seletivos e específicos. O usuário será um entre muitos milhões, mas ao mesmo tempo terá um tratamento único e personalizado, como nunca chegou a ter no supermercado em que, durante anos, fez suas compras todo fim de semana.

Essa situação está determinando o surgimento de um novo tipo de profissional, atualizado e com perfil de estrategista, que tem a capacidade de compreender, captar, analisar e interpretar a realidade de cada usuário. E, principalmente, de adaptar toda a tecnologia disponível a um atendimento rápido, eficiente e diferenciado. Quantos gabriéis por aí não se encantaram, no dia em que acessaram pela primeira vez um provedor, e na tela apareceu escrito: “Bom-dia, Gabriel”. E aí o Gabriel pensou: Impressionante, porque no posto onde eu abasteço o carro há anos os frentistas não sabem o meu nome. É essa primeira e inocente reação que, num breve futuro, vai se multiplicar à enésima potência: o Gabriel não irá mais ao posto: os postos, muitos, é que virão ao Gabriel.

A Sociedade da Informação colocará à disposição dos interessados um número fantástico de oportunidades individuais. Saber distingui-las e aproveitá-las é (sempre foi) uma questão individual. E nada será feito sem riscos ou seqüelas. No Brasil, chegamos atrasados à Revolução Industrial. Temos, agora, a chance de embarcar a tempo na era digital.

Quais serão as grandes empresas desse novo tempo?

Globalizadas e conglomeradas, as empresas de comunicação, informática e eletrônica é que ditarão a tônica dos novos tempos. E todas as outras – de qualquer setor – farão parte desse imenso quintal cibernético; caso contrário, se isolarão do mundo dos negócios.

Esse fenômeno de simbiose dos setores de comunicação, eletrônica e informática é algo que já surpreende, mas os limites da convergência dessa interconexão ainda não podem ser previstos. Uma das barreiras é (e será, durante algum tempo) o arcabouço legal e institucional de controle dessas empresas. As fronteiras físicas e os limites geográficos tenderão a desaparecer, e essa é uma idéia que certamente causa arrepios a muitos governos. Parece incrível, mas o que está acontecendo agora, longe do alcance das autoridades, é a montagem de um sistema muito maior que a Comunidade Européia, a Alca e o Mercosul juntos. De certa forma, um sistema pelo avesso, onde primeiro os usuários definem as próprias regras e depois os governos correm atrás para tentar enquadrá-las dentro de suas políticas legais, tributárias e territoriais, até perceber que seus parâmetros de controle não se ajustam à nova realidade.

O desenvolvimento se dará como a história da lesma que, de dia, sobe quatro metros numa parede e, de noite, escorrega três. O avanço e o retrocesso caminharão juntos durante um bom tempo, mas a grande diferença é que a lesma digital é turbinada. Os conglomerados de informação tecnológica e as empresas conectadas a eles acabarão finalmente prevalecendo e se tornarão a força propulsora da economia no século 21.

E eu, o que faço para acompanhar o ritmo?

Você tem a missão de juntar em uma só algumas profissões que até pouco tempo eram isoladas e tradicionais: as de bibliotecário, arquivista, engenheiro, programador e analista. Esse novo profissional não tem ainda um título para constar no crachá, mas vamos chamá-lo por enquanto de informata. Ele deverá estar apto a captar, filtrar, recuperar, distribuir e disseminar informações, para que a organização onde trabalha funcione melhor, mais rápida e eficientemente que suas concorrentes. O informata vai democratizar a informação, transformando-a num instrumento de treinamento, educação e progresso. Sua principal obrigação será a de gerar os meios para transformar a informação em ação. A segunda metade do século 20 viu nascer um profissional que nunca existira antes – e que não parecia importante no contexto das empresas até mostrar que era: o gestor de recursos humanos. Da mesma forma, o início do século 21 pertencerá ao gestor de informações. E não importa o que o informata estudou: pode ser engenharia, administ

ração, direito ou marketing. Tanto faz, pois ele vai ter de conhecer todas as outras e muitas mais…

Será que eu ainda vou ter meu próprio site na Internet?

Antes de mais nada, é preciso avaliar com extremo cuidado o crescimento dos portais de acesso. O mata-mata entre eles está implicando centralização da Internet e, portanto, derrocada de dois de seus mais sagrados princípios: a independência da auto-expressão e o trânsito livre pela rede. O que está ocorrendo é o contrário: o enclausuramento da informação em poucos portais. É como num clube: quem é sócio de um portal fica impossibilitado de freqüentar o conteúdo do outro. Isso pode até conduzir a uma outra Internet, muito mais exclusiva para alguns privilegiados, mas bem mais pobre para a grande massa do que aquela Internet que imaginávamos há cinco anos.

Folheando (ou acessando) a Bíblia, sempre um ponto de referência nas horas de dúvida e angústia, encontra-se uma passagem tão inspiradora quando assustadora, dependendo do ponto de vista. Quando o patriarca Abraão não hesita em Lhe oferecer o próprio filho em sacrifício, o Senhor suspende o infanticídio no último instante e premia Abraão. Diz-lhe que sua descendência será multiplicada como as estrelas no céu e os grãos de areia das praias, e que através dessa descendência todas as nações da Terra serão abençoadas. Até aí, ótimo. Mas então o Senhor complementa: “E, por teres obedecido à minha voz, tua espécie herdará o portal de teus inimigos”.

A Internet não foi criada para ser uma rede de inimigos. Nem um espaço para devoções ou sacrifícios. Muito pelo contrário, essencialmente ela é um reduto para companheiros de todos os povos, raças, origens e classes. Quando herdar o portal do inimigo começa a se transformar em um objetivo, quem vai pagar a conta serão os humildes e os puros de coração.

Você já está hoje na Internet, mesmo que não possua um site ou jamais tenha acessado a rede. Você é parte da rede como somos parte da humanidade e do meio ambiente.

Eu detesto computadores!

É normal. Na internet há centenas de sites do tipo Eu detesto catchup, Eu detesto reunião ou Eu detesto Mick Jagger. Sempre haverá quem deteste alguma coisa, e computadores não são exceção. Não é tanto uma questão de o que alguém detesta, mas por quê.

A maioria dos avessos ao computador vê nele o símbolo de uma mudança que ocorreu depressa demais. E, de uma forma ou de outra, a humanidade nunca tem sido muito favorável a mudanças bruscas. Há até quem deteste mudanças. Charles Chaplin, talvez o maior gênio da história do cinema, detestava o filme falado e foi o último cineasta a aderir a essa novidade tão óbvia quanto revolucionária. Hoje, há muita gente inteligente que se orgulha de não ter e-mail e excelentes escritores que decidiram não substituir sua velha máquina de escrever por um editor de textos.

No século 16, Galileu ofereceu uma visão totalmente nova do Universo, ao afirmar que a Terra girava em torno do Sol. Mas a Igreja Católica, confrontada com uma revelação que poderia abalar alguns de seus dogmas, ofereceu a Galileu duas escolhas: ou se retratar publicamente ou ser queimado na fogueira da Inquisição. Menos drásticos, mas igualmente cáusticos, foram os críticos de Charles Darwin no século 19: não podendo mais matar o autor, resolveram matar sua obra, ao proibir que seu livro A Origem das Espécies se transformasse em matéria de estudo e discussão nas escolas públicas. Mas há quem faça a opção pela não-mudança de forma consciente, e conviva muito bem com ela. João Cabral de Melo Neto, um dos maiores poetas brasileiros, nunca aceitou a mecanização de sua poesia. Preferia escrever à mão – e nem por isso seus versos tiveram menos brilho.

A era digital traz uma visão totalmente nova da sociedade, do progresso, do trabalho e da própria vida. Entre os que embarcaram nesse universo e os que preferem se manter no estágio anterior, começa a se abrir um abismo cada vez mais profundo. Pode-se argumentar que muito pior que a recusa em entrar por uma porta que leva a um futuro totalmente novo é a decisão de simplesmente ignorar a existência dessa porta. Pode-se até sugerir que os refratários pelo menos tentem e só depois decidam. Mas apenas isso: sugerir. Nunca obrigar. Mesmo a verdade da Internet, por mais verdadeira que já seja, não será, como nenhuma é, a verdade definitiva.

Então, o que é a verdade?

Foi a última pergunta que Pilatus fez a Jesus quase dois milênios atrás, para tentar entender tudo, de uma vez por todas.

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