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Humanos já consumiam leite antes que pudessem digeri-lo

Pesquisa sugere que pessoas que ocupavam o que é hoje o Quênia e o Sudão começaram a ingerir produtos lácteos há cerca de seis mil anos, quando o organismo humano ainda não produzia a enzima lactase.

Por Carolina Fioratti
27 jan 2021, 17h03

Uma análise publicada nesta quarta-feira (27) na revista Nature Communications mostrou que humanos que habitavam o continente africano começaram a consumir produtos derivados do leite há pelo menos seis mil anos – antes mesmo de desenvolverem uma mutação genética que permitisse digerir a lactose. 

As crianças sempre foram capazes de digerir o leite, afinal, ele é seu primeiro e único alimento no início da vida. Mas os humanos perdiam essa capacidade depois do desmame. Após uma série de mutações no DNA, o jogo virou e, mesmo crescidas, algumas pessoas passaram a produzir a enzima lactase, que quebra a lactose contida no leite, facilitando a digestão do alimento. Mas os cientistas ainda não sabiam dizer o que havia surgido primeiro: o costume de consumir leite e derivados ou a mutação. 

O novo estudo, feito por pesquisadores do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, na Alemanha, sugere que a prática de beber leite veio primeiro. Eles chegaram a essa conclusão após analisar o tártaro dentário de oito esqueletos escavados no Sudão e Quênia que tinham entre dois e seis mil anos. Nos fósseis, os pesquisadores buscaram proteínas específicas do leite que poderiam ter ficado presas ali – e encontraram. 

As proteínas observadas podem ter vindo diretamente do leite ou também do queijo e outros produtos lácteos fermentados que são consumidos não só na África como em todos os continentes até os dias de hoje. Mas, de acordo com um estudo envolvendo o DNA desses antigos africanos publicado em junho de 2020, eles ainda não haviam desenvolvido naquela época o gene da digestão do leite.

A escolha do continente africano como cenário de estudo não foi à toa. Os pesquisadores levaram em consideração o fato de, há pelo menos oito mil anos, já existirem ali sociedades que pastoreavam vacas, ovelhas e cabras. Além disso, hoje há pelo menos quatro mutações conhecidas na África de persistência da lactase (genes que permitem o consumo de lactose). A Europa, por sua vez, possui apenas uma.

Não se sabe ao certo porque a mutação ocorreu, mas há algumas suposições. A primeira hipótese é que a digestão da lactose ajudaria as pessoas a obter nutrientes do leite, o que representaria uma vantagem sobre seus companheiros intolerantes. Outra possibilidade conversa diretamente com a criação de animais, já que pastores com persistência da lactase poderiam obter nutrição de seus rebanhos sem matá-los. Em épocas de seca e escassez de alimentos, por exemplo, eles teriam uma fonte direta de líquido rico em proteínas. De toda forma, essa ainda é uma vantagem para poucos: cerca de 2/3 da população mundial não é capaz de digerir a lactose.

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