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Estudo que relacionava tabagismo a menor chance de ter Covid-19 é retirado do ar

A decisão foi tomada após os editores descobrirem que dois pesquisadores têm relação com a indústria do tabaco.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 13 mar 2024, 16h09 - Publicado em 28 abr 2021, 18h20

Uma pesquisa publicada em julho do ano passado afirmava que fumantes tinham menos chances de desenvolver Covid-19 do que quem não fuma. Agora, o artigo foi retirado do ar pelo periódico European Respiratory Journal após ser descoberto que dois autores possuem ligações com a indústria do tabaco.

O estudo havia analisado os resultados laboratoriais de 236.439 pacientes do México que fizeram o teste de covid-19. Desses, 89.756 testaram positivo para a doença. Após analisar características dos pacientes, os autores escrevem que “fumantes foram 23% menos propensos a serem diagnosticados com Covid-19 em comparação com não-fumantes”. E concluem que “o tabagismo não foi associado a quadros graves da doença”. Os resultados dos testes de Covid-19 e fichas dos pacientes foram obtidos por meio do Ministério da Saúde do México.

LEIA TAMBÉM: Covid-19: consumo de cigarro cresce, mas sucesso pra largar o vício também

Ao final de todo artigo científico, os pesquisadores devem declarar se há algum conflito de interesses que possa ter enviesado os resultados. Nesse estudo, os autores escreveram que não havia conflito de interesses. Essa afirmação, no entanto, era falsa.

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Os editores do periódico verificaram que o autor José M. Mier atua como consultor sobre redução de danos do tabaco para indústrias do setor. Já o autor Konstantinos Poulas trabalha como pesquisador da ONG grega NOSMOKE. A organização estuda e desenvolve cigarros eletrônicos alternativos, além de receber recursos da Foundation for a Smoke Free World (Fundação para um Mundo Livre de Fumo). Apesar do nome, a fundação é financiada pela Philip Morris, produtora do cigarro Marlboro.

A nota de retratação divulgada no European Respiratory Journal afirma que o periódico não teria publicado o estudo se soubesse da ligação dos autores com a indústria do cigarro. Os editores ainda afirmam que não encontraram falhas de conduta científica dos outros pesquisadores do estudo. Mesmo assim, a omissão de conflito de interesses foi suficiente para minar a credibilidade dos resultados.

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Os autores do artigo não concordaram com a decisão dos editores. Em nota enviada ao site Retraction Watch, o pesquisador Konstantinos Farsalinos, primeiro autor do trabalho, defende que “o conflito de interesses é irrelevante ao objetivo do estudo” e que só foi contactado após a decisão de retirar o artigo do ar. Ele também diz que se ofereceu para disponibilizar toda a base de dados usada na pesquisa, mas a proposta foi recusada.

Um outro artigo publicado no periódico BMJ Evidence-based Medicine analisou 15 estudos que apontam para o “paradoxo do fumante e a Covid-19”. Essas publicações também relacionam o cigarro a uma menor chance de contrair a doença. A análise conclui que os dados desses estudos ainda são limitados e questionáveis. A maioria deles não considera, por exemplo, há quanto tempo ou com que frequência o paciente fuma.

“Encontramos diversos vieses e lacunas nos resultados apresentados, que ainda precisam ser analisados”, escrevem os autores. “Afirmações de que o tabagismo possa proteger contra a covid-19 podem ser danosas à saúde pública e devem ser vistas com cuidado. Mesmo que o cigarro oferecesse algum efeito protetor contra a doença, isso dificilmente compensaria os diversos efeitos adversos do tabagismo”.

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