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O Massacre Racial de Tulsa

Em 31 de maio de 1921, começava um dos piores incidentes de violência racial de toda a história dos EUA - que teve até ataques aéreos sobre um bairro conhecido como a "Wall Street negra".

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 30 Maio 2022, 17h05 - Publicado em 31 Maio 2021, 18h30

Era segunda-feira, 30 de maio de 1921, quando um jovem negro chamado Dick Rowland entrou em um elevador. Ao que tudo indica, o engraxate de 19 anos se desequilibrou e, para não cair direto no chão, segurou os braços de Sarah Page, uma garota branca de 17 anos que trabalhava como operadora de cabine. No susto, a moça gritou, e Rowland foi visto correndo para fora do elevador. Pessoas que ouviram o barulho e observaram a “fuga” logo levantaram acusações de assédio contra o homem, que chegou a ser detido. Este foi o estopim de um dos piores massacres raciais da história norte-americana.

Antes de seguir para o episódio, vale contextualizar o cenário em que tudo aconteceu. Estamos na cidade de Tulsa, no Estado de Oklahoma, em uma época em que a segregação racial ainda era extremamente presente. Negros e brancos eram impedidos de frequentar os mesmos espaços, e trilhos ferroviários separavam as moradias das populações.

Ao norte dos trilhos, estava o distrito de Greenwood – região que começou a prosperar em 1905 após atrair uma série de comerciantes e empreendedores negros. O bairro contava com hospitais, jornais, igrejas, escolas, bibliotecas, cinema, restaurantes, entre vários outros estabelecimentos pertencentes a proprietários negros. O bairro também contava com moradores médicos, advogados, entre outros profissionais liberais. O local ficou popularmente conhecido como “Black Wall Street” (Wall Street Negra).

Mas a cidade de Tulsa não era nenhum paraíso. Após a Guerra de Secessão, que impulsionou a abolição da escravatura nos Estados Unidos, muitos sulistas que haviam sido donos de escravos se mudaram para a região de Oklahoma. O fim da Primeira Guerra Mundial também intensificou os problemas: os soldados precisavam ser reinseridos no mercado de trabalho, e a competição por emprego também gerou conflitos raciais em todo o país. 

O desenvolvimento social da população negra incomodava. Além disso, em 1915 entrava em ascensão a segunda fase da Ku Klux Klan, que reuniu entre três e seis milhões de membros neste período. O crescimento exponencial do grupo extremista contribuiu para ataques e linchamentos nos Estados Unidos.

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A interação no elevador entre Rowland e Page ocorreu no Drexel Building, único prédio no centro de Tulsa em que havia um banheiro permitido para negros. O engraxate foi detido e, no dia seguinte, acusado publicamente no jornal Tulsa Tribune. A imprensa não apenas noticiou a suposta tentativa de estupro como ainda publicou um editorial intitulado “Negro será linchado esta noite”. 

No ano anterior, um homem branco chamado Roy Belton já havia sido linchado em Tulsa por ter sequestrado e matado um taxista local. Um grupo de homens armados confrontaram o xerife da cidade e tiraram o homem da cadeia, levando-o depois para ser linchado em uma área isolada. Temendo que o mesmo se repetisse com Rowland, o xerife recém-eleito Willard M. McCullough organizou seus policiais e tentou espantar a massa de pessoas que se formava em frente ao tribunal. Eles não saíram. 

Enquanto isso, em outro canto da cidade, homens negros discutiam como evitar o linchamento de Rowland. Um grupo chegou a ir ao tribunal com armas a fim de defender o engraxate, mas o xerife assegurou que não haveria linchamento. Vendo o movimento, o grupo de pessoas branco, que estava em maior número, também buscaram suas armas. 

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Em determinado ponto, um homem branco tentou desarmar um homem negro, o que resultou em um tiro. A confusão começou aí. O grupo de pessoas negras recuaram para Greenwood, mas outro grupo de brancos foi atrás, saqueando armas e munições de lojas locais. Não havia mais alvos: todos os negros, envolvidos na confusão inicial ou não, estavam na mira dos tiros. Na madrugada do dia 1º de junho, os invasores passaram a colocar fogo nas casas e lojas. Os ataques não eram apenas em terra: alguns pilotos sobrevoavam o bairro lançando dinamites no bairro. 

Um relatório apresentado pela Comissão da Rebelião de Tulsa em fevereiro de 2001 reportou 39 mortos, sendo 26 negros e 13 brancos. A estimativa, porém, pode não condizer com a realidade, já que as vítimas relatam que muitos corpos foram jogados no rio Arkansas e em valas comuns. Historiadores acreditam que o valor real pode chegar na casa dos 300 mortos e 10 mil desabrigados, além de um prejuízo de US$ 1,8 milhão (cerca de US$ 27 milhões reajustados pela inflação). 

A jovem Sarah Page retirou a queixa contra Rowland. Por muito tempo, o Massacre de Tulsa foi tratado como tabu. Sobreviventes evitavam tocar no assunto e muitos de seus descendentes nem conheciam a história, que também não era citada nos livros de história americana. Recentemente, foi aberta uma nova investigação para procurar por valas comuns na região. Até o momento, os pesquisadores encontraram o que parecem ser restos mortais pertencentes a uma dúzia de pessoas envolvidas no evento.

O que um dia foi chamado de “Black Wall Street” abriga hoje apenas algumas poucas empresas de empreendedores negros. Alguns sobreviventes do massacre, já na faixa dos 105 anos, seguem buscando por reparações no Congresso americano.

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