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Robô recupera o primeiro pedaço de combustível derretido do reator nuclear de Fukushima

O pedaço de meio centímetro de material radioativo marca o começo de um processo de descomissionamento da usina que deve levar décadas

Por Bela Lobato
4 nov 2024, 19h00

Um robô de braço extensível, como uma vara de pescar, cortou um pedacinho de cascalho de dentro de uma construção abandonada. Depois, ele passou uma semana navegando em um labirinto interno e retornou aos humanos com um pedaço de 5 milímetros de combustível nuclear. É um momento histórico para a operação de desmonte e remoção dos rejeitos da usina nuclear de Fukushima Daiichi, que foi atingida por um terremoto e um tsunami em 2011. 

O pedacinho retirado foi do tamanho de um grão de granola: tem 5 milímetros e pesa 3 gramas. Mesmo assim, segundo a Tokyo Electric Power Company Holdings (TEPCO), que administra a usina, a amostra deve fornecer dados importantes para o planejamento estratégico do descomissionamento (a finalização completa das operações da usina). 

Funcionário da usina Fukushima olhando para as telas do computador.
(TOKYO ELECTRIC POWER COMPANY/Reprodução)

A missão ainda não está acabada até que se tenha certeza de que a radioatividade da amostra está abaixo de um padrão estabelecido. Aí então, ela poderá ser colocada com segurança em um contêiner, onde deve ficar pelos próximos séculos até se tornar segura. Depois disso, é só repetir com as cerca de 880 toneladas de combustível que ainda estão espalhados pelas ruínas da usina. 

O combustível se espalhou porque o sistema de resfriamento de Fukushima Daiichi parou de funcionar durante os desastres naturais de 2011, causando o derretimento dos três reatores. Assim, hoje as usinas são uma mistura bagunçada do combustível com materiais internos do reator, como zircônio, aço inoxidável, cabos elétricos, grades quebradas e concreto.

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O terremoto de 2011 no Japão teve magnitude 9 na escala Richter. Embora a escala não estipule um limite máximo, 9 é um dos níveis mais altos. Pelo menos 15,7 mil pessoas foram mortas, e mais de 130 mil ficaram desabrigadas após a destruição de 300 mil casas e prédios. As ondas do tsunami chegaram a 38 metros de altura, o equivalente a um prédio de 12 andares. 

Funcionário da usina Fukushima recolhendo tubo.
(TOKYO ELECTRIC POWER COMPANY/Reprodução)

Todo o material radioativo deve ser retirado e armazenado com segurança, já que a usina abandonada se localiza em um local litorâneo e sujeito a outros eventos sísmicos impactantes. 

A TEPCO estabeleceu uma meta de 30 a 40 anos para a limpeza completa dos reatores, mas especialistas afirmam que a previsão é otimista e deve ser atualizada para cerca de cem anos.

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A remoção do combustível derretido foi inicialmente planejada para começar no final de 2021, mas foi atrasada por questões técnicas. O processo começa tão lento porque ainda não se conhece precisamente as condições internas das usinas. 

A viagem de ida e volta do robô leva duas semanas para que ele consiga fazer manobras extremamente precisas, evitando colisões e ficar preso em passagens. Isso já aconteceu antes, e não é como se um humano pudesse simplesmente ir lá desencaixá-lo.

Aliás, o trabalho humano também é extremamente delicado na usina. Apesar de utilizarem as vestimentas de proteção máxima, a TEPCO limitou as operações a duas horas diárias para minimizar os riscos da radiação para os trabalhadores. Oito equipes de seis membros se revezam, sendo que cada grupo fica no máximo 15 minutos no local.

Há quem pense que seria mais simples se os japoneses repetissem o que foi feito em Chernobil, onde hoje é a Ucrânia. Lá, os detritos foram cobertos por estruturas de abrigo que impedem a saída da radiação. Mas a região tem o solo mais estável e o local pode ser isolado sem grandes prejuízos: o mesmo não é possível no Japão.

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