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As flores azuis brilhantes de Vincent van Gogh eram originalmente roxas

O pigmento vermelho desbotou com o tempo, deixando as íris violetas com o característico visual azul que conhecemos

Por Bela Lobato
25 nov 2024, 19h00

Em 8 de maio de 1889, o artista holandês Vincent van Gogh foi internado em um hospital psiquiátrico na França. Logo no dia seguinte, ele começou a pintar algumas flores que observava no jardim da instituição. O resultado é a obra Irises, que ficou famosa pelas flores azuis com a expressividade típica das obras de Van Gogh. Mas tem um detalhe: originalmente, as flores não eram azuis.

“Durante anos, quisemos realizar uma pesquisa sobre nossa Irises de van Gogh, uma pintura que está sempre em exibição no Getty”, disse o diretor do museu Timothy Potts em um comunicado. “O fechamento do museu durante a pandemia de Covid proporcionou uma oportunidade de trazer a pintura para o estúdio para uma extensa pesquisa e análise. Esta exposição mostra os resultados reveladores desses estudos”.

Espectroscopia de fluorescência de raios X de íris.
Espectroscopia de fluorescência de raios X de íris. (Getty Center, Los Angeles./Reprodução)

A pesquisa comprovou que, originalmente, as íris eram roxas. A tonalidade foi obtida a partir da mistura de dois pigmentos, um azul e um vermelho que era popular no final do século XIX, chamado lago de gerânio. Entretanto, o lago de gerânio é bem mais sensível à luz e desbotou muito com o tempo.

Outros elementos foram utilizados para confirmar a hipótese: um dia, no laboratório, os pesquisadores encontraram uma pequena área danificada na pintura de uma das íris azuis. Quando a removeram, levantaram a camada superior de tinta azul e viram a tinta roxa preservada por baixo. “Pudemos ver o roxo original de Van Gogh pela primeira vez em 130 anos”, disse a química Catherine Patterson, em comunicado.

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Pesquisadoras do Getty Museum analisam obra Irises, de Van Gogh.
Pesquisadoras do Getty Museum analisam obra Irises, de Van Gogh. (Getty Museum./Reprodução)

A suspeita sobre as cores das flores foi desencadeada, em parte, pelos próprios escritos de Van Gogh. No seu primeiro dia no hospital onde passaria um ano inteiro, após um período instável em que cortou a orelha esquerda, o artista escreveu uma carta para seu irmão, o negociante de arte Theo. 

Nela, van Gogh se mostra otimista sobre sua decisão de se internar, dizendo que “pouco a pouco posso considerar a loucura como uma doença como qualquer outra”. Ele também observa que está trabalhando em duas pinturas: “íris violeta e um arbusto lilás. … Dois temas tirados do jardim”.

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Quando a viu, mais tarde, Theo ficou impressionado com a obra. “Ela impressiona os olhos de longe. É um belo estudo cheio de ar e vida”, escreveu em uma carta para seu irmão. 

Theo apresentou a pintura ao Salon des Indépendants em Paris no final daquele ano. O crítico de arte francês Octave Mirbeau, um dos primeiros apoiadores de Van Gogh, foi o primeiro proprietário de Irises. “Como ele entendeu bem a natureza requintada das flores!”, Mirbeau escreveu.

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Os pesquisadores do Getty Museum também visitaram o hospital em que Van Gogh criou a obra. Nos jardins, eles encontraram arbustos floridos de íris violetas, como as mesmas da pintura. Durante a análise microscópica, também foi possível encontrar um fragmento de polém no meio das fibras da pintura – o que indica que ela foi realmente pintada ao ar livre.

As íris florescem no terreno da clínica psiquiátrica Saint-Paul-de-Mausole, onde Van Gogh foi internado em maio de 1889.
As íris florescem no terreno da clínica psiquiátrica Saint-Paul-de-Mausole, onde Van Gogh foi internado em maio de 1889. (Getty Museum./Reprodução)

“A visita me fez parar e pensar em Van Gogh como um cientista, como um observador, como alguém que faz parte de um ecossistema, colocando na tela o que ele estava vendo e experimentando”, disse Patterson.

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“Esse projeto também encapsula perfeitamente a interseção da arte e da ciência, algo que não vem à mente de muitas pessoas quando pensam em um museu”, disse, em comunicado, Michelle Tenggara, estagiária de pós-graduação em conservação de pinturas que participou da pesquisa. “Observar essa pintura sob o microscópio é uma maneira tão íntima de estudar o processo de pintura de Van Gogh – é hipnotizante!”

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