Consumo moderado de chocolate amargo pode diminuir risco de diabetes 2, diz estudo de Harvard
O resultado não se aplica ao chocolate ao leite, que está associado ao ganho de peso, concluiu pesquisa observacional com mais de 192 mil pessoas.
Consumir pequenas quantidades de chocolate amargo regularmente pode estar associado a menores chances de desenvolver diabetes tipo 2, concluiu um estudo feito por pesquisadores da Universidade Harvard. A mesma associação, porém, não foi observada com o chocolate ao leite.
As conclusões não são uma resposta definitiva, mas somam-se a evidências anteriores de que o chocolate amargo pode trazer benefícios para a saúde. Por outro lado, outras pesquisas já mostraram que o alimento pode estar associado com outros malefícios, como maior risco de desenvolver obesidade. A equipe de Harvard, porém, argumenta que a maioria das análises não diferencia entre os tipos de chocolate, e isso pode fazer toda a diferença.
A equipe acompanhou mais de 192 mil pessoas – a maioria enfermeiros e demais trabalhadores do setor de saúde – por 25 anos, com questionários médicos periódicos a cada quatro anos. Os voluntários não tinham histórico prévio de diabetes, doenças cardíacas ou câncer quando toparam entrar no estudo. O artigo foi publicado na revista científica BMJ.
Do total, quase 19 mil dos participantes desenvolveram diabetes tipo 2 ao longo do estudo. Ajustando por fatores como dieta, estilo de vida e outros fatores de risco, aqueles que tinham um consumo moderado de chocolate – de qualquer tipo – tiveram 10% menos chances de desenvolver a doença do que quem não comia o alimento ou consumia-o muito pouco.
Foi considerada um consumo “moderado” de chocolate a quantia de cinco porções por semana, sendo cada porção uma quantia aproximada de 28 gramas (ou seja, 141 gramas semanais).
Essa primeira análise não diferenciou entre tipos de chocolate, porque não havia dados de todos os participantes quanto a isso. Mas, com um subgrupo de 11.654 pessoas, foi possível fazer isto. Dessas, 4.771 desenvolveram diabetes tipo 2. Pessoas que consumiam até cinco porções de chocolate amargo mostraram um risco 21% menor da doença.
O mesmo efeito não foi demonstrado com o chocolate ao leite, porém. Pelo contrário: foi observado que quem consumia mais desse subtipo de guloseima apresentava mais chances de ganhar peso – o que é considerado um fator de risco para a doença.
Apesar da grande amostragem e um período de tempo relevante, o estudo é do tipo observacional, ou seja, as condições não foram controladas (como num ensaio clínico randomizado). Isso significa que os resultados não comprovam, necessariamente, uma causalidade direta, mas servem como indicativos para futuras pesquisas.
De qualquer forma, a equipe diz que, mesmo quando os dados foram ajustados para incluir outras variáveis (como estilo de vida dos participantes), o efeito permaneceu, o que indica uma influência robusta do chocolate.
Mas há uma limitação importante: no geral, o estudo só focou em quantias moderadas do chocolate; os resultados não podem ser extrapolados para quem come muito do doce, afirmam pesquisadores.
Novos estudos precisam ser feitos para confirmar os resultados e entender os possíveis mecanismos por trás do efeito, de preferência ensaios clínicos controlados.
Por que o chocolate amargo?
O chocolate amargo possui concentrações distintas de cacau, açúcar e leite do que o seu primo mais doce. O total de calorias e de gorduras, porém, não muda muito entre as variações.
Uma hipótese é que os flavonoides do chocolate possam ajudar. Flavonoides são compostos comumente presentes em frutas, legumes e chás, além do cacau, e já foi demonstrado que essas moléculas ajudam a melhorar a saúde do coração e prevenir o diabetes – mas o papel do chocolate nessa área nunca foi um consenso, devido a resultados conflitantes de estudos anteriores.
O chocolate amargo possui mais flavonoides do que o ao leite, o que poderia explicar os resultados.
“Embora o chocolate amargo e o ao leite tenham níveis semelhantes de calorias e gordura saturada, parece que os polifenois do chocolate amargo podem compensar os efeitos que a gordura e o açúcar têm no ganho de peso e no risco de diabetes”, diz Qi Sun, professor do Departamento de Nutrição e Epidemiologia de Harvard. “É uma diferença intrigante que vale a pena explorar mais.”
Mais de 830 milhões de pessoas no mundo convivem com diabetes no mundo, segundo a OMS, sendo o tipo 2 o mais comum, responsável por mais de 90% dos casos.
No tipo 1, o pâncreas não produz quantidades suficientes de insulina. No tipo 2, que se desenvolve ao longo da vida, o corpo até pode produzir o hormônio em quantidades suficientes, mas cria-se resistência à sua ação. Genética, obesidade, sedentarismo e dieta inadequada são os fatores de risco para essa versão da doença.