Conheça as técnicas avançadas de agricultura que fizeram o Império Inca prosperar no Peru
O sítio arqueológico de Moray revela um sistema de irrigação complexo e terraços "diferentões", inovações que permitiram plantar em climas e terrenos distintos.
No coração dos Andes, uma solução engenhosa de engenharia agrícola foi crucial para o sucesso do Império Inca, o maior império da história da América do Sul. Conhecidos como andenes, os terraços agrícolas permitiram que os incas superassem desafios ambientais extremos, como terrenos íngremes, temperaturas flutuantes e escassez de água.
Durante o auge da civilização Inca no século 15, os terraços ocupavam cerca de um milhão de hectares e contribuíram para a alimentação de dez milhões de pessoas que viveram sob o Império Inca. Nessa época, o território dessa civilização abrangia partes do Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Argentina.
Esses terraços têm origem em culturas andinas muito anteriores, que começaram a criá-los há mais de 4,5 mil anos, sendo posteriormente aperfeiçoados pelos incas. As estruturas consistem em plataformas niveladas com muros de pedra e preenchidas com brita e pedras de vários tamanhos que ajudam a reter água.
Além disso, as estruturas acumulam calor durante o dia e o liberam à noite, protegendo as plantações contra geadas severas – afinal, estamos falando de plantações em altitudes de mais de 3,5 mil metros acima do nível do mar.
Pense na dificuldade de distribuir bem a água em encostas tão íngremes, que facilmente produzem enxurradas destrutivas. Para proteger as plantações, os andenes utilizavam sistemas complexos de irrigação e reservatórios artificiais de água. Os sistemas inovadores aumentaram significativamente a produção e permitiram o cultivo de dezenas de espécies, como batatas, milho, quinoa e coca, mesmo em condições adversas.
A criatividade dos andenes também impressiona pelo aspecto visual. Em locais como o sítio arqueológico de Moray, no Peru, os terraços formam padrões geométricos, incluindo círculos concêntricos que criam microclimas com diferenças de temperatura de até 15°C entre os níveis.
Estudos indicam que Moray pode ter servido como uma estação experimental agrícola dos incas, onde práticas de cultivo como a hibridização e domesticação de espécies e a rotação de culturas eram testados. Além de uma imensa variedade de formatos de terraços, amostras de solo de várias regiões do império foram encontradas na região, indicando que ali, de fato, funcionava como um laboratório para todo aquele povo.
O sucesso agrícola dos incas estava integrado a uma organização comunitária eficiente. Após conquistar novos territórios, engenheiros incas construíam novos terraços e dividiam as terras em três partes: uma para o imperador, outra para fins religiosos e uma para a comunidade, com trabalho nas três porções dividido entre todos os trabalhadores.
Políticas como a mit’a – trabalho compulsório para construir infraestrutura – e a mitma – migração planejada para consolidar territórios conquistados – complementavam a estratégia agrícola. Essa abordagem ajudava a mitigar crises como secas e inundações, garantindo a estabilidade do império.
O impacto dos andenes foi tão significativo que até hoje eles são utilizados por agricultores andinos. Apesar de muitos terem sido abandonados após a chegada dos colonizadores espanhóis no século 16, o conhecimento foi transmitido entre gerações e continua sendo aplicado em regiões como o Vale Sagrado e o Cânion de Colca.
Recentemente, os andenes despertaram o interesse de pesquisadores como exemplo de agricultura sustentável. Organizações como a ONU destacam o potencial dessas técnicas para lidar com as mudanças climáticas, que pode provocar escassez de água, alterações nos padrões de umidade e temperatura e erosão do solo.