PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

Quando humanos domesticaram cães? Nova descoberta indica que foi antes do que se pensava

Encontrados no Alasca, ossos de cães de 12 mil anos podem reescrever a história dessa amizade entre espécies.

Por Bela Lobato
Atualizado em 6 dez 2024, 18h10 - Publicado em 6 dez 2024, 18h00

A história de que “o cão é o melhor amigo do homem” é antiga, mas pode ser ainda mais antiga do que se pensava. Uma escavação no estado americano do Alasca revelou indícios de convivência entre povos indígenas e cães há 12 mil anos – cerca de 2 mil anos antes dos registros anteriores mais antigos que tínhamos conhecimento.

“Pessoas como eu, que se interessam pelo povoamento das Américas, estão muito interessadas em saber se os primeiros americanos vieram com cães”, disse o principal autor do estudo, François Lanoë, em comunicado. “Até encontrar esses animais em sítios arqueológicos, só era possível especular sobre isso, mas era difícil provar de uma forma ou de outra.”

A pesquisa, publicada no último dia 4 na revista Science Advance, pode trazer justamente as evidências necessárias para provar a existência dessas relações estreitas entre cães e humanos. Em 2018, os pesquisadores encontraram uma tíbia (o osso da canela) de um cão que viveu há 12 mil anos. Já em 2023, não muito longe do local, cientistas descobriram uma mandíbula datada de 8 mil anos que também mostra sinais de domesticação.

Imagem do osso da perna.
Tíbia de canídeo encontrada no sítio arqueológico de Swan Point, datada em 12 mil anos. (François Lanoë/Faculdade de Antropologia da Universidade do Arizona/Reprodução)

O primeiro fóssil foi encontrado em um sítio arqueológico chamado Swan Point, no Alasca, que é o sítio mais antigo das Américas cuja idade é consenso entre pesquisadores (ao contrário de outros locais em que pesquisadores discutem diferentes teorias sobre as datações).

Continua após a publicidade

Mas como os cientistas sabem que esses cães eram domesticados e viviam com humanos? 

A análise química dos dois ossos revelou que a dieta dos cães era rica em salmão, e que eles comiam peixes regularmente. Isso não é comum para caninos selvagens da região e da época, que caçavam quase exclusivamente animais terrestres. A explicação mais provável para a presença de salmão na dieta dos peludos é a dependência dos humanos. “Essa é a prova final, porque os cães não vão atrás de salmão na natureza”, disse o arqueólogo Ben Potter, coautor do estudo.

Foto da mandíbula canina que foi desenterrada.
Mandíbula de cão que se alimentava de salmão encontrada no Alasca, datada em 8 mil anos. (Cortesia de Zach Smith/Reprodução)
Continua após a publicidade

Essa etapa em que humanos ofereciam comida aos caninos é importante para o processo de domesticação ao longo dos milênios. Foi a oferta de alimento e cuidado que fez os lobos se tornarem cada vez mais dóceis e companheiros.

Os pesquisadores estão confiantes de que o achado de Swan Point ajuda a estabelecer as primeiras relações próximas conhecidas entre humanos e caninos nas Américas. Mas ainda é muito cedo para dizer se a descoberta é o primeiro cão domesticado das Américas.

Compartilhe essa matéria via:
Continua após a publicidade

Isso porque os espécimes podem ser antigos demais para serem terem relações genéticas co outras populações de cães conhecidas e mais recentes, afirma Lanoë. “Do ponto de vista comportamental, eles parecem ser como cães, pois comiam salmão fornecido pelas pessoas”, disse Lanoë. “Mas, do ponto de vista genético, eles não têm relação com nada que conhecemos.”

Existe a hipótese, por exemplo, de que eles fossem mais parecido com os lobos atuais, só que domesticados, em vez dos cães atuais totalmente domesticados. É por isso que o estudo é valioso, diz Potter: “[O artigo] levanta a pergunta existencial: ‘o que é um cão?’” 

A pesquisa foi feita em parceria com a comunidade indígena Mendas Cha’ag que vive na região, representada pelo Conselho da Vila Healy Lake, que acompanhou os projetos dos pesquisadores e autorizou os testes genéticos nos ossos encontrados. “É pouco – mas é significativo – obter a devida permissão e respeitar aqueles que vivem na terra”, disse Evelynn Combs, arqueóloga e membro do Conselho, que não estava envolvida academicamente na pesquisa.

Continua após a publicidade
Foto dos pesquisadores desenterraram a mandíbula.
Escavação no sítio arqueológico de Hollembaek Hill, onde a mandíbula foi encontrada. (Cortesia de Joshua Reuther/Reprodução)

Segundo Combs, os cães são considerados companheiros místicos para os membros de Healy Lake. “Gosto muito da ideia de que existem registros, por mais antigo que sejam, dessa experiência cultural que pode ser repetida, a de ter esse relacionamento e esse nível de amor com meu cão”, disse ela. “Sei que, ao longo da história, esses relacionamentos sempre estiveram presentes. Eu realmente adoro o fato de podermos olhar para os registros e ver que, há milhares de anos, já tínhamos nossos companheiros.”

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.