O escritor norueguês tem peças e livros traduzidos para mais de 50 idiomas. Entenda um pouco das obras longas e profundas desse representante da literatura modernista.
A Academia Sueca anunciou o vencedor do Nobel de Literatura de 2023. O laureado foi o escritor, dramaturgo e poeta Jon Fosse, “por suas peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível”, nas palavras da instituição que entrega o prêmio.
Nascido em 1959, em Haugesund, na Noruega, Fosse soma mais de 40 peças, além de romances, coletâneas de poemas, ensaios, livros infantis e traduções. É comparado a grandes nomes da escrita modernista, como Franz Kafka e Samuel Beckett.
Ele é o quarto norueguês a receber o prêmio - a última foi a escritora Sigrid Undset (foto), em 1928. As obras de Fosse evocam emoções profundas, assim como ansiedades, inseguranças e questões sobre a vida e a morte.
Fosse estava dirigindo para sua casa quando recebeu a ligação do Nobel. Ele não ficou muito surpreso com a notícia: o escritor já estava se preparando mentalmente há alguns anos para essa possibilidade. Então tá.
O chamado "minimalismo Fosse" apresenta “situações cotidianas reconhecíveis em nossas próprias vidas”, afirma o comitê do prêmio. “Sua redução radical da linguagem e da ação dramática expressa as mais poderosas emoções de ansiedade e impotência nos termos mais simples.”
A língua norueguesa pode ser escrita em dois sistemas similares, porém distintos: Bokmål e Nynorsk. E Fosse opta por escrever por essa última – a forma menos comum no país.
A esmagadora maioria dos noruegueses (85%) usa o Bokmål, derivado do dinamarquês. O Nynorsk, por outro lado, foi criado no século 19 pelo linguista Ivar Aasen, que queria preservar o jeito tradicional dos dialetos noruegueses.
Fosse cresceu em uma região da Noruega conhecida por priorizar o Nynorsk, que é mais direta, compacta e com uso mais ativo de verbos. O minimalismo da gramática é refletido em seu estilo, que alcança o que há de mais profundo na existência humana.
Um dos seus trabalhos de maior destaque é “Septologia”, romance de mil páginas com sete partes, distribuídas em três volumes. A obra deve chegar no Brasil em 2024, pela editora Fósforo.
O livro narra os desafios de um velho artista em terminar uma de suas pinturas, enquanto conversa consigo mesmo como outra pessoa. O monólogo questiona como nos tornamos quem somos hoje. Fosse não usou nenhum ponto final na obra.
Obras de Fosse traduzidas incluem “Melancolia” e “É A Ales”. A primeira é sobre um pintor inseguro, chamado Lars Hertervig. O talento do jovem pobre é descoberto por mecenas e enviado para estudar na Alemanha, onde sofre com crises de ansiedade por suas habilidades.
Em “É A Ales”, uma mulher recorda como o seu marido, 20 anos antes, entrou num barco – e nunca mais voltou. Suas memórias são envoltas na perda e luto, e a única constante é o fiorde em que mora. Também não tem pontos finais, apenas vírgulas.
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