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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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As ilusões que Dilma, Marina e Aécio vendem como realidade

Dilma avisou que o Mantega está fora de um eventual segundo mandato. Então ficamos assim: pela primeira vez na história do mundo, um ministro da Fazenda é demitido com quatro meses de aviso prévio. E não foi demitido por causa das medidas inflacionárias em que, a essa altura da vida, ele ainda insiste. Nem por […]

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Atualizado em 21 dez 2016, 09h50 - Publicado em 8 set 2014, 18h20

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Dilma avisou que o Mantega está fora de um eventual segundo mandato. Então ficamos assim: pela primeira vez na história do mundo, um ministro da Fazenda é demitido com quatro meses de aviso prévio. E não foi demitido por causa das medidas inflacionárias em que, a essa altura da vida, ele ainda insiste. Nem por usar o mais anacrônico dos artificialismos econômicos, o congelamento de preços, como o centro de sua política. Nem por ter quebrado uma das indústrias mais promissoras do país, a do etanol. Não. Foi demitido porque caiu um avião com um candidato dentro, e a substituta dele virou a favorita. Não quero fazer campanha aqui. Acho que os três candidatos têm pontos positivos e negativos – e respeito quem confia em cada um dos três. Mas quem está no governo é a Dilma. E, com essa atitude, ela mostrou que não, não está no governo.

No fundo, isso é mais um problema que emerge daquilo que a nossa democracia tem de mais podre: colocar sempre a aparência à frente da realidade. Primeiro constrói o marketing, depois vê no que dá. É isso que Dilma faz ao vestir o manto da “mudança”, por mais que isso desafie a lógica  – quando você vota na situação, afinal, vota na continuidade de um projeto; se a situação se traveste de oposição, o que temos é marketagem rasteira. Não é diferente de maquiar as contas públicas com truques contábeis para transformar déficits em superávits, outra arte em que o governo tem se esmerado.

Mas o problema não é só nessa candidatura, claro. Aécio e Marina, que têm basicamente o mesmo programa para a economia, prometem um desafio às leis da física: fomentar o crescimento ao mesmo tempo em que apertam as rédeas contra a inflação. Um exemplo: as equipes econômicas dos dois dizem que vão tomar providências para aumentar as exportações. A providência que existe para isso é deixar o dólar subir – quanto mais caro fica o dólar aqui, mais baratos os nossos produtos ficam lá fora, e as exportações sobem. O problema é que deixar o dólar subir significa jogar mais reais dentro da nossa economia.

Só para a gente visualizar: o cara que importa US$ 100 milhões de soja converte seus dólares em reais para fazer a compra. Com o dólar a R, ele troca o dinheiro verde que tem na mão por R$ 200 milhões. E essa grana extra começa a circular na praça. Se o PIB crescer o equivalente a R$ 200 milhões em produtos e serviços enquanto esse dinheiro novo estiver girando, maravilha: esses reais vão ser absorvidos pela economia. Se não, se o PIB continuar na mesma, vamos ter R$ 200 milhões a mais circulando para comprar a mesma quantidade de produtos e serviços que existia antes. O que acontece, então? O preço desses produtos e serviços aumenta. O dinheiro novo gera inflação. Bom, se você vai lá e desvaloriza o real para vender mais soja, o risco de gerar inflação aumenta. Com o dólar a R$ 3, aqueles mesmos R$ 100 milhões vão se transformar em R$ 300 milhões. Para o produtor de soja fica tudo bem: ele ganha mais reais e pronto. Mas, para o resto, o efeito é menos bacana: mais pressão inflacionária.

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Mesmo assim, a ideia de desvalorizar o real para bombar as exportações não é ruim. No fundo, vamos produzir mais soja (e mais de tudo o que a gente exporta). Mais produção = mais empregos. Beleza. Mas a pressão inflacionária também cresce, como a gente viu. O que um governo faz, então, para aliviar essa pressão? Aumenta os juros. Subir juros significa tirar dinheiro de circulação. Com menos dinheiro por aí, menor o incentivo para que os preços subam. Mas isso também tem um efeito colateral. Com menos dinheiro girando, os bancos passam a ter menos crédito para vender. E menos crédito na praça = menos investimentos em produção. Menos produção, menos empregos.

Nenhum dos dois candidatos da oposição promete menos empregos para 2015. Mas se a ideia é priorizar o combate à inflação, um arrocho na criação de vagas faz parte do pacote. E tem o outro lado da moeda: se não, se a ideia for bombar a produção, o que vem de brinde é o risco de a inflação crescer.

Isso não significa uma maldição. Se tudo der certo, uma hora toda a produção do país, em todas as áreas, passa a crescer num ritmo mais forte. Aí é o melhor dos mundos: o próprio aumento do PIB passa a ser o agente que segura a inflação. E o governo não precisa mais usar os juros como freio de mão. O problema é que isso não acontece no momento em que alguém novo ganha as chaves do Palácio da Alvorada. É um processo que dura anos, e deixa mortos e feridos no caminho. A oposição sabe disso, tão bem quanto a Dilma sabe que demitiu o Mantega por marketing eleitoral. Mas eles não vão te dizer, porque não estão ali para falar de realidade. Estão ali para vender sonhos, e depois ver no que dá.

Isso já é algo grave em si. Por outro lado, não tem jeito: faz parte do jogo. O que não faz é chegar lá e governar deixando o marketing em primeiro plano, e a realidade em último. Mas tudo indica que vamos conviver cada vez mais com essa prática, por mais que ela só tenha um prognóstico possível: nunca dar em nada.

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