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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Rachaduras nas paredes do Universo

Depois do céu, tem outro céu. Sem estrelas. Se você voar alto o bastante, uma hora sai da Via Láctea. As estrelas vão ficar lá embaixo, confinadas em braços espirais. Mas ainda vai existir um céu, e ele será pontilhado de galáxias. E depois desse céu, tem outro céu. Sem galáxias. É o que os telescópios […]

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Atualizado em 21 dez 2016, 09h49 - Publicado em 12 fev 2016, 01h00

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Depois do céu, tem outro céu. Sem estrelas. Se você voar alto o bastante, uma hora sai da Via Láctea. As estrelas vão ficar lá embaixo, confinadas em braços espirais. Mas ainda vai existir um céu, e ele será pontilhado de galáxias. E depois desse céu, tem outro céu. Sem galáxias.

É o que os telescópios mostram. Para além das galáxias, o que existe é uma sopa de radiação. Um caldo onipresente – que os astrônomos chamam de “radiação cósmica de fundo”. “De fundo” porque permeia tudo o que dá para ver além do domínio das galáxias. Para qualquer canto que você apontar um telescópio, essa radiação vai estar lá. Na prática, elas formam as paredes do Universo. E foi nessas paredes que acabaram de fazer uma das descobertas mais bonitas da história.

Essas paredes já eram bem conhecidas. Elas são a maior evidência do Big Bang, e, de quebra, a maior amostra de que o senso comum não entende o que realmente foi o Big Bang. Para começar, a explosão que deu origem ao Universo não foi uma explosão. Ela AINDA É uma explosão. O Big Bang continua big bangando, porque o Cosmos continua expandindo. E cada vez mais rápido. Vivemos dentro de uma “explosão controlada”. Mais importante: o Big Bang não aconteceu em algum lugar distante nas profundezas do Cosmos. Ele aconteceu exatamente aí, onde você está agora. Ele aconteceu em Guarulhos, em Júpiter e na sua testa. Ao mesmo tempo. É que, há 13,7 bilhões de anos, tudo o que existe hoje na terra, no céu ou na sua cabeça, estava espremido no mesmo ponto. E do lado de fora desse ponto não existia um “lado de fora”. Não existia nada. Todo o espaço e tudo o que preenche o espaço estava contido lá. Tudo mesmo: da energia que forma os átomos do seus cílios ao espaço físico que separa São Paulo do Rio – ou a Via Láctea da Galáxia de Andrômeda. Tudo bem apertado, numa quantidade de espaço que caberia na ponta de um alfinete.

O Big Bang foi a expansão dessa quantidade de espaço. E ainda é, já que o espaço continua inflando como uma bexiga descomunal. Essa expansão, por sinal, chegou a ter uma fase especialmente acelerada – um período de trilionésimos de segundo que os astrônomos chamam de “inflação cósmica”. Para localizar melhor: o Big Bang, estritamente falando, foi o momento em que o Universo saiu do nada para virar algo do tamanho de uma partícula subatômica. Depois desse pequeno passo, veio o grande salto: a inflação cósmica. Foi aí que o Universo deixou de ser uma partícula e virou algo parecido com isso que a gente vê à noite pela janela (ainda sem estrelas, ou átomos, ou luz, mas ainda assim algo grande). Essa puberdade cósmica passou rápido. Uma fração de trilionésimo de segundo e já era: o ritmo da expansão voltou ao normal. Mas a inflação deixou rastros, resquícios daquele tempo especial, em que o Universo era uma partícula subatômica.

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Foi um desses rastros que o time do astrônomo John M. Kovac, do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, pode ter encontrado no céu do Polo Sul em 2014. Eles perceberam “rachaduras” nas paredes do Universo. Ondas, na verdade, permeando a radiação cósmica de fundo.

E aí que está a beleza da coisa. Por causa do seguinte: a ciência sabe que as forças da natureza se manifestam em forma de ondas. E existem quatro dessas forças. As duas mais ocultas são a nuclear forte e a nuclear fraca, que agem nos núcleos atômicos e são a fonte do que chamamos de “radiação”. Ambas são entendidas como ondas. A terceira é a força eletromagnética, que além de dar poder aos ímãs e manter as moléculas do seu corpo unidas, também pode ser testemunhada na forma de ondas bem visíveis: a luz é uma onda eletromagnética.  Mas tinha um buraco nessa história. Ninguém nunca tinha encontrado as ondas que deveriam formar a gravidade, justamente a mais óbvia das quatro forças.

No dia 11 de fevereiro de 2016 esse problema acabou, com o anúncio de que os cientistas do LIGO, um observatório dedicado a encontrar as furtivas ondas da gravidade, cumpriu seu objetivo. Agora será mais fácil estudar buracos negros, por exemplo, já que a única coisa detectável que eles emitem são ondas gravitacionais.

Mas a história dessas ondas vai mais longe. O time de Kovac, lá em 2014, disse ter encontrado um vestígio de onda gravitcional “impresso” no Cosmos. É que, se existem ondas visíveis nas paredes do Universo, como os caras teriam visto lá no Pólo Sul, ondas gravitacionais, provavelmente geradas pela violência da inflação cósmica – dá para imaginá-las como cicatrizes daquele crescimento fulminante. Para todos os efeitos, seriam fósseis vivos da adolescência tumultuada do Cosmos, marcas do tempo em que o Universo era uma só partícula.

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Ainda não existe consenso sobre se o achado deles se trata mesmo de ondas gravitacionais – existe até a hipótese de que a coisa era só poeira cósmica. Mesmo assim, a teoria de que a inflação cósmica criou estrias na paredes do Universo continua firme, só esperando mais evidências.  E ela serve para lembrar a gente de algo mais profundo: de que somos tão parte do Universo quanto na época em que estávamos todos juntos, ali, naquela ponta de alfinete.

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Publicado originalmente em março de 2014, atualizado em 12 de fevereiro de 2016

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