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Por Alexandre Versignassi
Blog do diretor de redação da SUPER e autor do livro "Crash - Uma Breve História da Economia", finalista do Prêmio Jabuti.
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Entenda de uma vez o que é o bitcoin

Ele não existe na forma de papel, e mesmo assim foi a moeda que mais valorizou em 2016. Saiba como a coisa funciona.

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Atualizado em 5 jan 2017, 12h30 - Publicado em 5 jan 2017, 09h35

O Bitcoin foi a moeda que mais se valorizou em 2016 – quase 150% em relação ao dólar. Mas resta a questão: bitcoin é uma moeda mesmo? Vamos ver. Questão número 1: o que é uma moeda at all?
Moeda é o seguinte. Vc e os seus amigos pegam e desistem de usar o real. Adotam no lugar folhas de sulfite com a sua assinatura. Se um amigo seu é pescador, outro é cabeleireiro e outro produz histórias em quadrinhos, já temos uma economia: o pescador vende comida pro cabeleireiro e recebe em troca folhas de sulfite assinadas que ele poderá usar para comprar quadrinhos. O cara dos quadrinhos, pela vez dele, poderá se alimentar sem ter de produzir quadrinhos para o pescador. Se ele vender umas tirinhas para o cabeleireiro, vai poder comprar comida com o pescador com as folhas de sulfite que recebeu.
Aumente essa rede para um universo com alguns milhões de agentes econômicos – pescadores, cabeleireiros, analistas de TI, arquitetos, comediantes de stand up – e você tem um país, uma entidade com moeda própria, e com um agente que produz essa moeda (um banco central). Esse moeda servirá para que os habitantes do seu país comprem o que o seu país produz.
Se o seu país não produz nada que interesse a outro país, sua moeda não valerá nada. Os outros países têm seus próprios peixes e seus próprios cabeleireiros, afinal.
Então o cabeleireiro pega e encontra uma mina de lítio no seu país. O pescador e o quadrinista talvez não se interessem pelo mineral. Mas o Elon Musk, da Tesla, que está prestes a levantar a maior fábrica de baterias de lítio do mundo, nos EUA, certamente vai querer.
O Elon Musk, porém, tem um problema. Ele não vive no seu país. Não possui as folhas de sulfite assinadas, necessárias para comprar qualquer coisa no seu país (lembre-se – vc e seus amigos deixaram de usar o real).
O que o Elon faz, então? Chega para você, que é o cara que assina as folhas de sulfite, e oferece uma cacetada da moeda dele (o dólar) em troca daquela que vc produz (as folhas de sulfite assinadas), de modo que possa comprar o lítio do cabeleireiro.
Você pode combinar com o Elon que vai dar uma unidade da sua moeda para cada dois dólares dele. Se ele aceitar, sua moeda já está valendo US$ 2. Nisso, quando o quadrinista quiser comprar um iPhone, ele troca com vc as folhas de sulfite dele por dólares do Elon, sai das suas fronteiras e compra o iPhone. Seu país jamais produziu um iPhone, mas sua moeda, que graças ao lítio ganhou valor no mercado internacional, agora serve para que os habitantes do seu país façam compras no exterior.
O real mesmo só tem valor pq o pessoal da gringa precisa de reais para comprar o petróleo, o minério de ferro e a soja que este país produz. Quanto mais demanda houver por essas mercadorias, mais o real vai se valorizar – por isso a nossa moeda estava valendo tanto quando a China despontou como um gigantesco comprador de petróleo, minério de ferro e soja.
De volta ao bitcoin. Ele é uma “folha de sulfite assinada” que não é emitida por país nenhum. Mas, por milagre, existe quem venda quadrinhos e cortes de cabelo em troca de Bitcoin, em vários países. São esses quadrihos e cortes de cabelo que conferem valor ao bitcoin. Quantos quadrinhos e cortes? Não muitos. O número de trasações diárias de câmbio envolvendo bitcoins é de 300 mil por dia – menos do que o número de transações diárias que envolvem a moeda da Croácia, o kuna (que serve para comprar dois dos maiores produtos de exportação da Croácia – serragem e transformadores elétricos).
Um dólar compra sete kunas. Já uma unidade de bitcoin compra mais de mil dólares.
Faz sentido? Para quem imagina que, nos próximos anos, haverá gente vendendo lítio, iPhones e minério de ferro em troca de bitcoins, faz. Mas isso ainda é só uma esperança: o que dá mesmo para comprar com bitcoin hoje são quadrinhos e cortes de cabelo nas Vilas Madalenas de Berlim e Nova York – geralmente vendidos por sujeitos de coque samurai que contam com vastas reservas de euros e dólares nas contas bancárias paternas.
Bom, outra dúvida que muita gente tem é sobre o caráter eletrônico do bitcoin. Mas isso não faz diferença. O real TAMBÉM é uma moeda eletrônica. Só 2% dos reais que existem na economia existem na forma de papel. O resto é código binário que flui entre contas bancárias. É impossível produzir reais eletrônicos e transferir para a sua conta. Com bitcoin é a mesma coisa – ele não existe na forma de papel, mas também é impossível vc produzi-los no seu computador. Você tem de comprar de alguém ou oferecer algum produto ou serviço para esse alguém em troca de bitcoins, e o suprimento é limitado – assim como o do real, ou o de qualquer outra moeda.
Então é isso: o bitcoin pode estar valendo mil dólares. Mas ainda é vento. Tudo o que lhe confere valor é a fé de que, um dia, ele terá valor de fato.

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