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Por Bruno Garattoni
Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.
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Imprensa chinesa muda de tom sobre a origem do coronavírus – e permite menção à hipótese de vazamento de laboratório

Mídia estatal começa a abordar a tese, ao mesmo tempo em que faz insinuações sobre laboratórios dos EUA; serviços de espionagem americanos teriam obtido banco de dados do Instituto de Virologia de Wuhan, que pode conter revelações sobre o caso

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Atualizado em 10 ago 2021, 16h54 - Publicado em 10 ago 2021, 15h56

Mídia estatal começa a abordar a tese, ao mesmo tempo em que faz insinuações sobre laboratórios dos EUA; serviços de espionagem americanos teriam obtido banco de dados do Instituto de Virologia de Wuhan, que pode conter revelações sobre o caso  

No primeiro semestre deste ano, com a hipótese de que o Sars-CoV-2 tenha se originado de um vazamento de laboratório ganhando espaço, a China optou por ignorá-la e defender a possibilidade de que o vírus teria surgido naturalmente em animais (ou chegado a Wuhan vindo de outro país, por meio de comida congelada). Mas, agora, o país começou a mudar de tom: permite que a tese de vazamento seja mencionada na imprensa estatal – ao mesmo tempo em que insinua, sem provas, que ele teria ocorrido não em Wuhan, mas em laboratórios dos EUA. 

Esse movimento ocorre em várias frentes. No dia 6 de agosto, o site estatal Global Times, que produz conteúdo em inglês, publicou uma entrevista com o americano Jeffrey Sachs, economista da Universidade Columbia e presidente da comissão do jornal científico Lancet sobre a Covid-19. O tema é a origem do vírus, e Sachs desenvolve um raciocínio inédito na mídia chinesa. Depois de mencionar a tese de que o Sars-CoV-2 tenha se originado em animais, ele explora a possibilidade de vazamento, “em que o vírus teria escapado durante pesquisas”. 

“Isso poderia ter acontecido se um pesquisador de campo, estudando morcegos, tivesse se infectado acidentalmente em campo. Ou poderia ter acontecido se um vírus em estudo num laboratório tivesse escapado de alguma forma”. “Ambas as hipóteses são possíveis. Não há nada na genética do Sars-CoV-2 que permita descartar uma delas.” 

A China sabia que Sachs iria dizer essas coisas, pois ele já fez isso na mídia ocidental. Portanto, ao escolher entrevistá-lo, o Global Times tomou uma decisão consciente: permitir a discussão da tese de vazamento. É uma grande mudança para a mídia chinesa, onde isso era tabu – costumava ser classificado como sinofobia, e sumariamente descartado, ou simplesmente ignorado.  

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Em seguida, Sachs menciona o envolvimento americano no caso: “Os EUA e a China estavam estudando vírus relacionados ao da Sars, em parcerias entre cientistas americanos e chineses. Essa pesquisa conjunta estava acontecendo em laboratórios dos EUA e no Instituto de Virologia de Wuhan. Por isso, não faz sentido que os EUA coloquem a culpa na China. Se de fato tiver acontecido um vazamento, ele pode ter ocorrido durante pesquisas financiadas pelos EUA”.

É verdade. Como mostramos na reportagem “A origem do vírus”, publicada em junho pela Super, o National Institutes of Health, do governo americano, custeou parcialmente as pesquisas com coronavírus no Instituto de Wuhan. Mas a estratégia de comunicação chinesa vai além do factual, e adentra o terreno da especulação pura.  

Em 6 de agosto, mesmo dia da entrevista com Sachs, a agência de notícias estatal Xinhua publicou a seguinte nota: “Internautas chineses lançam vídeo sobre Fort Detrick”. “O que é Fort Detrick? Por que seu laboratório foi fechado subitamente? Os surtos de EVALI (doença pulmonar causada por cigarro eletrônico), a pandemia de influenza e a Covid-19 têm relação com Fort Detrick?”, diz o texto, acompanhado pelo tal vídeo – que está fora do ar. Ontem, a Xinhua publicou a matéria “25 milhões de internautas assinam petição pedindo investigação em Fort Detrick”, na mesma linha. 

Fort Detrick, no Estado de Maryland, é o centro de pesquisas que desenvolveu o programa de armas biológicas dos EUA, extinto em 1969. Ainda realiza testes com patógenos, pretensamente para fins de defesa. Em 2019, a operação de seus laboratórios foi temporariamente interrompida por questões de segurança: na época, segundo o New York Times, o CDC (Center for Disease Control) reclamou que Fort Detrick não tinha “sistemas de descontaminação de água suficientes”. Mas não há, pelo menos com o que se sabe hoje, qualquer indício ou nexo causal conectando esse evento à pandemia. 

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Essa linha narrativa (aceitar que há dúvidas sobre a origem do vírus, e então imediatamente acusar os EUA) parece ser uma estratégia coordenada do governo chinês. No final de julho, o porta-voz do ministério de relações exteriores, Zhao Lijian, se manifestou sobre a tese de vazamento do vírus. Após admitir que a origem do Sars-CoV-2 não é uma questão resolvida, Lijian disparou: “Os EUA deveriam convidar especialistas da OMS para investigar Fort Detrick, e os mais de 200 laboratórios biológicos que eles possuem”.  

A nova postura da China surge em meio a uma mudança de expectativas. No final da semana passada a CNN americana noticiou, citando fontes do governo americano, que agências de inteligência dos EUA teriam obtido uma cópia do banco de dados do Instituto de Virologia de Wuhan

A análise desses documentos, em que estariam registradas todas as pesquisas feitas no local, pode trazer revelações importantes sobre a origem do Sars-CoV-2. A CNN dá a entender que os dados estão criptografados (e os americanos estariam usando supercomputadores para tentar quebrar as cifras). Em maio, o presidente Joe Biden deu 90 dias para que as agências de inteligência do país investigassem o tema. O prazo termina no final deste mês. 

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