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Por Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA)
A Terra é dos insetos, você só vive aqui porque eles deixam. Um blog para despertar a curiosidade de mamíferos que matam mosquitos e correm de abelhas.
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Os cupins desenvolveram a vacinação – e a praticam sem reclamar

Além de trocarem pequenas amostras de patógenos para se imunizarem, esses insetos evitam locais infestados, avisam os parceiros de ninho quando estão doentes e usam substâncias antissépticas.

Por Ives Haifig, Luiza Helena Bueno da Silva
Atualizado em 6 fev 2021, 10h44 - Publicado em 29 jan 2021, 17h10

O texto é dos convidados Ives Haifig, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), e Luiza Helena Bueno da Silva, doutoranda pelo programa de pós-graduação Evolução e Diversidade da UFABC. Ambos são colaboradores do Wikitermes, site de divulgação científica sobre cupins – onde o texto foi originalmente publicado. Acesse o site ou siga as redes sociais (Facebook e Instagram).

Os cupins às vezes são uma dor de cabeça, mas eles também precisam lidar com suas próprias dores de cabeça: exatamente como os seres humanos, estão sujeitos a bactérias, fungos e vírus, que podem causar diversas doenças.

O problema é que as sociedades desses insetos, exatamente como as nossas, funcionam na base da aglomeração. Em um cupinzeiro, milhares de insetos convivem próximos fisicamente e mantêm contato social constante entre si. Se um patógeno se transmite com facilidade entre indivíduos, a epidemia pode dizimar a colônia rapidamente.

Surtos, porém, são raros nos cupinzeiros. Não por falta de vontade dos patógenos – mas graças aos vários mecanismos de defesa contra agentes infecciosos que esses insetos desenvolveram. Um deles é semelhante à nossa vacinação.

Você já deve ter lido essa explicação por aí com alguma frequência por causa da pandemia de covid-19. Mas vamos repeti-la mesmo assim. Há essencialmente três métodos para fabricar uma vacina: usar um pedacinho do patógeno, uma versão morta do patógeno ou uma versão inativada do patógeno – para não falar em vacinas mais recentes, como as de RNA, que funcionam por um mecanismo mais sofisticado. Entenda aqui.

Cupins amontoados em um monte de terra.
(Tiago Carrijo/Reprodução)

Em todos os casos, a ideia é que o corpo passe a reconhecer o micróbio como corpo estranho. Ou melhor: um pedacinho do micróbio, que pode ser uma proteína ou um açúcar específico em sua superfície e serve para identificá-lo. Esse pedacinho-chave para a detecção ganha o nome de antígeno. É ao antígeno que os anticorpos vão aderir. 

Quando tomamos uma vacina antiviral, por exemplo, somos expostos a uma versão modificada do vírus – que não nos causa os sintomas da doença, mas possibilita que nosso sistema imunológico identifique o agente infeccioso por meio de um antígeno e forme uma memória imune. Assim, quando tivermos contato com o vírus real, nosso organismo saberá responder da forma mais rápida e eficiente, prevenindo a manifestação da doença.

A “vacina” dos cupins funciona quando um indivíduo contaminado transfere para seus companheiros de ninho uma dose bem pequena do patógeno que ele carrega. Isso acontece por meio do hábito rotineiro de limpeza mútua que esses insetos sociais possuem. Os cupins que tiveram esse contato apresentam uma infecção de baixa intensidade, sem apresentar sintomas da doença – mas desenvolvem uma proteção que os torna menos suscetíveis caso tenham contato novamente com o mesmo patógeno. Ou seja: se imunizam. 

No cupinzeiro, as “campanhas de vacinação” têm o mesmo objetivo que aqui na sociedade humana: alcançar a imunidade social. Ela ocorre quando há uma grande proporção de cupins imunizados em uma colônia, e isso corta as rotas do vírus conforme ele tenta “pular” de pessoa em pessoa. Observe as duas ilustrações abaixo – a segunda mostra como os insetos imunizados barram a proliferação do patógeno. 

Ilustração de cupins sem imunidade social.
(Arte/Superinteressante)
Ilustração de cupins com imunidade social.
(Arte/Superinteressante)

Esse fenômeno é conhecido como imunidade coletiva ou “imunidade de rebanho”.  O mesmo vale para as doenças que afligem humanos. Quando há muitas pessoas vacinadas, a propagação da doença diminui na população, beneficiando todos os membros do grupo. Assim, as vacinas não apenas evitam que os indivíduos vacinados contraiam doenças infecciosas – a imunização individual –, mas também beneficiam os membros do grupo não imunizados por meio da imunidade coletiva (a imunização social).

É importante lembrar que, em suas colônias, os cupins adotam ainda outras medidas para evitar a transmissão de doenças entre si. O senso de coletividade desses insetos inclui evitar locais infestados, avisar os companheiros de ninho quando se está doente e usar substâncias antissépticas. Todas lições que alguns de nós, Homo sapiens, ainda não colocamos em prática após um ano de pandemia – mas deveríamos, o mais rápido possível. 

Este é o terceiro post do blog Bzzzzz, em que pesquisadores membros do comitê científico da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) e outros cientistas colaboradores vão comentar a vida, os hábitos e a importância econômica de diversos insetos – além de nos atualizar sobre as mais recentes descobertas no campo desses pequenos artrópodes. Até a próxima!

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