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Estudos científicos e reflexões filosóficas para ajudar você a entender um pouco melhor os outros e a si mesmo. Por Ana Prado
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A vida de um moderador de comentários na internet

Por Ana Carolina Prado
Atualizado em 21 dez 2016, 08h50 - Publicado em 2 out 2014, 18h33

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É assim que a gente se sente às vezes

 

Ler comentários na internet é muitas vezes uma atividade masoquista. Ali você descobre que ideias básicas como “o nazismo é ruim” ou “direitos humanos são para todos, não importa gênero, cor ou orientação sexual” não são assim tão óbvios para todo mundo. Sempre haverá comentários preconceituosos, ignorantes e maldosos – e, talvez até pior que isso, pessoas para defendê-los.

Qual o motivo de tanto ódio na rede? Por que as pessoas acham que é ok falar barbaridades? Sugeri ao migo e editor Felipe van Deursen uma investigação sobre isso e as descobertas estão na SUPER deste mês.

Devo dizer, porém, que minha empolgação quase virou arrependimento: passar semanas no chorume da internet é realmente estressante e pode fazer você perder a fé na humanidade. E se quem lê essas coisas de vez em quando corre o risco de se deprimir, como deve ser para quem trabalha desde 2008 moderando comentários em grandes portais que atraem todo tipo de leitor? Como um extra aos leitores da revista, reproduzo aqui parte da conversa que tive, para a matéria, com uma moderadora desses comentários. Mantivemos sua identidade em sigilo para protegê-la de ataques na web.

 

Como os moderadores de conteúdo de usuários se preparam psicologicamente para o trabalho?

Moderar comentários é mais tranquilo que moderar vídeos e fotos. Os traumas em serviços como YouTube acontecem porque moderadores são obrigados a assistir a conteúdos que vão de gente mutilada a pedofilia. Em comentários de notícias a preocupação do treinamento é para que a pessoa tenha uma clara noção do que é crime.

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Eu perguntei isso porque eu mesma, fazendo essa matéria, passei semanas analisando comentários em matérias e eventos no Facebook e tem sido muito estressante. Queria saber como é pra você ter que trabalhar o tempo todo com isso. Rola uma impressão de que o mundo é horrível ou coisa assim?

Rola, e já teve casos de blogueiros que no início decidiram aprovar seus próprios comentários, mas ao ver o nível da participação decidiu terceirizar para não ficar estressado e passou a acompanhar somente o que foi aprovado em seu post. No caso dos blogueiros, a relação é pessoal. O público não gosta dele porque defende uma causa, e pegam pesado nas mensagens. No caso dos moderadores não tem esta relação – por isso o anonimato é importante.

O que mais assusta é o preconceito, que é muito forte no Brasil. O usuário brasileiro tem a sensação de impunidade: “posso comentar qualquer coisa que não vão chegar até mim, ou ainda, posso comentar porque a responsabilidade é de quem provê o serviço”.

 

Você acha que a maioria dos brasileiros é preconceituosa ou acha que esses comentários refletem a opinião de uma minoria barulhenta?

Tem dois pontos diferentes quando se trata de comentários online. Uma é que eles fogem do eixo das grandes cidades. Pessoas de ponta a ponta do país estão comentando e você percebe que o que é senso comum na sua vizinhança não vale para o resto. Outra é que as pessoas, muitas vezes encobertas por perfis falsos, aproveitam para falar o que realmente pensam – e se mostram mais preconceituosos do que a gente imaginaria.

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Mas, no geral, vocês recebem mais comentários negativos e preconceituosos mesmo ou é algo equilibrado?

Depende do tema e da comunidade. Em notícias sobre reality shows, por exemplo, os comentários são bem críticos ao programa de maneira geral. Mas qualquer enquete na internet perguntando “quem vai sair no paredão de hoje” tem milhões de participações defendendo Marcelo ou outro participante. Negativo, sempre, é com relação à política do país, seja qual for o partido. Outro exemplo: uma notícia do falecimento de um famoso (ou doença grave) gera, na grande maioria, comentários de condolências ou apoio. Se a personalidade é um político, é “vai com Deus” ou “tomara que morra”.

 

Esse trabalho mudou sua visão de mundo?

Você fica antenada com todas as manchetes que causam repercussão pelo país e tem uma visão bem ampla dos temas, conhecendo os diferentes pontos de vista.

Há pessoas horríveis, e de certa forma funciona como alerta para você não confiar em tudo e em todos. Mas tem pessoas boas também. Se for só ficar no pessimismo e amargura com tudo que está errado não há como viver.

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Quais são os piores tipos de comentaristas da internet?

São aqueles que conhecem os limites do que pode ser publicado, nunca ofendem ninguém, mas as mensagens são campeãs da discórdia. Se eles veem uma notícia em que as pessoas que comentam gostam de uma celebridade, entram só para falar mal dela e irritar o público. Você não pode bani-la porque elas estão dentro das regras, mas muita gente se revolta e perde a linha com o usuário – e no final essas pessoas é que acabam bloqueadas. Certa vez conheci um troll que adorava falar mal da Apple em fóruns e descobri que ele tinha um iPad. Gostava de entrar para causar e acabar com os fanboys. Nesses casos o melhor é não responder porque, como falei, é muito provável que ele esteja lá apenas para rir da indignação que causou.

 

Você vê um futuro em que as pessoas vão aprender a ser mais civilizadas na internet ou acha que contar com o bom senso das pessoas ainda não é realista?

Acredito que sim, a internet é uma extensão da sociedade. Basta retroceder 50 anos na história e ver como evoluímos. Um exemplo de mãe: na minha infância era comum um personagem de desenho animado fumando – hoje sabemos que isto é um absurdo e evitamos mostrar aos filhos. Só não dá para esperar que seja da noite para o dia. Talvez, quando acontecer, a internet como a conhecemos hoje nem exista mais.

 

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