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Histórias esquecidas sobre os assuntos mais quentes do dia a dia. Por Felipe van Deursen, autor do livro "3 Mil Anos de Guerra"
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A bomba de Hiroshima foi um assassinato em massa desnecessário

Um ato claro, deliberado e ridiculamente desproporcional de vingança.

Por Felipe van Deursen Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 ago 2020, 12h06 - Publicado em 4 ago 2017, 19h49
O cogumelo da devastação de Hiroshima. (Reprodução/Reprodução)

“Os japoneses começaram essa guerra pelo ar em Pearl Harbor (…) É uma bomba atômica. É o aproveitamento da energia básica do Universo. A força de onde o Sol tira seu poder foi liberada sobre aqueles que trouxeram a guerra ao Extremo Oriente. (…) Foi para poupar o povo japonês da completa destruição que o ultimato de 26 de julho foi emitido em Potsdam. Seus líderes prontamente o rejeitaram. Se eles não aceitam os nossos termos, que esperem uma chuva de ruína do ar, como nunca antes vista neste planeta.”   

 

Poderia ser algum vilão de seriado japonês ameaçando destruir a Terra. Mas era o presidente americano, Harry Truman, discursando à nação em 6 de agosto de 1945, após autorizar a explosão da bomba atômica sobre Hiroshima. Dois dias depois, os Estados Unidos repetiram a dose em Nagasaki.

Em 1941, os japoneses realizaram um ataque surpresa à base americana de Pearl Harbor, matando 2.500 pessoas. Pelo discurso do presidente, fica claro que a bomba atômica era uma vendeta em forma de cogumelo. Nesse ato claro, deliberado e ridiculamente desproporcional de vingança, Truman fulminou cerca de 170 mil pessoas.

“Naquele tempo, havia tanto ódio dos japoneses que quanto mais matávamos melhor nos sentíamos, porque isso significava que haveria menos deles para enfrentar durante a invasão”, disse Russell Gackenbach, que participou da operação, no documentário Hiroshima (BBC). Hoje há quem diga que as bombas, na verdade, pouparam muito mais sofrimento e mortes ao povo japonês.

Sabe quem é relativizado pelo mesmo argumento? Não, não é Hitler. Mas alguém que matou muito mais: Gêngis Khan. As hordas mongóis faziam estardalhaço antes de chegar a uma cidade, criando uma atmosfera de medo que permitiria que muitos fugissem antes que elas chegassem avassaladoras. Há estudiosos que argumentam que Gêngis e seus seguidores teriam matado ainda mais do que as 40 milhões de vidas que eles deixaram pelo caminho entre a China e a Ucrânia. 

Pode soar estranho comparar Harry Truman com Gêngis Khan. Mas, para especialistas como Daniel Goldhagen, ele está no mesmo balaio que Hitler, Stalin, Pol Pot ou Mao. Ou seja, um pleno assassino em massa do século 20. No livro Worse than War, o cientista político e especialista em grandes atrocidades explica que Truman pode não ter sido um monstro como os quatro citados, pois os ataques nucleares ao Japão não foram atos deliberados de perseguição nem um projeto bizarro de uma nova nação, tampouco foram acompanhados de outros atos horrendos contra seu próprio povo, como aconteceu na União Soviética, no Camboja e na China. Além disso, a guerra mais sanguinária de todos os tempos, em que japoneses e americanos eram inimigos mortais, era o contexto.

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Nagazaki, 1945 (Reprodução/Reprodução)

Mas isso não exime a culpa da Casa Branca. Truman sabia que as bombas despejadas sobre Hiroshima e Nagazaki matariam milhares de civis japoneses, que não estavam envolvidos em nenhuma operação militar. Ainda assim, ele chamou o ataque de “o maior feito da história”. Apesar da defesa de que o terror atômico foi necessário para encerrar a guerra, algo que muitos americanos veem como verdade inquestionável, Truman e seus conselheiros de guerra tinham pleno conhecimento de que não havia necessidade de incinerar duas cidades inteiras.

O comandante supremo das forças aliadas na Europa, Dwight Eisenhower (que sucederia Truman na presidência), declarou que os ataques eram totalmente dispensáveis, pois o Japão já estava derrotado. Além disso, as bombas não seriam úteis para salvar vidas americanas e os Estados Unidos deveriam evitar chocar a opinião pública mundial. Havia planos alternativos para derrotar o Japão, e a superioridade aérea dos americanos faria os japoneses sucumbirem, mais cedo ou mais tarde. Fora que não foi apenas Hiroshima que encerrou a guerra. Ao mesmo tempo, os soviéticos invadiram a Manchúria e outras colônias japonesas, em 8 de agosto de 1945 – um plano que os Aliados sabiam que aconteceria.

Mas Truman, apoiado por 85% da população, ordenou que o Enola Gay cuspisse a Little Boy naquele 6 de agosto de 1945. Muitos defendem que uma invasão ao arquipélago seria ainda pior, matando 500 mil americanos, o que é outro mito propagado até hoje. O comitê de planos de guerra estimava em 40 mil soldados americanos mortos.  

Mas a questão não é essa. “E se houvesse uma invasão no país e Truman ordenasse os soldados americanos a atirar em 140 mil civis, homens, mulheres e crianças? E, três dias depois, mandasse seus homens fuzilarem mais 70 mil homens, mulheres e crianças em outra cidade? Não chamaríamos essa matança de assassinato em massa?”, questiona Goldhagen.

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Parar de tapar o sol da história com a peneira da hipocrisia é o primeiro passo.

Assista ao discurso de Truman:

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Histórias como essa estão no livro 3 Mil Anos de Guerra, da SUPER:

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