Assine SUPER por R$2,00/semana
Imagem Blog

Conta Outra Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Histórias esquecidas sobre os assuntos mais quentes do dia a dia. Por Felipe van Deursen, autor do livro "3 Mil Anos de Guerra"
Continua após publicidade

Como o mosquito da dengue (e do zika) fez São Paulo se tornar uma metrópole

Locomotiva? Nem da província. Antes da H1N1, a doença da vez em São Paulo era o zika. Um assunto até então anedótico, mas que colocou o Brasil no centro do mundo, do ponto de vista da OMS, quando o surto se globalizou. O vírus zika, você sabe, é transmitido pelo mesmo mosquito que causa a […]

Por Felipe van Deursen
Atualizado em 21 dez 2016, 08h50 - Publicado em 14 abr 2016, 15h59

sao-paulo-sec19

Locomotiva? Nem da província.

Antes da H1N1, a doença da vez em São Paulo era o zika. Um assunto até então anedótico, mas que colocou o Brasil no centro do mundo, do ponto de vista da OMS, quando o surto se globalizou. O vírus zika, você sabe, é transmitido pelo mesmo mosquito que causa a dengue, o Aedes aegypti. Os casos de dengue, já uma relativamente velha conhecida nossa, também dispararam na cidade: 144% em janeiro, em relação ao mesmo mês do ano passado, embora o total dos primeiros meses de 2016 tenha ficado abaixo de 2015.

Quanto ao zika, o número de suspeitos saltou de 76 para 224. De chicungunya, outra doença causada pelo vírus e que entrou no nosso papo de botequim, os suspeitos de estarem infectados em 2015 eram 728 até 6 de abril. No mesmo período esse ano, 1.237.

Talvez exageradamente, já que a humanidade ainda não aprendeu a lidar direito com epidemias, o Aedes se tornou o grande vilão da cidade de São Paulo (e de boa parte do Sudeste e do Brasil, sim, mas a história aqui é sobre SP). É bom lembrar que o mosquito não transmite apenas as doenças acima. Essa máquina de epidemias também é responsável por outra velha conhecida, mas que anda meio  esquecida, a febre amarela.

Continua após a publicidade

E foi um surto de febre amarela que ajudou São Paulo a se tornar a maior metrópole da América do Sul.

São Paulo é uma cidade antiga (em termos brasileiros), mas a maior parte de sua existência foi aos trancos e barrancos. Em vários períodos da história ela quase foi apagada do mapa. Ataques de índios, debandada da população na corrida do ouro e o declínio da era dos bandeirantes deixaram a então cidadezinha quase a ponto de morrer, em diversas vezes.

No século 19, quando começava a se desenvolver, São Paulo não era a locomotiva do Brasil, nem mesmo da província (como os estados eram chamados no império). Havia outras rivais para o posto. Santos se firmava como um grande porto e Campinas era o centro da economia cafeeira. Em 1869, um historiador previu que Santos se tornaria o grande polo econômico da província.

Vintage engraving of a street in Santos, Sao Paulo, Brazil. Ferdinand Hirts Geographische Bildertafeln,1886.
Em meados do século retrasado, a economia de Santos tinha o mesmo peso da de São Paulo (imagem: duncan1890 |istock)

 

Continua após a publicidade

A geografia ajudou. São Paulo cresceu porque estava no meio do caminho entre a produção do café e a exportação. Ou seja, a estrada de ferro passava pela cidade, então ela se beneficiou disso. Então, as três cidades estavam praticamente empatadas em faturamento. A renda municipal de Santos era de 48 contos de réis; a de Campinas, 49; a de São Paulo, 52 contos.

Podia ter uma liderança econômica compartilhada na província, mas São Paulo ainda era uma cidade acanhada. O censo de 1872 dizia que ela tinha 31.385 habitantes. Era muito menor que o Rio (275 mil), Salvador (129 mil) e Recife (116 mil). E também menor que Belém, Niterói, Porto Alegre, Fortaleza e Cuiabá.

Roberto Pompeu de Toledo, no livro A Capital da Solidão, que conta as origens de São Paulo até 1900, relembra essa “obra do acaso” causada pelo Aedes. Santos, assim como todo o litoral brasileiro, sofria com a febre amarela desde meados do século 19. No final dos anos 1880, foi a vez de Campinas, junto do resto do interior. A doença castigou as cidades cafeeiras. Quem podia, fugia. Foi o que aconteceu. Em 1889, boa parte dos fazendeiros se mudou para a capital (ou, no mínimo, fez dela uma segunda residência). Grandes comerciantes de Santos começaram a fazer a mesma coisa.

Com os donos do dinheiro instalados em São Paulo, o status da cidade passou a ser outro. Em 1890, já eram 65 mil habitantes (o dobro de 18 anos antes. Em 1900, 240 mil.

Continua após a publicidade

O jogo virou. Graças ao mosquito que hoje inquieta seus 11 milhões de habitantes.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.