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As lições de “X-Men: Dias de um futuro esquecido”

Por Otavio Cohen
Atualizado em 21 dez 2016, 09h18 - Publicado em 22 Maio 2014, 18h18

Furos no roteiro, atuações exageradas, destruição desnecessária, direção fora do tom. Se você estiver procurando uma lista de erros de “X-Men: Dias de um futuro esquecido”, veio ao lugar errado. Calma, não estou aqui pra dizer que o filme é perfeito. Mas posso contar a minha história: saí do cinema com uma sensação que não experimentava desde “Batman: Cavaleiro das Trevas”. Por isso, em vez de colecionar defeitos, vou falar de qualidades. “X-Men: Dias de um futuro esquecido” é diferente dos quadrinhos, é mais que um filme de super-herói, é uma viagem no tempo incrível, é sobre sua vida, é o melhor X-Men de todos. Mas, adianto: nada disso vai substituir a sua experiência de assistir.

 

É diferente dos quadrinhos

Você leu a história original em que Kitty Pryde volta ao passado e sempre sonhou em vê-la nas telas? Ótimo! Só não leva essas expectativas para o cinema. É até meio bobo insistir no bê-a-bá, mas vamos lá: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

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A missão do novo filme é bem diferente da que foi cumprida pelas páginas da HQ nos anos 1980. A nova produção tem que servir de continuação para uma trilogia que ajudou a moldar as adaptações de HQs para o cinema; seguir a cronologia da saga solitária de um anti-herói aclamado pelo público; e ainda criar uma continuação plausível para “X-Men: Primeira classe”. Para fazer tudo isso ao mesmo tempo, era preciso ajustar o foco para Wolverine e explorar a dinâmica entre Professor X e Magneto. Não adiantava apoiar o filme todo nas costas da Kitty, principalmente com as grandes diferenças entre a Kitty do cinema e a dos quadrinhos.

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Tem mutante superlegal fazendo ponta? Tem. Mas cada participação, por mais ínfima que seja, é tão especial e tão carregada de significado que não faz sentido falar mal. Não acredite se alguém disser que o filme é só um desfile de mutantes, como muita gente falou sobre “X-Men 3: O confronto final” (fãs da Psylocke choram). No novo filme, Logan, Charles, Erik e Raven são os protagonistas e têm todo o tempo que merecem na tela.

 

É mais que um filme de super-herói

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“Vingadores” é tudo o que um filme de super-herói deve ser: comédia, ação, montagem dinâmica e personagens badass. “X-Men” é mais que isso. A história do novo filme parte de um ponto já complexo da saga: a separação praticamente irreconciliável de Charles e Erik que acontece ao final de “Primeira classe”. Agora, os dois precisam juntar forças contra um inimigo em comum. Ok, você já viu esse filme. A premissa é parecida com algo que vimos em “X2″. Mas após mais de uma década, os filmes da franquia conseguiram desenvolver mais aspectos psicológicos dos protagonistas e dar a eles uma profundidade que pouquíssimos filmes “de super-herói” conseguem. Não basta dar uma biografia legal para um personagem. É preciso colocá-lo em situações dramáticas que vão tirar o melhor e o pior de cada um e fazê-los tomar decisões que, a princípio, você não imaginaria que eles pudessem tomar. Tipo na vida real.

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É uma viagem no tempo incrível

Fazer viagem no tempo no cinema não é para qualquer um. Onde houver um personagem que volta ao passado para corrigir o futuro, haverá também o cricrítico que revisa o roteiro mil vezes em busca de mudanças na linha do tempo que não fazem sentido. O próprio cinema já adiantou também que há boas chances de você ferrar ainda mais o presente quando mexe com o passado, como em “Efeito borboleta”. Por causa disso, a gente se acostumou a olhar torto para histórias que incluem esse ingrediente na receita. Mas desde que J. J. Abrams usou o recurso de um jeito fantástico em “Star Trek” (2009), voltou a ser possível olhar para a viagem no tempo como uma ferramenta bem eficaz de roteiro.  “X-Men: Dias de um futuro esquecido” resiste muito bem às oportunidades de criar furos na cronologia e, ao mesmo tempo, elimina para sempre qualquer aresta não aparada nos últimos seis filmes da franquia.

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Também é muito interessante o jeito como o filme se mistura à história dos EUA e do mundo. Depois da introdução, que mostra um futuro no qual os mutantes têm poucas esperanças contra a ameaça estatal dos Sentinelas, somos jogados para a atmosfera bem familiar onde o final de “Primeira classe” nos deixou. Posicionar a ação dos dois filmes na aurora dos movimentos pelos direitos humanos e pela paz é uma sacada que serve muito bem à história e que talvez passe batida. Colocar a questão mutante na pauta política e incluir Richard Nixon na trama é uma escolha corajosa que deu bem mais certo que a trama do Senador Kelly nos dois primeiros filmes.

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Ah, e tem o Tyrion!

 

É sobre a sua vida

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Na semana passada, os atores Patrick Stewart e James McAvoy estiveram em São Paulo para um encontro com jornalistas. Durante a entrevista coletiva, o paralelo entre os problemas dos mutantes e as lutas de grupos minoritários da vida real foi um tema inevitável. A discussão não é inédita. Desde o primeiro filme, era possível comparar a opressão sofrida pelos mutantes com a luta das vítimas de racismo, homofobia, machismo ou até do holocausto (a comparação aqui é literal, já que Magneto é um sobrevivente de campo de concentração nazista). Mas num mundo em que abusos contra os direitos dos LGBT ou das mulheres causam mais indignação do que há 10 anos, um filme sobre opressão e intolerância feito para o grande público parece ter vindo na hora exata.

A semelhança com a vida real não é mera coincidência. Recentemente, a atriz Ellen Page, a Kitty Pryde do filme, declarou abertamente sua orientação sexual. E Ian McKellen, o Magneto, é ativista da causa gay há um bom tempo. Questionados sobre a importância de falar sobre tolerância num blockbuster, ambos os atores que interpretam Charles Xavier em fases diferentes da vida disseram acreditar num futuro que seja mais gentil com qualquer pessoa que esteja fora do “padrão”.

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Um tema que permeia toda a saga dos X-Men é a escolha. Quando você está numa posição vulnerável, geralmente há mais de um caminho a seguir. A luta dos mutantes em nome do reconhecimento e contra a intolerância é, como todo mundo sabe, polarizada pelo radicalismo de Magneto e pela resistência construtiva do Professor X. (Fun fact: Se vivesse num mundo intolerante como o do filme, Patrick Stewart disse que certamente estaria do lado de Xavier. Já James McAvoy confessou que simpatizaria com os métodos de Erik Lehnsherr.)

 

É o melhor X-Men de todos…

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…mas não há o que eu escreva aqui que possa te convencer disso. É a sua experiência, acima de tudo, que vai fazer com que você se identifique ou não com as atitudes extremas de Erik, a superação de Charles, a indignação de Raven ou a persistência de Logan. É o tempo que você vai se dedicar comentando sobre o filme com seus amigos que vai te ajudar a perceber aspectos que talvez você nem sonhasse. É a sua reação às lutas coreografadas e aos sentinelas implacáveis que vai determinar o efeito do filme sobre você. Serão as duas horas que você vai passar no cinema que vão dizer se valeu a pena ter lido esse texto. Não importa muito se você não leu os quadrinhos, se detesta os filmes do Wolverine ou se tem preguiça da Jennifer Lawrence.

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“X-Men: Dias de um futuro esquecido” é o tipo de filme em que o importante é assistir.

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Ah. Tem cena depois dos créditos.

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