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Por Maria Clara Rossini
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Geisa Barbalho cria protótipos para reduzir o uso de animais em laboratório

A #MulherCientista dessa semana é uma farmacêutica que busca tratamentos inovadores para queimaduras – e bola maneiras de testá-los sem abusar de bichinhos vivos.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 29 mar 2021, 21h00 - Publicado em 28 mar 2021, 09h18

Geisa Barbalho se formou farmacêutica na Universidade de Brasília (UnB) e trabalhou no mestrado com o extrato da semente do cupuaçu, comum no norte do Brasil. Além de render doces deliciosos, a fruto contém uma alta concentração de ácidos graxos que podem auxiliar no tratamento de queimaduras. (Explorar produtos de origem vegetal no laboratório é algo muito comum: no mínimo 40% dos remédios em uma farmácia ocidental típica, incluindo a aspirina, têm princípios ativos que vêm de plantas e já eram utilizados há séculos em versões não industrializadas).

O problema é não dá para passar o extrato direto na pele. Ele contém resíduos de compostos orgânicos que ardem como se você estivesse passando álcool em uma ferida. Para que sejam usados na prática, os ácidos graxos do cupuaçu precisam ser incorporados a uma forma farmacêutica ideal, que evite o incômodo e maximize o efeito. Em bom português, isso significa descobrir o melhor jeito de fazer o remédio entrar em você: comprimido? Pomada? Xarope? Injeção?

Ou talvez algo mais sofisticado. A estratégia pensada por Barbalho foi colocar o extrato dentro de nanocápsulas, estruturas mil vezes menores que um grão de areia. Elas são adicionadas a um spray que se transforma em gel quando entra em contato com a pele. As cápsulas protegem os ativos e os ajudam penetrar na pele. O extrato é liberado aos poucos e atua bem no local da queimadura.

A realização de testes em animais parece algo imprescindível para a pesquisa farmacêutica, principalmente na hora de avaliar a segurança de um produto. Para pomadas de queimadura, por exemplo, o mais comum é ferir um trecho da pele de camundongos em laboratório e então aplicar o produto. No estudo com as nanocápsulas, porém, a pesquisadora encontrou uma alternativa para minimizar o uso de animais vivos.

Barbalho e os demais membros da equipe criaram um método para gerar pele queimada in vitro. Eles usam orelhas de porcos (que já foram abatidos pela indústria alimentícia) até chegar em tipos de queimadura ideais para estudar a interação do medicamento com o ferimento.

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Nos últimos anos, diversos laboratórios têm tentado reduzir o uso de modelos vivos. Algumas marcas de cosméticos não fazem mais testes em animais, mas ainda é necessário avaliar os efeitos colaterais antes que os produtos cheguem às prateleiras.

Mesmo que  em algumas situações não seja possível eliminar completamente o uso de modelos vivos, os protótipos ainda permitem diminuir um bocado a quantidade de animais envolvidos. “Se tivermos dez formulações de um produto, poderíamos testar antes nesses protótipos e descartar as que possuem características indesejáveis antes de aplicar no animal. Em vez de usar mil animais, daria para usar 300”, diz a pesquisadora.

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O método com orelhas de porcos inspirou a atual pesquisa de doutorado de Barbalho. Em parceria com alunas de engenharia, ela está criando um modelo para olhos humanos feito com uma impressora 3D. O protótipo será usado para testar várias formulações inovadoras e também princípios ativos para o tratamento de ameba ocular – um tipo de infecção causada principalmente pela má higienização de lentes de contato.

Além de se dedicar à vida no laboratório, a cientista ainda encontra tempo para contar um pouco da sua rotina no perfil @pretacientista no Instagram. Quando começou o mestrado, só havia uma pessoa negra além de Geisa trabalhando no laboratório. Quando esse pesquisador saiu, ela se tornou a única dentre aproximadamente 30 pessoas.

“Na graduação já dá pra ver isso, mas na pós-graduação é muito evidente”, diz ela. “As pessoas que fazem pós geralmente já têm uma situação financeira confortável, e não dependem só da bolsa para sobreviver”. Atualmente, uma bolsa do CNPq oferece R$2.200 mensais e exige dedicação exclusiva à pesquisa – ou seja, não dá para ter outro emprego fora da universidade. Isso dificulta principalmente a manutenção de pesquisadores de outras cidades, que precisam custear aluguel, comida, contas e todas as despesas com o valor defasado da bolsa.

No doutorado, houve algum avanço: a pesquisadora está trabalhando com outras três mulheres negras no laboratório – número que ainda é pequeno comparado ao total de alunos. Hoje, todo seu grupo de pesquisa é composto por mulheres. Seu projeto foi uma parceria com a Universidade Federal do Pará, orientado pela professora Taís Gratieri.

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