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Por que 2012? Entenda como funciona o calendário maia

Por Redação Super
Atualizado em 21 dez 2016, 10h37 - Publicado em 12 dez 2012, 16h34

Por José Lopes*

A data vem do calendário maia. Esse antigo e avançado povo pré-colombiano tinha uma concepção cíclica do Cosmo e, de fato, o fim deste ano marcaria o encerramento de um ciclo. Mas seria mesmo o fim do mundo?

A esta altura do campeonato, você só não ouviu falar ainda do “Apocalipse maia” (que supostamente vai acabar com a Terra em 21 de dezembro deste ano) se passou os últimos anos numa cabaninha no interior da Antártida, sem internet. O que tem de gente aterrorizada ou empolgada com a ideia não está no gibi. A ideia é que, com seu avançado conhecimento de astronomia e matemática – o qual, de fato, pouco ficava a dever diante da sabedoria das civilizações complexas do Velho Mundo, como os egípcios, e às vezes até a superava -, os antigos maias teriam sido capazes de apontar com precisão o fim de uma era do Cosmo, correlacionando esse período com outras eras de criação e destruição estabelecidas por sua cultura.

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Tudo muito interessante, sem dúvida, mas o mais provável é que a ideia de uma “profecia maia” tenha surgido de uma leitura equivocada dos registros deixados pela civilização da América Central. Para entender isso, é importante dar uma olhada no fascinante e complicado sistema matemático que eles empregavam para contar o tempo.

Na base do 20

A primeira coisa a levar em conta quando se consideram os calendários maias (sim, eram vários, criados para propósitos diferentes e estruturados de maneira distinta) é que a base matemática dessa cultura não era o número 10, como acontece no Ocidente, mas o número 20. E, só para tornar a coisa ainda mais intrincada, eles também tinham uma predileção especial pelo número 13.

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A combinação desses números gera o primeiro elemento importante dos calendários maias, o “ano santo” de 260 dias. Nele, cada data é formada associando-se um número de 1 a 13 a cada um dos 20 “dias da semana” – daí o número de dias do “ano santo” já que 13 x 20 = 260. (As datas eram escritas numa forma que combinava uma contagem até 13 e o nome do dia: 1 Imix’, 2 Ik’, 3 Ak’b’al e por aí vai.)

Ao mesmo tempo, os maias também possuíam um calendário que tentava acompanhar o tempo que leva para a Terra dar uma volta completa em torno do Sol. Conhecido como Haab’, ele era formado por 18 meses de 20 dias cada um (continue com as contas aí: 18 x 20 = 360), mais uma adição de cinco dias “sem mês” para completar os 365 dias do ano. (Sinal de que os maias não eram tão precisos assim é o fato de que eles não tinham inventado a adição de um dia a cada quatro anos para compensar o fato de que a Terra demora mais ou menos 365 dias mais 6 horas para completar seu trajeto em torno do Sol…)

Para localizar determinado dia no calendário, os maias juntavam a data do calendário sagrado e a do Haab. Tudo ótimo, mas o problema é que, passados 52 anos, exatamente a mesma data acaba voltando a aparecer, o que, se não faz muita diferença no cotidiano das pessoas, pode ser meio chato para gente com temperamento faraônico, como eram os soberanos maias. Esses sujeitos faziam construções de pedra que deviam durar para a posteridade – tanto que algumas ainda estão lá séculos depois, como sabemos – e queriam dizer exatamente para seus descendentes longínquos quando tinham mandado construir aquela pirâmide sensacional.

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Foi pensando nisso que os maias desenvolveram a chamada Contagem Longa, um sistema de datação linear, e não cíclico, como os outros, embora também usasse as informações deles. A Contagem Longa tinha uma sequência de números, mais ou menos como a casa das unidades, das dezenas e das centenas num número como 231. A casa das unidades correspondia ao número de dias (k’in); 20 deles perfazem um uinal (“mês”); um grupo de 18 uinal dá um tun (“ano”); junte 20 tun e você tem um k’atun, os quais, também agrupados em conjuntos de 20, formam um b¿ak¿tun (esse última unidade dá 144 mil dias, ou 394 anos dos nossos).

Não é preciso se tornar fluente em maia para acompanhar o resto da nossa história, caro leitor: basta se concentrar nessa unidade temporal grandalhona, o b’ak’tun. Ocorre que os maias usavam os números da Contagem Longa para se referir tanto a períodos do passado distante quanto ao futuro, a exemplo do que nós mesmos fazemos. A Contagem Longa, como acontece com o calendário cristão, tem um momento de início, que pode ser calculado: equivaleria ao dia 31 de agosto do ano 3114 a.C. – época em que, é bom lembrar, a civilização maia nem tinha surgido ainda (o consenso entre os arqueólogos é que ela se organizou originalmente em torno de 2000 a.C.).

Ora, e quanto às coisas que ocorreram antes desse “ano zero” maia? Conforme ocorria com outras civilizações antigas, os maias tinham uma visão cíclica sobre a natureza do tempo. Embora o dia 31 de agosto do ano 3114 a.C. fosse considerado a data da criação do mundo, narrativas mitológicas, como o livro Popol Vuh (escrito, é bom lembrar, depois da chegada dos espanhóis), afirmam que três outras criações tinham existido antes da nossa, a quarta – basicamente ensaios dos deuses que não deram muito certo. E aqui é que finalmente aparece uma pista da suposta data do Apocalipse: a criação atual parece ter começado quanto a anterior completou 13 b’ak’tun.

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Isso levou alguns especialistas a acreditar que, para os maias, a “Quarta Era” do mundo também duraria 13 b’ak’tun, o que acaba nos levando à famigerada data de 21 de dezembro de 2012 no calendário que usamos no Ocidente, uma interpretação proposta originalmente por Michael Coe, um importante especialista americano na cultura dos antigos maias. As ideias de Coe foram popularizadas – e um bocado forçadas – por uma série de escritores místicos dos anos 1970 para cá e, claro, pela internet – fonte inesgotável de boataria esotérica.

Há uma série de problemas com essa hipótese, no entanto. Um deles é o fato de que em nenhum texto maia há uma descrição de que diabos aconteceria quando ocorresse a chegada de 13 b’ak’tun desta vez – nenhuma previsão de dilúvio, tempestade de fogo, sumiço do Sol e da Lua etc., essas coisas tão comuns em narrativas apocalípticas mundo afora.

E o exemplar mais antigo de um calendário maia já descoberto não faz nenhuma referência ao suposto fim do mundo. São tabelas astronômicas achadas na antiga cidade de Xultun, na Guatemala, pela equipe de William Saturno, da Universidade de Boston, que provavelmente datam do ano 813 da Era Cristã. Saturno, que publicou sua descoberta na revista especializada Science, conta que os ciclos maias ali registrados se estendiam por 7 mil anos no futuro, muito depois de 2012. “Para eles, nada mudaria no Universo” depois da suposta data fatídica, afirma o pesquisador.

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* O texto foi originalmente publicado na edição especial da SUPER de novembro. Quer saber mais sobre o fim do mundo do ponto de vista da ecologia, da astronomia e da tecnologia? O especial está disponível na Loja Abril.

 

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