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12 pessoas que largaram tudo pra pegar a estrada – e o que elas escreveram sobre isso

Por Thaís Zimmer Martins
Atualizado em 20 abr 2017, 18h16 - Publicado em 11 jun 2015, 18h27

Nem todo mundo ama trabalhar. Aliás, na atual geração, louvar o trabalho pode soar um pouco estranho. Listamos abaixo uma dúzia de exemplos de que é possível pegar a estrada e viver uma vida sem tantas amarras ao capitalismo.

1. Jean-Jacques Rousseau, 1782

Rousseau

O filósofo, teórico político e escritor suíço gostava de dar longos passeios. E não foi apenas na juventude, não. Esse hábito durou até o final de sua vida. Mas a primeira vez que ele realmente se viu na estrada, sozinho, foi aos 16 anos. Já órfão de pai e de mãe, Rousseau encontrou fechadas as portas da cidade onde morava, Genebra. Isso fez com que, forçadamente, ele “caísse no mundo”. Anos mais tarde, já famoso, o filósofo ficou conhecido por essas caminhadas. Rousseau foi um dos primeiros a escrever uma grande autobiografia, suas Confissões:

A vida que me calharia bem seria a vida ambulante. Andar a pé com um belo tempo, numa região bela, sem ter pressa, e ter por termo da viagem um objeto agradável, eis, de todas as maneiras de viver, a que é mais a meu gosto.

2. Jack London, 1915

Jack London

É o cara que inspirou várias pessoas a deixarem as coisas de lado e rumar (sem rumo) pela estrada. Nascido John Griffith Chaney em 1876, o futuro escritor teve uma infância bem pobre e trabalhou em empregos simples pra poder sobreviver, como em uma fábrica enlatados e numa fábrica de tecelagem. Em 1894, depois de fazer sua primeira grande viagem marítima, ele encontrou garotos estradeiros e sentiu que era tempo de pegar a estrada. Aos 18 anos, escreveu em seu diário:

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As aventuras que eles contavam faziam minha experiência como pirata de ostras parecer histórias de carochinha.

Foi aí que London aprendeu a saltar nos trens de carga – e neles cruzou a nação. Essa aventura rendeu o conto De vagões a vagabundos, que começa assim:

Deixando de lado os possíveis imprevistos, um bom vagabundo, jovem e ágil, pode resistir até o fim num trem, apesar de todos os esforços da tripulação a bordo para “despejá-lo” – tendo, é claro, a noite como condição essencial. Quando tal vagabundo, sob tais condições, decide que irá resistir até o fim, ou ele se aguenta firmemente até o fim ou o acaso passa-lhe a perna. Não há modo legal, a menos que apelem para o assassinato, pelo qual a tripulação do trem possa despejá-lo. Que os homens de trens não temem apelar para o assassinato é uma crença bastante difundida no mundo da vagabundagem.  

3. John Fante, 1930

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Descendente de italianos pobres, os romances autobiográficos narram a infância de Fante, mas em vários momentos se torna difícil distinguir o que realmente aconteceu e o que é ficção. Apesar destas dúvidas, uma coisa é certa: Fante tinha repulsa da profissão do pai, que era pedreiro, e não queria seguir seus passos. Primeiro pensou que poderia ser um grande jogador de beisebol, mas um mergulho profundo nos livros (registrado em O Caminho de Los Angeles) revela a profissão que acaba seguindo: a de escritor.

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Por volta de 1930, Fante colocou as poucas roupas e o (quase nenhum) dinheiro em uma mala. Ele deixou Colorado em direção a Los Angeles e ao grande sonho de se tornar famoso. Eis o que fica registrado no livro Sonhos de Bunker Hill:

A cidade era como um enorme parque, do pé da colina até o mar, bonita de noite, as luzes brilhando como balões brancos, as ruas largas e cheias movendo-se em todas as direções. Não importava para que lado você fosse, a estrada seguia sempre em frente. (…) Dia e noite a cidade fervilhava de tráfego e era impossível acreditar que todas aquelas pessoas tivessem alguma rima ou razão para estar ali dirigindo.

Anos mais tarde, depois de publicar alguns contos e os primeiros romances (sendo o mais famoso deles Pergunte ao Pó, que também foi para o cinema), Fante abandonou a estrada e o sonho de ser um escritor (pelo menos de romances e contos) quando se tornou roteirista de Hollywood.

4. Henry Miller, 1939

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Conhecido principalmente pelos livros polêmicos Trópico de Câncer e Trópico de Capricórnio, Miller tinha uma personalidade peculiar para a sociedade da época (e atual). Durante muitos anos, sem trabalho fixo, ele pedia dinheiro a amigos para poder sobreviver. Com os poucos (ou muitos) trocados que conseguia, acabava pagando prostitutas e comprando comidas caras e bebidas.

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No começo da Segunda Guerra Mundial, Miller chutou o balde e foi pra Grécia. O relato dessa viagem, que foi feita com pouca grana e na dependência de conhecidos e desconhecidos, está no livro O Colosso de Marússia. Em nenhum de seus livros é possível perceber tamanha paz de espírito que ele encontra nas estradas e pessoas gregas, mesmo em época de profunda violência:

Manter a cabeça vazia é um feito e tanto, e um feito muito útil. Ficar calado durante o dia inteiro, não ler nenhum jornal, não ouvir rádio, não prestar atenção em nenhuma fofoca, estar inteiramente e completamente relaxado, inteira e completamente indiferente à sorte do mundo, e o melhor remédio que um homem pode encontrar. A aprendizagem dos livros vai se evaporando, gradualmente; os problemas se derretem ou dissolvem; as ligações se cortam com toda a suavidade; pensar, quando a  gente se dá ao luzo de pensar, torna-se algo extremamente primitivo; o corpo se transforma em novo e maravilhoso instrumento; você olha para as plantas e para os peixes com novos olhos; você fica imaginando o que será que as pessoas estão querendo com a sua atividade frenética (…).

O livro se transforma também em um manual da própria Grécia com reflexões sobre a vida e o mundo do autor.

O fato é que, uma vez afastado do lar e dos laços familiares, a inimizade e os preconceitos vão por água abaixo. (…) Não sei por que, mas o fato de estar vivo e respirando num lugar inteiramente novo do globo bastem para que eu veja a intolerância e inimizade como as coisas realmente absurdas que são.

5Jack Kerouac, 1951

Kerouac

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É quem escreveu On The Road, que narra uma das viagens do escritor de New Jersey até a costa oeste dos Estados Unidos. Kerouac colocou literalmente o pé na estrada, como o próprio nome do livro já diz. Mas a obra não e a única que relata as viagens dele. Aliás, praticamente todos os livros são desses momentos em que ele larga tudo e, com uns poucos trocados, sai pela estrada sozinho ou com os amigos. On The Road foi adaptado para o cinema em 2011:

O que tornou Kerouac famoso foi o próprio estilo que ele “inventou” de narração, uma técnica parecida com a do fluxo e da consciência. Também atribuem a ele o surgimento da geração beat, um grupo de jovens intelectuais (que também constantemente pegavam a estrada, como Allen Ginsberg e Neal Cassady). Além de relatar a viagem, On The Road também é um compilado de reflexões:

(…) estamos deixando tudo para trás e entrando numa nova fase, desconhecida e misteriosa. Todos esses anos, essas complicações, esses baratos todos – e agora isso! De modo que o negócio é deixar tudo para lá e apenas seguir em frente, com a cara para fora da janela, cabelos ao vento, assim, e compreendermos esse mundo genuína e verdadeiramente como os outros americanos antes de nós não conseguiram fazer.

6. Hunter S. Thompson, 1965

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Ele já era bem conhecido como jornalista quando publicou o livro Hell’s Angels, um retrato violento de um ano e meio em que conviveu perigosamente com a gangue de motociclistas que aterrorizava a sociedade americana da época. Thompson largou tudo para participar das atividades ilegais às quais os motociclistas estavam ligados.

Atribuem a Thompson o surgimento do jornalismo gonzo, um estilo que se caracteriza por não fazer distinção entre autor e sujeito, assim como ficção e realidade. A diferença dele pras outras pessoas que estão nessa lista é que as suas viagens normalmente estavam ligadas ao trabalho – um trabalho que ele virava pelo avesso. Em Medo e Delírio em Las Vegas, o jornalista também coloca o pé na estrada para fazer uma cobertura jornalística (regada a álcool e drogas):

Era quase meio-dia e ainda tínhamos cerca de duzentos quilômetros pela frente. Seriam quilômetros difíceis. Eu sabia que muito em breve nós dois estaríamos completamente alucinados. Mas não havia mais volta, nem tempo para descansar. Precisávamos seguir em frente.

7. Tainá de Castro Rodrigues e Marcelo Castro de Oliveira, 2013

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Eles trabalharam 7 anos com publicidade quando se deram conta de que aquilo não os fazia feliz. Uma conclusão foi levando a outra e, em pouco tempo, perceberam que precisavam mudar em todos os sentidos. No dia 22 de outubro de 2013 surgiu o Calle America, um projeto que, aos olhos do casal, busca conhecer o mundo. E eles fazem isso ajudando as pessoas em projetos sociais:

Escolhemos viajar porque mais do que uma mudança profissional, gostaríamos de mudarmos como ser humano. Poderíamos fazer isso em São Paulo, porém teríamos que enfrentar esses vícios diários que adquirimos na metrópole. Correríamos o risco dessa mudança acontecer só pela metade ou talvez naufragarmos no meio de uma tempestade.

Já foram mais de 37 mil quilômetros percorridos. Além de fotos e textos, eles também publicam vídeos, como este:

 

8. Leonardo Maceira, 2014

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Em janeiro do ano passado, ele pegou uma mochila, uma câmera e uma carteira vazia. O destino? América do Sul. Foi assim que surgiu Os Lugares de Cada Um.  Ele usa as redes sociais para postar as fotos e as informações dessa viagem.

Lugar. Nem tudo tem o seu lugar. Nenhum lugar tem tudo. No meu caso não existe um lugar só meu, só pra mim. Já procurei. Na verdade, não tenho certeza se procurei direito. A minha mãe deve saber onde está, qual é. Já achei saber. Não sei se felizmente ou infelizmente, mas acho que não era. Talvez tenha parado de procurar. Não, eu não desisti. Só estou dando uma respirada. Ta na hora de me movimentar. Mas irei atrás de apenas UM lugar?Será que existe só UM lugar? Será que só UM lugar pode me satisfazer? Nem tudo tem o seu lugar. Nenhum lugar tem tudo. Preciso de tudo? Talvez só precise do meu lugar.

9. Felipe Fontes, Filipe Falcone e Marcelo Rachmuth, 2014

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Há mais de um ano, exatamente no dia 16 de fevereiro de 2014, esses três rapazes saíram de São Paulo, de bicicleta, com o objetivo de produzir um documentário sobre a cicloviagem. Seis meses depois, os amigos de Felipe voltaram pra São Paulo. Ele voltou também, mas só de passagem.

O Sobre Seis Rodas já passou por todos os estados do sudeste e nordeste (com exceção do Espírito Santo, e quer chegar na América Central até o fim de 2015. O financiamento para o documentário saiu do Catarse. Enquanto o longa não sai, o jornalista Felipe mantém todos atualizados com fotos e textos publicados nas redes sociais. Segue um trecho de um dos diários de bordo:

Aos poucos você vai descobrindo que viajar é quebrar mitos. Na sua própria experiência de tentativa e erro ou conversando com os outros, você vai costurando sua manta de aprendizados. Faz um tempo já entendi que viajar de bike é possível e transformador. Aprendi que não é preciso ser atleta, que o segredo é não ter pressa, que a violência é um mito que se esconde nas cidades grandes e ruge amplificado na tela da televisão. Aprendi que o ser humano é bom e que não tem nada de errado em pedir ajuda. Viajar me ensinou que se precisa de bem pouco para se viver bem, que a felicidade é uma barriga cheia, pessoas queridas e fazer o que gosta. Descobri que o mundo é grande e pequeno, que há muitos lugares a se explorar e todos estão ao alcance. Basta ir.

BÔNUS

Para ajudar

Cinco escritores estão tentando colocar os dez pés na estrada. Eles querem fazer a literatura circular. A ideia é que eles visitem capitais brasileiras para realizar oficinas, debates, leituras e bate-papos com outros escritores. Um dos projetos finais será uma publicação com postais, contos e poemas escritos ao longo da viagem. Também vai ter um documentário mostrando os bastidores da tour, os encontros com autores e leitores.

Mas o projeto Escritores na Estrada só vai rolar se eles conseguirem a grana pra bancar a viagem pelo Catarse:

Para assistir

Christopher McCandless não teve tempo de escrever sobre a sua aventura, mas o jornalista Jon Krakauer se encarregou de registrar tudo (ou pelo menos a parte que teve acesso) no livro Into The Wild. Depois de terminar a faculdade (especializando-se em história e antropologia), Chris largou tudo para ir pro Alasca. Essa aventura também foi contada no filme que leva o mesmo nome do livro:

E você? Já largou tudo pra viajar ou sentiu vontade de fazer isso? Conhece alguém que fez isso? Escreva nos comentários.

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