Serial killers ou bichos preguiça, não tem meio-termo

Por Fábio Marton

Em quase todas as ficções, vampiros são mortos-vivos. Algo que (fica para outro post) só pode ser explicado por magia, não ciência.

Mas suponhamos que eles fossem gente como a gente, como no filme 2019 – O Ano da Extinção (Daybreakers). Se uma pessoa fosse viver só de sangue, quanto seria necessário? E quantas vítimas isso faria?

Sem considerar atividade física intensa, um homem adulto precisa de cerca de 2500 calorias por dia (mulheres, 2000). Quantas calorias tem o sangue? Bem, isso não é algo que você vá encontrar numa tabela nutricional da Revista Claudia, mas a internet vem ao resgate. O site Focus calculou em 700 as calorias no sangue humano.

Noves fora, 2500 dividido por 700 dá mais ou menos 3,5 litros. Uma pessoa de 70 kg tem, em média, 5 litros de sangue. Sobra um chorinho se o vampiro não estiver acometido por um caso terminal de larica. Ainda assim, má noticia para a vítima: o pior tipo de hemorragia acontece com a perda de 40% de sangue, sempre fatal sem a ajuda imediata. Estamos falando em 70%, então é uma vítima por dia, 365 por ano. Qualquer vampiro de várzea deixaria no chinelo os piores serial killers da história.

Mas talvez os vampiros não sejam tão terríveis assim. Eles costumam ser retratados como frios (pelo fato de estarem tipo assim mortos). Se você não bombou feio em biologia, sabe que seres vivos assim existem na natureza. São os heterotermos, como répteis, anfíbios, peixes e invertebrados. Eles gastam muito menos energia que bichos de sangue quente, como humanos. A grosso modo, consomem 10% do que um mamífero ou ave do mesmo tamanho precisaria.

O que leva a um vampiro diet reptiliano se contentando com apenas 350 mililitros por dia. Uma doação de sangue tira seguramente 500 ml. Boas notícias para a vítima, se o vampiro não estiver com sapinho.

Nem tanto para o vampiro. Em matéria de inteligência e agilidade, ele estaria mais para jabuti que Drácula. Animais de sangue frio precisam se aquecer ao sol para acelerarem seu metabolismo o suficiente para se tornarem ágeis e irem atrás de presas – o que, sabemos, não é exatamente uma opção para vampiros. Quem sabe com uma lareira romântica e uma garrafa de O positivo safra 1983.

Uma última: calorias não são tudo. Várias vitaminas essenciais não estão em quantidade suficiente no sangue – principalmente a C. Vampiros então sofreriam de escorbuto, tendo uma banguela sangrenta no lugar de caninos tétricos. Mas pior seria o sal. O sangue tem 9 gramas por litro, o que levaria ao vampiro de sangue quente do primeiro exemplo a consumir 31,5 gramas por dia – o recomendável é 5. O brasileiro, mesmo com a mania nacional pela porção de calabresa, só chega a 12. O vampiro morreria de desidratação e crise renal, se não tomasse também água, ou hipertensão, se assaltasse o filtro na casa das vítimas.

NOTA: dada a experiência anterior, prevejo que tenha alguém estalando os dedos, preparando para distribuir justiça nos comentários, ensinando ao idiota aqui que ficção não é ciência. O propósito deste blog é falar de ciência, não fazer qualquer crítica às artes. Vampiros (ou zumbis, ou o Magneto) serem impossíveis não diminui em nada o quanto suas histórias possam ser divertidas, assustadoras, inspiradoras, até filosóficas. As imagens,aliás, são dicas de alguns dos meus filmes de vampiros favoritos. Eu só estaria estragando um filme se berrasse “ISSO NÃO É CIÊNCIA” na sala de cinema. Pode pergutnar, nunca fiz isso sóbrio.

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