Em meio às inúmeras tragédias que nos cercam no dia-a-dia e enchem os noticiários, Ben Sherwood criou o best-seller Clube dos Sobreviventes (Ed. Fontanar, 328 pgs., R$ 34,90). Trata-se de uma obra na qual cada capítulo fala de uma história de superação e seus aprendizados.
A obra é dividida em duas grandes partes. A primeira é a análise dos variados casos. Após ir atrás dos veteranos da guerra do Vietnã, de uma mulher que teve o rosto rasgado por um puma, de um homem que resistiu a um naufrágio e de sobreviventes de massacres como o Holocausto e o 11 de setembro, Ben nos mostra que diversos fatores podem influenciar a sobrevivência de uma pessoa, além de dizer o que podemos fazer para aumentar nossas chances de sobrevivência. A segunda parte consiste em um teste que determina qual tipo de sobrevivente o leitor é e disserta mais sobre as características que compõem esse perfil.
De forma detalhada, profunda, informativa e esclarecedora, o leitor é bombardeado com dicas de sobrevivência retiradas de estudos, depoimentos de especialistas e sobreviventes e artigos médicos. A riqueza de detalhes dos casos é impressionante e nos envolve com muita facilidade. É fácil se deixar levar pela adrenalina dos relatos e se sentir como Katniss em Jogos Vorazes: sobrevivente, independente, experiente e capaz. Todas as técnicas que o livro passa, como a dos 90 segundos e a 1-10-1, nos fazem querer pô-las em prática (até lembrarmos das consequências e chances altíssimas de morte).
As maneiras encontradas para escapar da morte iminente que ameaçava os sobreviventes são explicadas por especialistas, que provam que eles não têm qualquer superpoder ou mutação genética que os difira de nós. Ou seja, somos todos capazes de sobreviver.
O envolvimento e comprometimento que Sherwood teve com o livro também não passam despercebidos. O autor não mediu esforços, por exemplo, ao se submeter ao “Centro de treinamento de sobrevivência em aviação”, lugar no qual militares das Forças Armadas norte-americanas aprendem a lidar com situações extremas em ambientes hostis e a sobreviver a acidentes aéreos. O condecorado jornalista passou por aulas oferecidas pela FAA (“administração feral de aviação”) sobre o que fazer em voos comerciais em caso de acidente e divide conosco toda as dicas.
Outro ponto positivo do livro são os dados que ele fornece, os quais desmistificam várias crenças. Com convicção e argumentos, algumas teorias são quebradas, como a de que as chances de sobreviver a um acidente aéreo são baixíssimas.
A obra é bastante ilustrada. Há no livro, por exemplo, a foto de uma bicicleta envolvida em um grave acidente, bem como a de uma caminhonete que teve todo seu lado do motorista amassado. As imagens chocam ainda mais por mostrar a grave situação pela qual as pessoas passaram e nos fazem ficar mais boquiabertos ao saber que saíram vivas.
Apesar disso, as fotos deixam a desejar em alguns pontos. Apesar de parecer meio mórbido, ao ler a cena, a curiosidade pode falar mais alto e sua imaginação pode não dar conta do recado (o que te faz recorrer ao Google).
O ponto que mais decepciona é o do teste original da segunda parte do livro (versão em inglês), que é feito pela internet, ter sido tirado do ar e não poder ser encontrado em outro lugar. Em contrapartida, a Fontanar havia feito uma versão reduzida e simplificada do teste em português, que ainda está no site. Apesar de não se comparar ao teste original, que era bem mais detalhado e trazia características para ler nas ultimas páginas do livro sobre seu perfil de sobrevivente, a versão em português quebra o galho.
Clube dos Sobreviventes é uma ótima pedida para os fãs de aventura. É envolvente e menciona todos os fatores que fazem a diferença entre a vida e a morte (e que realmente funcionam). Este é um clube do qual a maioria de nós faz parte – Ben considera todos aqueles que superaram as provações da vida um sobrevivente – e pode ser um dos mais instrutivos e ilustres do mundo.