Retrospectiva SUPER 2014: 10 filmes do ano
Por Marcelo Hessel, do Omelete
Numa mistura de surpresa e obviedade, o cinema em 2014 consagrou mais uma vez o Marvel Studios, mas com um filme que era um risco: Guardiões da Galáxia, à frente do próprio Capitão América 2 nas bilheterias. O ano, contudo, não foi só dos quadrinhos e dos super-heróis, como atesta este top 10. Confira as melhores coisas que estrearam no Brasil ao longo do ano:
10. Debi e Lóide 2 (Dumb and Dumber To, Bobby Ferrelly e Peter Ferrelly)
Desde que vender “atitude” virou item da cartilha de qualquer calouro de gincanas musicais da TV, a rebeldia midiática de verdade foi ficando cada vez mais rara. Debi e Loide 2 comprova que a subversão pela via da inconveniência, promovida pelos irmãos Farrelly com a inestimável ajuda de Jim Carrey, segue tão atual hoje quanto era em 1994.
9. O Grande Hotel Budapeste (Grand Hotel Budapest, Wes Anderson)
Neste filme, Wes Anderson transforma em uma boneca russa a sua eterna busca por especificidades. São camadas e mais camadas de obsessões estéticas, que poderiam render um filme um tanto aborrecedor se não fosse, entre outras coisas, a atuação absolutamente iluminada de Ralph Fiennes e a vontade com que ele enche a boca para soltar os melhores palavrões.
8. Amantes Eternos (Only lovers left alive, Jim Jarmusch)
Jim Jarmusch captura como poucos, neste seu filme de vampiros, a melancolia da juventude, particularmente o tédio de ter sempre ao alcance das mãos a chave do narcisismo sem culpa, esse fruto proibido aos adultos.
7. O Lobo de Wall Street (The wolf of Wall Street, Martin Scorsese)
Dos filmes de Martin Scorsese estrelados por Leonardo DiCaprio que simulam estados de transe em primeira pessoa, como O Aviador e Ilha do Medo, O Lobo de Wall Street é o que mais se aproxima da narrativa delirante dos maiores épicos criminais do diretor, Os Bons Companheiros e Cassino. É uma combinação que, somada ao humor bem dosado do filme, resulta irresistível.
6. Vizinhos (Neighbors, Nicholas Stoller)
Das comédias que se estruturam como sequências de esquetes sem necessariamente depender de uma trama (Guardiões da Galáxia entraria nessa lista), Vizinhos é sem dúvida a melhor do ano, pelo ritmo de gags e situações que segue crescente e não deixa o filme perder a força (ou o espectador perceber que a trama quase não tem final).
5. Até o Fim (All is lost, J.C. Chandor)
Enquanto o diretor J.C. Chandor já começa a colher prêmios nos EUA por seu novo filme, A Most Violent Year, no Brasil seu segundo longa passou meio batido, depois que Robert Redford ficou de fora do Oscar de melhor ator. Uma pena, porque a exemplo da estreia de Chandor, Margin Call, Até o Fim é um drama muito forte sobre o colapso daquilo que entendemos por civilização, com suas regras e seus limites.
4. O Ciúme (La jalousie, Philipe Garrel)
Mais um amor de perdição do diretor Philippe Garrel com seu filho, Louis Garrel, em que o olhar determina o começo e a ruína de uma relação. Um filme sobre o trânsito nosso de cada dia – pessoas chegando e saindo de apartamentos, saindo do teatro, chegando e saindo de bares – e sobre como essa incapacidade de firmar o olhar nos gera as maiores inseguranças.
3. Bem-vindo a Nova York (Welcome to New York, Abel Ferrera)
Em mais um drama sobre livre-arbítrio e poder, mortalidade e culpa, Abel Ferrara filma a história de Dominique Strauss-Kahn como a tragédia do Éden. E Gérard Depardieu não foge à responsabilidade de encarnar o pecador que carrega consigo o peso da onipotência dos homens.
2. Vidas ao Vento (Kaze tachinu, Hayao Miyazaki)
Um filme sobre convicção e movimento, e sobre como essas duas coisas se confundem no impulso da criação. O gesto do artista e a eterna convulsão do mundo – seja no vento que agita o campo, na velocidade do trem ou na imprevisibilidade de um terremoto – são uma coisa só nesta obra-prima testamental de Hayao Miyazaki.
1. Era uma Vez em Nova York (The immigrant, James Gray)
Quem vê no relato histórico do diretor James Gray apenas a fotografia de Darius Khondji, que emula os épicos urbanos do cinema da Nova Hollywood, vai perder a melhor atuação da carreira de Marion Cotillard e mais um personagem trágico de Joaquin Phoenix, daqueles que só Gray sabe lhe dar. Um filme fadado a se tornar unanimidade, com o tempo.