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9 fatos para entender a crise nuclear no Japão

Por Ana Carolina Prado
Atualizado em 21 dez 2016, 10h13 - Publicado em 21 mar 2011, 22h09


Imagem: Google

A crise nuclear que o Japão está vivendo foi classificada no nível 5 da escala internacional de eventos nucleares (INES) e já é considerada o terceiro maior acidente nuclear da história, atrás de Three Mile Island (Pensilvânia, EUA) e Chernobyl (Ucrânia). O problema começou no dia 11 de março, quando ocorreu o maior tremor da história do Japão e o quarto maior do mundo. O terremoto atingiu 9 graus de magnitude e provocou um tsunami que destruiu o nordeste do país. Mas agora a ameaça vem de outro lugar: a usina nuclear de Fukushima. A liberação de partículas radioativas fez com que uma área de 20 km ao redor da usina fosse evacuada e está preocupando pessoas do mundo todo. Como isso foi acontecer? Mesmo quem mora longe do Japão deve se preocupar? Respondemos 9 perguntas básicas que vão ajudar você a entender melhor essa crise nuclear.

– Leia mais: Como funciona uma usina nuclear?

1- O que provocou o problema nuclear no Japão?
O terremoto atingiu uma área em que havia 20 reatores operando, em diversas usinas. Desses, nove continuaram funcionando normalmente. Houve queda de energia nos outros 11, mas geradores ligaram o sistema de refrigeração. O problema é que os geradores de três deles queimaram – e são justamente esses que estão causando problemas. Isso porque, mesmo quando o reator é desligado e a fissão nuclear cessa (quando o núcleo do átomo de urânio se divide em dois, liberando grande quantidade de energia), os produtos dessa reação continuam a emitir radiações que produzem calor. Se a temperatura ficar alta demais, o revestimento de metal que guarda o combustível radioativo pode derreter, liberando gases radioativos e hidrogênio – gás altamente inflamável que pode provocar explosões que danificam as paredes de contenção do reator e liberam radiação. Em caso de derretimento completo do metal, pílulas de combustível caem para o fundo do vaso de contenção do reator, podendo danificar as estruturas que impedem a radiação de escapar para o ambiente.

2- O que aconteceu em cada reator?

Três reatores (1, 2 e 3) sofreram explosões por causa de falhas no sistema de resfriamento. No reator 1, uma delas danificou o teto e a segunda parede de contenção do prédio. O reator 2 teve a primeira contenção danificada e está emitindo fumaça. O de número 3 é o que mais preocupa os técnicos por ser o único que utilizava uma mistura de urânio com plutônio, que é mais tóxico. A explosão que ocorreu ali na semana passada deixou 11 feridos e foi sentida a 40 km de distância da usina. Também está emitindo fumaça com partículas radioativas. O reator 4 estava desligado quando ocorreu o terremoto, mas uma explosão acabou danificando a piscina de resfriamento do material radioativo. Os reatores 5 e 6 também estavam desligados, mas a temperatura nas piscinas de resfriamento está subindo.

3- O que está sendo feito para evitar que o problema se agrave?
Técnicos evacuaram a área num raio de 20 km de distância da usina. Pessoas que vivem num raio de 20 a 30 km receberam a recomendação de permanecer dentro de casa e com as janelas fechadas para conter as partículas radioativas. Também está sendo injetada água do mar nos reatores. A água possui uma função dupla: 1) ajudar no resfriamento para evitar a decomposição da água e explosões decorrentes disso e 2) frear a disseminação de partículas radioativas suspensas no ar. Cabos de energia também foram reconectados para tentar reativar o sistema de refrigeração. Nos reatores 5 e 6, os técnicos também fizeram perfurações para liberar hidrogênio e evitar explosões.

4- O que a radiação pode provocar no corpo humano?
“Altas doses de radiação podem causar danos à medula óssea, ao trato gastrointestinal e ao sistema nervoso central, além de queimaduras na pele. Outra possibilidade é a ocorrência de efeitos que se manifestam anos após a exposição – o câncer, por exemplo”, explica Sandra Bellintani, especialista em radioproteção do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).

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5- A radiação pode atingir áreas distantes de Fukushima?
Especialistas franceses acreditam que a radiação chegará à Europa e existem até sites monitorando o ar na França. E, nos Estados Unidos, as pessoas já estão até comprando medicamentos para se proteger. Mas, para Laércio Antônio Vinhas, Diretor de Radioproteção e Segurança Nuclear da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), isso é um exagero. Segundo ele, para que a radiação chegasse à Europa seria preciso que os quatro reatores sofressem uma enorme explosão ao tempo, coisa que os técnicos consideram impossível. “A radiação só vai longe se houver uma quantidade muito grande de material radioativo na atmosfera, o que não é o caso”, diz ele. Na verdade, se a coisa continuar como está, nem mesmo Tóquio deveria se preocupar. “A radiação não deve chegar até lá. Hoje, os níveis de radiação ali estão iguais aos de antes do acidente”, completa Laércio.

6- Essa crise pode adquirir dimensões semelhantes às de Chernobyl?
“Considerando a situação atual, a possibilidade de um acidente como o de Chernobyl é extremamente reduzida”, afirma Laércio Vinhas. Para ele, na pior das hipóteses, a área impactada pela radiação ficará entre 40 e 60 km de distância das usinas, dependendo da direção do vento. Para começar, o acidente da Ucrânia ocorreu com o reator em funcionamento, o que elevou a potência da explosão. Em Fukushima os reatores estavam desligados. Além disso, o estrago foi enorme em Chernobyl porque a usina não possuía nenhuma blindagem. As usinas atuais têm paredes espessas de contenção. Chernobyl deixou mais de 25 mil mortos e contaminou mais de três quartos da Europa. “No caso do Japão, as doses de radiação divulgadas até o momento são baixas e não acarretariam os efeitos verificados em Chernobyl. Se a situação não sofrer uma brusca mudança, provavelmente teremos pouco danos em poucas pessoas”, afirma Sandra Bellintani.

7- Como a situação ainda pode evoluir?
A radiação já está contaminando alimentos e água no Japão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação está mais séria do que o previsto e o governo japonês proibiu a distribuição de leite e duas verduras vindos de Fukushima e três províncias vizinhas. A Tepco, operadora da usina de Fukushima, informou que foram encontrados níveis mais altos do que o normal de elementos radioativos na água do mar da região. Níveis de iodo 131 estão 126,7 vezes maiores que o limite estabelecido, os de césio 137 estão 16,5 vezes maiores e os de césio 134 estão 24,8 vezes mais altos. Será preciso avaliar se isso pode ter contaminado frutos do mar. A neve e a chuva que estão castigando a região carregam partículas radioativas do ar para o solo e a água, o que favorece a contaminação de alimentos.

8- Como as pessoas podem se proteger? E como é feito o tratamento de quem já se contaminou?
Fica proibido o consumo de água, vegetais, carne e leite vindos das áreas afetadas. Os s profissionais que estão trabalhando nas usinas devem usar roupas especiais e respeitar o limite de tempo permitido para permanecer no local. Pelo menos 20 funcionários da central nuclear de Fukushima estão contaminados, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea). Nesse caso, a pessoa recebe um tratamento que dependerá do elemento radioativo que foi incorporado, visando fazer com que esse ele saia do corpo o mais rápido possível. No caso de contaminação por iodo, usam-se pastilhas de iodo não-radioativo, que é absorvido pela tireóide. Estando “satisfeito” com ele, o corpo não absorve iodo da atmosfera. No caso de contaminação por Césio (Cs-137), usa-se o azul da Prússia (Ferrocianeto Férrico), que promove a excreção do elemento pelo corpo.

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9- O que acontecerá com a usina de Fukushima?
Uma vez que jogaram água do mar nela, a usina perdeu sua utilidade e deverá ser desmontada e, talvez, enterrada sob areia e concreto para proteger o ambiente de contaminação. E o prejuízo financeiro será bem grande. Laércio Vinhas acredita que será da ordem de dezenas de bilhões de dólares.

Como funciona uma usina nuclear?

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