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A beleza acessível das Nuvens de Magalhães

Características das galáxias que podem ser vistas a olho nu no mês de janeiro.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h49 - Publicado em 31 dez 1991, 22h00

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Uma das principais atrações das noites de janeiro, facilmente visíveis a olho nu, a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães são duas galáxias satélites da Via Láctea. Ambas situam-se nas vizinhanças do pólo sul celeste e estão extremamente próximas da Terra, pelo menos em termos cósmicos. A primeira localizada entra as constelações de Dorado e Mesa, dista 180000 anos-luz (um ano-luz mede cerca de 10 trilhões de quilômetros. A própria Via Láctea, galáxia onde ficam o Sol e a Terra, tem um diâmetro de 100000 anos-luz). No céu, a Grande Nuvem tem dimensão aparente de 6 graus, algo como a Lua cheia. Já a pequena Nuvem, junto à Constelação do Tucano, encontra-se a 150000 anos-luz e tem dimensão aparente de 3 graus. 

Por se parecerem com manchas difusas, essas galáxias são classificadas de irregulares. Contêm grande quantidade de estrelas azuis, jovens, entre as quais existe volume incomum de gás; de fato uma liga-se à outra por meio de um tênue massa de hidrogênio. Mais do que isso; em 1985, o astrônomo alemão W. E. Kunkel descobriu um verdadeiro bando de estrelas desgarradas – em vez de girar com o conjunto de estrelas das galáxias, elas estendiam-se como uma ponte no vazio existente entre a Pequena e a Grande Nuvem. Na região estudada, a meia distância entre os centros ópticos das Nuvens, registraram-se nada menos de 120000 astros, cuja idade, acredita-se, não superar 100 milhões de ano (o Sol, em comparação, é 50 vezes mais velho). 

Uma importante fonte de informações sobre o Universo, justamente por serem tão próximas, essas vizinhas da Via Láctea foram descortinadas pelos navegantes que há 500 anos cruzaram o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. Por isso, teriam sido chamadas inicialmente de Nuvens do Cabo. É o que diz o escritor Pedro Mártir de Anghiera, que viveu na Itália entre 1459 e 1526. Seja como for, acabou prevalecendo o nome atual, homenagem ao descobridor português Fernão de Magalhães (1480-1521), o primeiro a descrever os novos objetos celestes. Um outro navegador, o italiano Francisco Antônio Pigafetta (1491-1534), menciona tal descrição no livro Primo viaggio intorno al globo terráqueo (primeira viagem em torno do globo terrestre). 

Muito tempo depois desse período heróico, já em 1912, deu-se a primeira grande contribuição das chamadas galáxias magalânicas para conhecimento do Universo. A história começou com o estudo da astrônoma americana Henrietta Leavitt sobre as variáveis cefeída, curiosas estrelas, cujo brilho oscila regularmente entre um máximo e um mínimo. Estudando as cefeídas da Pequena Nuvem, Leavitt descobriu, simplesmente, que o período de oscilação permitia calcular o brilho próprio das estrelas. Como eesse brilho, visto da Terra, diminui conforme a distância do astro, estavam estabelecidas as bases para se medir o Cosmo. Onze anos mais tarde, o americano Edwin Hubble (1889-1953) analisou o mapa das galáxias mais próximas e formulou a idéia revolucionária de que o Universo está em expensão.

Mais recentemente, a Grande Nuvem propiciou um avalanche de novas informações crucias por meio da supernova 1987 A, a mais próxima avistada nos últimos 400 anos. A supernova é uma das vias pelas quais os astros encerram sei ciclo vital na forma de espetaculares explosões. O apocalíptico evento de 1987 modificou o conceito até então vigente de que as supernova resultavam da agonia de estrelas supergigantes vermelhas, pois atingiu, em vez disso, uma supergigante azul. Na realidade, pela primeira vez se pôde estudar um fenômeno desse tipo com ajuda de moderna tecnologia – explosões estelares anteriores foram observadas a olho nu, ou, na melhor das hipóteses, com lunetas rudimentares. 

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Como última palavra, vale dizer que a ciência não é a única atração das Nuvens de Magalhães. Elas são, por si só, um dois mais belos objetos celestes e, além disso, contêm formações estelares muito interessantes – como a nebulosa da Tarântula, vizinha de Sanduleak, o astro que produziu a supernova 1987 A. A Tarântula é um grupo estelar tão vasto que se estivesse situado na Via Láctea – por exemplo, a cerca de 1000 anos-luz, distância da nebulosa de Orion – ocuparia uma área de 30 graus de diâmetro e seu brilho global seria várias vezes superior ao do planeta Vênus.

 

 

Eventos do mês

Constelações

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Estarão visíveis a partir do 15, às 20 horas, Touro, Perseu, Triângulo, Áries, Andrômeda, Pégaso, Peixes, Baleia, Aquário, Peixe Austral, Grou, índio, Pavão, Tucano, Oitante, Ave do Paraíso, triângulo Austral, Cruzeiro do sul, Mosca, Peixe Voador, Vela, Popa, Pinto, Dourado, Pomba, Cão Maior, Lebre, Erídano, Orion, Cão Menor, Cocheiro, Câncer e Hidra Fêmea.

Meteoros

Um período de reduzida atividade. A máxima das Canis Majóridas, no dia 2, ocorrerá a um taxa de cinco meteoros por hora. Irradiando-se a partir da Constelação do Cão Maior, eles estarão junto ao zênite a 1h20. No dia 5, haverá espetáculo duplo. Primeiro porque os Alfa Hídricas passam junto ao zênite, com radiante na estrela alfa da Hidra e taxa horária de quatro meteoros (mas suas atividade máxima já terá passado desde o dia 12 do mês passado). No mesmo dia, no entanto, estarão em máxima os Betas Córvidas, com a taxa horária de seis meteoros. De resto, não esquecer que as estrelas cadentes são visíveis com mais facilidade longe de luzes ofuscantes.

Fases da lua Nova, dia 4, às 20h10; quarto crescente, dia 12, às 23h32; cheia dia 19, às 18h28; quarto minguante, dia 26, às 12h27. A luz cinzenta poderá ser observada entre os dias 4 e 6. A Lua é uma boa referência para encontrar os planetas: ela estará ao sul de Vênus (dia 1º), de Mercúrio (dia 2), de Marte (dia 3), de Saturno (dia 6), de Júpiter (dia 22), e novamente de Vênus (dia 31).

 

 

Planetas

Mercúrio: melhor observá-lo antes do amanhecer, junto a Sagitário, e, no dia 10, ao norte e muito próximo de Marte. Terá magnitude + 0,6 (quanto maior a magnitude, menos o brilho; a magnitude de Sírius, a estrela mais brilhante é – 1,46).

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Vênus: visível antes do amanhecer junto ao nascente e a Sagitário (magnitude – 4). Em 1º de janeiro, estará em conjunção com Saturno.

Marte: visível antes do amanhecer junto a Ofiúco (magnitude + 1,4).

Júpiter: visível em Leão durante quase toda a noite (magnitude – 2,4). Está a caminho da opisição ao Sol, onde chegará a 28 de fevereiro.

Saturno: ao contrário dos outros, aparecerá ao entardecer, no início do mês, junto a Capricórnio e bem baixo no horizonte (magnitude + 0,6).

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Urano: observa-lo com luneta junto a Sagitário, antes do amanhecer, no fim do mês (magnitude + 5,8).

Netuno: praticamente invisível por fazer conjunção com o Sol no dia 7; mais para o fim do mês, observá-lo com a luneta junto a Sagitário, antes do amanhecer (magnitude + 8).

Periélio: no dia 4, a Terra alcançará a menor distância do Sol.

 

 

 

 

 

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