A mulher das cavernas
Arqueóloga diz que o Brasil pode ter sido a porta de entrada do homem na América
Alessandro Meiguins
Como foi que o homem chegou à América? Para a maior parte dos cientistas, essa é uma pergunta simples: a porta de entrada foi o Alasca, por onde passaram os nômades asiáticos que há cerca de 17 mil anos atravessaram uma grande geleira onde hoje está o estreito de Bering. Desde os anos 50 essa é a hipótese oficial. Mas não a única. Outra idéia é defendida por Niéde Guidon, uma das mais ativas arqueólogas brasileiras, e certamente a mais polêmica. Até há pouco tempo, Niéde dizia que o homem estava na América há 57 mil anos – por isso era menosprezada pela comunidade científica. Agora, ela atualizou seus estudos, com base em análises da Universidade do Texas. E mudou de idéia. “O homem primitivo vive no continente há muito mais tempo: 100 mil anos”, diz.
Essa análise foi baseada nas mesmas amostras que antes eram datadas em 57 mil anos: lascas de fogueira encontradas por Niéde no Boqueirão da Pedra Furada, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí – que sempre foram objeto de descrença por arqueólogos norte-americanos. A comprovação e o aumento da idade desses artefatos são um trunfo que Niéde pretende utilizar para que cientistas do mundo todo debatam uma nova hipótese para a ocupação das Américas. “O homem primitivo também pode ter vindo para a América do Sul diretamente da África. Com isso, seriam africanos, e não asiáticos, os verdadeiros ancestrais do continente. Eles teriam chegado até aqui navegando numa época em que o Atlântico tinha nível mais baixo e era repleto de ilhas, o que tornava a travessia bem mais fácil”, diz a arqueóloga.
Para reforçar suas idéias, Niéde cita recentes descobertas no México e na costa leste americana, todas com mais de 30 mil anos – e bem longe do Alasca. Além disso, existem correntes marítimas no oceano Atlântico que passam pela costa africana e vêm direto para o nordeste do Brasil e ilhas caribenhas. Recentemente, pescadores africanos perderem suas velas numa tempestade e chegaram 3 dias depois ao Brasil, trazidos pelo mar. Famintos e com sede. Mas vivos.