A nossa alma magnética
Campo de força da Terra cria uma bolha que protege o planeta do vento solar.
Spensy Pimentel
Em qualquer filme de ficção científica, as espaçonaves costumam ter um campo de força para se defender dos ataques de alienígenas. Pois saiba que a Terra também tem uma proteção invisível desse tipo. E ela é magnética. Esse escudo protege o planeta de uma radiação nociva formada por partículas emitidas pelo Sol, chamadas de vento solar.
“A Terra possui uma alma magnética”, descreveu em 1600 o inglês William Gilbert, primeiro cientista a estudar o fenômeno. Foi ele também quem comparou o planeta a um gigantesco ímã, o que explicaria o funcionamento das bússolas. Gilbert nunca conseguiu provar sua teoria, mas estava no caminho certo: a Terra tem um campo magnético ao seu redor, formado por dois pólos que não coincidem com os geográficos.
Hoje, a ciência sabe que esse campo magnético tem origem numa área próxima ao centro da Terra. Entre 2 900 e 5 200 quilômetros de profundidade, há um fluido metálico constituído principalmente de ferro. Ele está em constante movimento, graças à rotação da Terra, a variações de temperatura e ao atrito com partes sólidas. “Esse fluido se comporta como o ar da atmosfera ou a água dos oceanos”, compara o professor Igor Pacca, do Instituto Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo. “Essa movimentação forma uma corrente elétrica que acaba gerando o campo magnético terrestre.”
Tempestade colorida
As auroras polares são deslumbrantes, mas já inspiraram pânico ao longo da história da humanidade. Os habitantes da Califórnia, nos Estados Unidos, viram o céu avermelhado em 1941 e imaginaram ser um ataque dos japoneses. Erro parecido foi cometido pelo imperador romano Tibério (42 a.C.-37 d.C.), que confundiu a ocorrência de uma aurora polar com as luzes de uma cidade em chamas. Batizadas por Galileu Galilei de aurora boreal (de Bóreas, deus grego do vento norte), mais tarde descobriu-se que o fenômeno também acontece no hemisfério sul – nesse caso, é chamada de aurora austral.
Quem tirou as auroras do terreno da superstição foi o astrônomo inglês Edmond Halley (1656-1742), que associou o fenômeno ao magnetismo terrestre. Formadas logo após os períodos de grande atividade no Sol – as chamadas tempestades solares –, elas são resultado de uma chuva de partículas subatômicas atraídas pelos pólos magnéticos da Terra.
O vento solar reage com o oxigênio e o nitrogênio livres na alta atmosfera, 100 quilômetros acima de nossa cabeça. As partículas aceleradas emitem luzes coloridas, como se estivessem em um tubo de televisão, liberando energia da ordem de 1 milhão de watts. Com essa superprodução, os efeitos especiais são bem mais interessantes do que na telinha da TV.
Quem sabe é super
Quando ocorre um súbito brilho na superfície do Sol, fenômeno conhecido como erupção solar, os astrônomos sabem que 20 a 40 horas depois acontecerá uma aurora polar no norte do Canadá, onde fica o pólo magnético da Terra.
Guarda-chuva planetário
O campo magnético protege a Terra do vento solar.
1. Uma parte do vento solar que atinge a Terra chega aos pólos, onde se forma uma espécie de funil magnético. As partículas chegam com muita energia, a uma velocidade de 1,4 milhão de quilômetros por hora.
2. Ao chegar às camadas mais altas da atmosfera, as partículas colidem com o ar, transformando toda a energia em luz. Essa reação cria os efeitos conhecidos como aurora polar.
3. As partículas do vento solar que atingem as regiões próximas ao Equador ficam retidas numa área do campo magnético chamada Cinturão de Van Allen, a uma altitura entre 1 000 e 60 000 quilômetros.