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A saga das cigarras

Você anda ouvindo o zumbido desses insetos mais alto do que nunca? Nossa leitora resolveu investigar por que nossas cidades estão sendo invadidas por esse barulhento bichinho.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h06 - Publicado em 16 out 2015, 16h45

Texto enviado por Margarida Hallacoc, leitora da SUPER, diretamente de Varginha, MG

Diz a lenda atribuída a Esopo e recontada por La Fontaine que a formiga, precavida, trabalhava em silêncio enquanto a cigarra cantava demais. E põe canto nisso. Os dias e noites quentes da primavera são de deleite puro para a espécie e a alegria é tanta que incomoda muito gente – além das formigas.

Andar por aí nestas tardes primaveris, em muitas das nossas ruas e praças, é sinônimo de estar disposto (ou nem tanto) a ouvir a sinfonia estridente de centenas de cigarras, além de levar surpreendentes chuveiradas de xixi delas na cabeça.

Mas de onde vem tanta cigarra com tanta disposição para o canto? É impressão ou a praga aumentou nos últimos anos?

Não, não é impressão. É fato. O número de cigarras esguelhando nestas tardes quentes de primavera aumentou – e a altura do seu canto também.

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Na verdade, são vários os fatores que contribuíram para isso. Nossas cidades foram arborizadas com árvores que são hospedeiras das cigarras. Quem as plantou escolheu as espécies pela beleza da copa, pelo porte das árvores, pelas flores e pela sombra que proporcionariam. O quesito “casa de cigarras” foi percebido depois que a coisa ficou feia. O ambiente urbano também atraiu os insetos por outro motivo. “No meio rural, as noites de lua cheia e calor são noites de cantoria das cigarras por causa da claridade. Como nas cidades toda noite é clara, a cigarra se confunde com tanta luz e segue cantando a todo vapor por noites a fio”, diz o biólogo Marcos Pelosoa.

Tudo isso junto transformam nossas cidades em verdadeiros paraísos para o inseto – sem falar no detalhe mais favorável da vida urbana: o privilégio de estar bem longe dos seus predadores naturais. Sem macacos-pregos, gaviões carcarás e anús-brancos à vista, as cigarras declaram as copas dos ipês e cibipurunas de nossas praças e avenidas como sendo seus quartéis generais. E dá-lhe xixi na cabeça das visitas indesejadas. 

A hora é agora

O mês de outubro e o início de novembro é o tempo de acasalamento das cigarras. Quanto mais agudo e marcante for o canto do macho, mais chances ele tem de impressionar alguma fêmea e atraí-la. O agrônomo e pesquisador do Instituto Pró-Café, na cidade de Varginha (MG), André Luiz Alvarenga Garcia, explica que o ruído emitido pelo som das cigarras pode chegar a até 120 decibéis – mais alto, por exemplo, do que o som emitido por uma viatura da polícia. É tão irritante que a própria cigarra tem um mecanismo para proteger os seus ouvidos do som que emite.

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Peloso explica que nesta época do ano a cigarra está por todo lado. Na região do Sul de Minas o inseto é considerado uma praga por atacar as plantações de café. Em lavouras infestadas por cigarras, o pé de café vai perdendo o viço, secando aos poucos até a morte da planta. As cigarras só cantam na fase final do seu ciclo de vida. “O período em que se põem a cantar é um tempo breve da vida das cigarras adultas, quando estão se acasalando. Bem antes disso, já viviam nas árvores, no cafeeiro, sugando a seiva de que precisam para se alimentarem”, diz.

Longe das cidades, depois de mortas e caídas no chão, as cigarras viram petiscos disputados por tatus, gambás e tucunarés, que costumam ficar na espreita das árvores curvadas sobre os rios onde cantam as cigarras. O próprio canto é interpretado como um sinal de comida à vista e os peixes esperam pacientemente pelo momento em que elas vão “estourar” de tanto cantar e despencar lá de cima para virar refeição. Como não há predadores naturais na cidade, as cigarras caídas ficam pelo chão, incomodando. Em locais próximos a rios, pesqueiros, moleques catam nas praças, litros de cigarras para vender a pescadores como isca.

Como não podia deixar de ser, a cigarra também tem a sua correlação com algumas das crendices populares. Como a crença de que as cigarras começam a cantar exatamente no dia em que se inicia a Primavera e só calam a boca à meia noite do dia 1º de novembro. À razão seria em “respeito” ao Dia de Finados, 2 de novembro. Há quem diga o contrário: que o Dia de Finados foi instituído justamente nesta data por ser um dia marcado pelo silêncio, o das cigarras, inclusive. Na dúvida de quem surgiu primeiro, se o ovo ou a galinha, cabe às cigarras aproveitar o pouco tempo que ainda lhes restam.

Você também tem uma história legal para contar? Aconteceu alguma coisa incrível na sua vida, na sua cidade ou com alguém que você conhece? Envie seu texto para superleitor@abril.com.br e quem sabe você aparece por aqui também!

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