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Acidentes com barragens são um problema mundial e recorrente – que está piorando

De 67 acidentes graves com barragens entre 1940 e 2010, 33 ocorreram da década de 1990 em diante.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
5 fev 2019, 18h51

Em 19 de julho de 1985, uma represa de rejeitos de mineração de 180 mil metros cúbicos (m3) se rompeu no sopé dos Alpes, no norte da Itália. A lama se derramou sobre Stava, um vilarejo de 20 prédios na província de Trento. 268 pessoas morreram; 20 sobreviveram, ainda que feridas. Esse é, pelo menos até agora (5 de fevereiro de 2019), o maior desastre com barragem de mineração na história – Brumadinho, ao final da contagem de corpos, provavelmente vai superá-lo (no momento, são 134 mortos e 199 desaparecidos). 

A onda de lama de Stava tinha 250 metros de largura e, de acordo com os sobreviventes, fez um ruído grave e retumbante, como o da detonação de explosivos. Em alguns pontos, no auge da inundação, o vilarejo ficou a 14 metros de profundidade.

É curioso notar que uma barragem cuja capacidade era uma fração minúscula dos 12 milhões de m3 de Brumadinho (mais precisamente 1,5%) causou um número de mortes parecido. A quantidade de lama não tem relação direta com o número de mortos. Naturalmente, já que isso depende da densidade demográfica do local em que o acidente ocorre. Mariana, com seus mais de 40 milhões de metros cúbicos, deixou 19 mortos. Outro dessa magnitude só aconteceria novamente em 2008, quando uma represa de resíduos de minério de ferro estourou em Linfen, na China, deixando 254 mortos.

Um artigo científico de 2012 analisa o caso italiano e afirma que “o impacto na população local teve mais a ver com a ausência de um arcabouço legislativo para regular as instalações de mineração do que uma falta de entendimento dos fatores básicos que levaram à falha catastrófica.” Em outras palavras: havia tecnologia para evitar o problema. Faltou usá-la. 

Como solução, nas palavras dos autores, se propõe “uma legislação ambiental que limite as consequências adversas de barragens de rejeitos provendo um ambiente regulado, em que a segurança e o bem-estar da área próxima possa ser equilibrado com os benefícios econômicos das operações de mineração.” Ou, em bom português, forçar as mineradoras a pensar no bem-estar das pessoas e do meio ambiente ao redor das minas.

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34 anos depois, nem todo mundo aprendeu a lição, pois algo similar ocorreu no Brasil, pelos mesmos motivos. De fato, acidentes com barragens de rejeitos são relativamente comuns, e estão cada vez piores. De acordo com este relatório, 33 dos 67 acidentes graves com barragens entre 1940 e 2010 ocorreram da década de 1990 em diante. Ou seja: as barragens estão mais perigosas a cada dia que passa, e não menos. Entre 1990 e 2010, ocorreram 33 acidentes considerados graves ou muito graves. O desenvolvimento tecnológico não está se convertendo em maior segurança. 

De acordo com a Bowker Associates, uma consultoria de gestão de risco em construção pesada, a década entre 1955 e 1965 contabilizou 6 milhões de m3 em vazamentos desse tipo. Entre 2005 e 2015, com Mariana na conta, foram 107 milhões de m3. E a década entre 2015 e 2025, de acordo com a consultoria americana, deverá fechar em 123 milhões de m3. Entra nessa conta lama resultante da exploração de diferentes materiais: ouro, cobre, manganês…

Os casos mais recentes, apesar de graves, não chegam aos pés dos volumes liberados em Brumadinho e Mariana. A mina de Cieneguita, em Urique, no México, rompeu em 4 de junho de 2018, deixando três mortos, dois feridos e quatro desaparecidos, e liberando uma quantidade de lama ligeiramente maior que a do acidente na Itália na década de 80 – 250 mil m3. O caso praticamente não foi noticiado fora do país. 

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Em 4 de agosto de 2014, na província de Columbia Britânica, no Canadá, 7,3 milhões de metros cúbicos de lama escaparam de uma barragem na mina Mount Polley, operada pela Imperial Metals Corp. Apesar do volume massivo – equiparável ao de Brumadinho – ninguém se feriu. A empresa operava a barragem acima da capacidade considerada segura desde 2011. E esses são apenas dois exemplos – de 2010 até hoje, ocorreram 26 acidentes com barragens ao redor do mundo, de diferentes graus de impacto ambiental e humano.

 

 

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