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Alpinistas escalam até o topo do Everest em cinco dias usando gás xenônio

Ele acelera em semanas o processo de aclimatação ao ar rarefeito. Método, porém, traz riscos – e foi rechaçado pela comunidade de montanhistas.

Por Manuela Mourão
5 jun 2025, 08h13

Cerca de 7 mil pessoas já chegaram ao topo do Monte Everest, e a maioria precisou de pelo menos dois meses para se aclimatar com a montanha. É que a sobrevivência começa muito antes do cume: trata-se de um processo tedioso e exaustivo de se acostumar ao ar rarefeito.

A escassez de oxigênio pode causar inchaço cerebral, insuficiência pulmonar – e a morte. Isso sem contar com os anos de preparo físico que subir a maior montanha do mundo exige. Haja fôlego.

Agora, um grupo de alpinistas britânicos fez o impensável: realizou o caminho do acampamento-base ao cume em menos de três dias. A viagem total, de Londres ao Himalaia, ao topo do monte e de volta para a base durou menos de uma semana.

O feito não é milagre. Na verdade, o truque é bem simples. O grupo, composto por quatro montanhistas, inalou xenônio (Xe), um gás nobre da nossa tabela periódica.

Esse gás é inodoro, inerte e mais conhecido por seu uso na anestesia. O xenônio há anos intriga cientistas por sua capacidade curiosa de ativar o fator induzível por hipóxia – uma espécie de interruptor molecular que o corpo aciona quando é exposto a ambientes com pouco oxigênio.

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“O que essas pessoas afirmam ter feito foi basicamente encontrar uma maneira de ativar a adaptação aos baixos níveis de oxigênio — sem nunca precisar ir à altitude”, explicou Hugh Montgomery, professor de medicina intensiva na University College London e alpinista que já liderou uma expedição ao Everest para estudar como os humanos respondem à hipóxia.

Médicos já haviam experimentado o xenônio para “pré-condicionar” pacientes antes de grandes cirurgias, como procedimentos cardíacos, nos quais a privação de oxigênio é um risco. Mas a prática nunca se popularizou. “Não se mostrou tão protetiva quanto gostaríamos”, observou Montgomery para o jornal New York Times.

Em janeiro, a Federação Internacional de Escalada e Montanhismo disse em uma declaração que não há provas que mostrem que o gás xenônio melhorasse o desempenho no esporte, acrescentando que “o uso inadequado pode ser perigoso”. Acrescentou também que “de acordo com a literatura, os efeitos no desempenho não são claros e provavelmente inexistentes”, acrescentou a federação. Além disso, a automedicação com xenônio envolve riscos sérios. O gás funciona como anestésico e uma dose excessiva pode levar à perda de consciência, lesões ou até morte. 

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Ainda assim, o grupo britânico seguiu em frente. Dez semanas antes de pisar no Nepal, eles começaram a dormir em tendas hipóxicas: uma ferramenta cada vez mais comum entre alpinistas de elite, que simula as condições de alta altitude ao reduzir a quantidade de oxigênio no ar de barracas. Duas semanas antes da partida, os montanhistas voaram até Limburg, na Alemanha, onde visitaram o médico Michael Fries, que vinha experimentando o uso de gases inalados em sua clínica nos arredores de Frankfurt.

Lá, os alpinistas colocaram máscaras conectadas a ventiladores, enquanto um anestesiologista introduzia lentamente concentrações crescentes de xenônio em seus sistemas. A ideia: induzir, de forma antecipada, a adaptação natural do corpo à privação de oxigênio, antes mesmo de chegarem às encostas do Everest.

Quando chegaram ao acampamento-base, pularam as tradicionais semanas de subidas e descidas para aclimatação. Em vez disso, partiram direto para o cume.

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Deu certo. Ou, pelo menos, funcionou o suficiente. Essa foi uma das subidas mais rápidas já feitas por um grupo sem aclimatação na montanha. Para efeito de comparação, o recorde absoluto de velocidade continua sendo de Lakpa Gelu, da etnia sherpa do Himalaia, que subiu até o topo em pouco menos de 11 horas. 

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A estratégia dos britânicos não foi bem vista pela comunidade de alpinistas nem pelo governo local. O diretor do departamento de turismo do Nepal, Himal Gautam, responsável por regulamentar expedições nas montanhas do país, disse em uma entrevista que usar o gás era “contra a ética da escalada e que prejudicaria a indústria do turismo do país e os sherpas que ajudam os escaladores, reduzindo seu tempo na montanha”.

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Ao Times, Montgomery acrescenta que “será mesmo que é uma boa ideia que todos possamos ter o que queremos, quando queremos, tão rápido quanto queremos? Será que estamos perdendo o sacrifício que às vezes é preciso fazer para alcançar a conquista?”.

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