Bárbara Axt
Se Noé fosse repovoar a Terra hoje, não precisaria lotar um barco com um monte de animais. O bíblico velhinho poderia fazer igual um grupo de cientistas ingleses: estocar o código genético de todas as espécies do planeta em câmaras geladas, para preservar informações sobre os animais enquanto ainda dá tempo.
Pois é: nos últimos 500 anos, 820 espécies ou já foram extintas ou só existem em cativeiro. E outras 12 259 correm o risco de seguir o mesmo caminho, pelo menos segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza. Só as mudanças no clima esperadas para os próximos 30 anos, acredita-se, poderiam dizimar um quarto dos mamíferos e 10% dos pássaros. Uma bomba-relógio.
O projeto dos ingleses, enfim, ganhou o nome de Arca Congelada e vem sendo tocado desde julho pela Universidade de Nottingham, no Reino Unido, junto com o Instituto de Zoologia e o Museu de História Natural de Londres. O biólogo Bryan Clarke, um dos participantes, explica que o Arca não é um projeto de conservação, mas uma solução de reserva para o caso de todos os esforços ambientais darem com os burros n`água. Ele também abre a possibilidade de usar os genes para trazer animais de volta na forma de clones. Mas essa não é uma prioridade do grupo.
De qualquer forma, cuidado com o material genético é o que não falta. Para impedir que algum acidente afunde o projeto, as amostras serão duplicadas e armazenadas em lugares diferentes. Excesso de zelo? Longe disso. Para o cientista-chefe da Agência Espacial Européia, Bernard Foing, o Arca tem de estar preparado para qualquer desgraça. Ele acredita que as amostras de DNA devem ser mandadas à Lua, para o caso de algum asteróide mortal atingir a Terra ou de uma guerra nuclear. Dar uma de Noé no século 21 não é pra qualquer um.
Passaporte carimbado
Alguns dos quase-extintosjá garantidos na arca
Pomba Socorro (Zenaida graysoni)
Faz juz ao nome. Foi exterminada do seu habitat natural, um arquipélago no México, depois que introduziram gatos domésticos por aquelas bandas. Agora existem menos de 100 no mundo, todas em cativeiro
Órix de Cimitarra (Orix dammah)
Os pastos em que esse bicho “antenado” vivia na África foram ocupados por gado. E ele desapareceu de sua terra natal. Espécimes criados em zoológicos estão sendo readaptados para a vida selvagem
“Galinha” da Montanha (Leptodactylus fallax)
Galinha é só o apelido desse azarado sapo. Ele sobrevive em duas ilhas do caribe: Montserrat e Dominica, onde virou um prato popular. Para completar, sofre com fungos que atacam sua pele
Cardinal Bangai (Pterapogon kauderni)
Vive em uma área pequena –os corais das ilhas Bangai, na Indonésia –, e é requisitado como peixe de aquário, já que se adapta bem à vida em cativeiro. Essa combinação pode fazê-lo sumir do seu habitat
Lista dos animais em perigo de extinção https://www.redlist.org