As grandes viajantes
Após visitar 4 planetas, as sondas Voyager se tornaram o maior símbolo de quão espetacular pode ser a exploração com robôs
Viajante é apelido. As duas sondas Voyager lançadas pela Nasa são a coisa mais próxima que o programa espacial já teve de um “mochileiro das galáxias robótico”. Juntas, as duas naves estiveram em 4 planetas e visitaram 48 luas. E quem disse que elas se cansaram? Ambas estão até hoje mandando dados para a Terra, dos confins do espaço, em busca das fronteiras do sistema solar.
A aventura começou em 20 de agosto de 1977, quando a Voyager 2 foi lançada do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. A Voyager 1 foi lançada mais tarde, em 5 de setembro. Mas, posta numa rota mais rápida, foi a primeira a chegar a Júpiter, o maior planeta do sistema solar, seguindo a trilha deixada pelas sondas Pioneer 10 e 11, lançadas alguns anos antes. Mas as ambições dessa vez eram muito maiores.
O lançamento coincidiu com um alinhamento planetário que só ocorre uma vez a cada 175 anos. Ele permitiu que, uma vez que Júpiter fosse atingido, sua atração gravitacional colocasse a sonda a caminho de Saturno. O planeta dos anéis, por sua vez, desviaria a sonda na direção de Urano, e Urano despacharia a sonda para Netuno. Ou seja, era a chance de fazer um “grande tour” do sistema solar exterior.
Em Júpiter
As sondas chegaram lá em 1979. A Voyager 1 fez seu sobrevoo do planeta em março. Já a Voyager 2 chegou em julho. Foram detectados discretos anéis ao redor do planeta, e várias observações foram feitas da dinâmica atmosférica joviana. A maior surpresa foi a descoberta de vulcões ativos na lua Io, além de uma suspeita de que Europa, outra lua, pudesse ter um oceano de água sob a crosta de gelo.
Em Saturno
A Voyager 1 chegou em novembro de 1980. Fez observações dos famosos anéis, além de dar uma boa espiada na lua Titã. Dali, a sonda foi colocada numa rota para fora do sistema solar. Já a Voyager 2 chegou a Saturno em agosto de 1981 e fez excelentes observações da atmosfera do planeta, mostrando diferenças provavelmente sazonais de temperatura e dando informações detalhadas de sua composição.
Em Urano
Até hoje, apenas a Voyager 2 foi até lá. A imensa maioria do que sabemos sobre Urano veio dessa breve visita, ocorrida em janeiro de 1986. E os achados foram muitos. Para começar, a sonda descobriu 10 novas luas uranianas. A sonda também estudou o sistema de anéis de Urano, revelando detalhes dos que já eram conhecidos e detectando dois novos aros de poeira ao redor do planeta.
Em Netuno
A Voyager 2 também foi a única sonda até hoje a visitar o planeta Netuno. Em agosto de 1989, a sonda passou a apenas 4 950 km do polo norte netuniano. Além de ajudar a caracterizar a atmosfera de Netuno, similar à de Urano, a Voyager 2 fez observações espetaculares de Tritão, a maior das luas netunianas. Objeto complexo, ele parece ser “primo” de Plutão e outros objetos que ficam em órbitas além de Netuno.
Missão interestelar
As duas sondas Voyager foram projetadas para funcionar no mínimo 5 anos. Ninguém esperaria que hoje, mais de 30 anos depois, elas ainda estivessem em operação. Mas estão. Movidas por uma bateria de plutônio (sim, elas usam energia nuclear!), as espaçonaves viajantes continuam a enviar dados. Sem outros objetos para fotografar, o trabalho das sondas consiste em observar basicamente partículas de radiação. O objetivo é determinar em que ponto termina a influência do vento solar e a radiação vinda de outras estrelas começa a tomar conta. Literalmente, é a busca pela fronteira que separa o sistema solar do espaço interestelar.