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Bactérias geneticamente modificadas podem decompor plástico nos oceanos

O microorganismo combina características de duas espécies e consegue comer PET. Entenda.

Por Caio César Pereira
18 set 2023, 18h09

Um estudo divulgado na última quinta (14) pode ser um passo importante para diminuir a poluição de plástico nos oceanos. Pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA, criaram um microorganismo que consegue decompor em água salgada, o polietileno tereftalato – para os mais íntimos, PET.

Os cientistas combinaram habilidades únicas de duas bactérias diferentes: a Vibrio natriegens, que tem uma rápida capacidade de reprodução e consegue viver em ambientes de água salgada; e a Ideonella sakaiensis, que produz enzimas que decompõem o PET.

O que eles fizeram, então, foi pegar a habilidade de decompor plástico da I.sakaiensis e colocar na na V.natriegens. Como? Por meio de plasmídeos. Vamos explicar.

As bactérias podem apresentar em suas células dois tipos de DNA. O primeiro é o cromossômico, uma grande sequência de DNA espalhada pelo “corpo” da bactéria, que contém praticamente todas as informações que compõem o organismo. O segundo tipo é o que chamamos de plasmídeo. Eles nada mais são do que pequenas moléculas circulares de DNA, que também podem se replicar, mas de forma independente do cromossômico. 

Os cientistas, então, pegaram um plasmídeo da bactéria I.sakaiensis, contendo os genes da enzima comedora de PET, colocaram V.natriegens e voilà. Pode parecer simples, mas essa foi a primeira vez que pesquisadores conseguiram criar um organismo geneticamente modificado para conseguir decompor o plástico em água salgada. 

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A humanidade já produziu 9 bilhões de toneladas de plástico. E 90% disso está em lixões e oceanos – onde demoram centenas de anos para se decompor. Para Nathan Crook, professor assistente de engenharia química e biomolecular na Universidade Estadual da Carolina do Norte (e um dos autores do estudo), o resultado pode ajudar a lidar com a poluição em ambientes marinhos (o PET é um dos microplásticos mais comuns).

“Uma opção é retirar o plástico da água e colocá-lo em um aterro, mas isso apresenta desafios próprios. Seria melhor se pudéssemos decompor esses plásticos em produtos que possam ser reutilizados. Para isso funcionar, você precisa de uma maneira econômica de decompor o plástico. Nosso trabalho aqui é um grande passo nessa direção.”

De acordo com os pesquisadores, o próximo passo envolve incorporar o gene da enzima da I.sakaiensis diretamente no DNA cromossômico da V.natriegens, de forma que sua replicação seja mais estável. Dessa forma, as próximas gerações da bactéria poderão levar o gene comedor de plástico com mais facilidade.

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Além disso, os pesquisadores querem modificar a V.natriegens para que a sua decomposição do PET produza outros subprodutos. O objetivo é utilizar a habilidade de decompor PET da bactéria como uma forma de reciclagem. Ao fazer com que a bactéria coma o PET, os produtos gerados podem servir de matérias-primas úteis para a indústria química, por exemplo. 

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